Após seus negócios sofrerem um revés com a proibição do amianto,
material com potencial cancerígeno até então usado na produção das
telhas que a deixaram conhecida, a Eternit (BOV:ETER3) passou por
um processo de retomada com o uso de novos materiais e, hoje, já
planeja aquisições.
De 2016 a 2017, a empresa chegou a ver seu prejuízo líquido
explodir de R$ 7,7 milhões para R$ 276,3 milhões. Com uma dívida de
mais de R$ 200 milhões e sem condições de pagá-la, a saída foi
entrar com pedido de recuperação judicial no ano seguinte.
Para reverter a situação que levou o negócio à beira da
falência, a companhia apostou então no fibrocimento, um material
composto por cimento, água e fibras de reforço, que passaram a ser
sintéticas em substituição ao amianto. A empresa também entrou no
mercado de telhas com energia solar.
A estratégia deu certo. Desde 2020, a empresa manteve
lucratividade anual, o que se confirma nos dados do primeiro
trimestre deste ano, quando o lucro foi de R$ 22 milhões.
Concluído o processo de retomada (“turnaround”, no jargão de
mercado), a Eternit fez uma dança das cadeiras entre o presidente
Luís Augusto e o integrante do conselho de administração Paulo
Andrade, que assumiu a liderança executiva no começo de julho. A
ideia agora é que Andrade lidere a empresa na nova etapa de
expansão.
Mesmo sem sair da recuperação judicial, a Eternit diz ter
quitado todas as dívidas com credores. O status de inadimplência
perante a Justiça se deve a um processo pendente de um credor, que
já foi pago. “Temos hoje ainda no quadro as pessoas que não se
apresentaram para receber, mas o valor está reservado para elas”,
afirma Augusto.
Com as finanças novamente controladas, a empresa deu
continuidade a projetos de expansão dos negócios, mesmo sem ter
acesso a crédito como uma empresa adimplente teria. Exemplo disso é
o investimento de R$ 165 milhões na construção de uma fábrica em
Caucaia (CE), que está em etapa final e deve empregar,
inicialmente, cerca de 100 pessoas.
Outro movimento incomum para uma empresa em recuperação judicial
foi a aquisição da concorrente Confibra, por R$ 110 milhões. Com
isso, a companhia estima aumentar em até 40% a capacidade de
produção até o fim do ano.
“Vamos estudar as possibilidades de continuar crescendo com
aquisições fora do segmento principal da empresa, em busca de
diversificação de portfólio. Buscar alternativas inorgânicas está
no radar, assim como o crescimento orgânico em regiões onde ainda
não temos presença. A demanda da região Norte por telhas é maior do
que a oferta, por exemplo”, diz Andrade.
Antônio Frange Júnior, sócio-gestor do escritório Frange
Advogados, afirma que a recuperação judicial é um instrumento usado
pelas empresas para conter o endividamento progressivo e rever o
modelo de negócios, por exemplo, criando novos produtos, como fez a
Eternit com a telha com painel fotovoltaico ou as telhas de
fibrocimento.
“A recuperação judicial não é um ‘ganha-ganha’, é uma situação
de quem perde menos. Ela existe por um cunho social, para proteger
as famílias dos empregados e para dar à empresa fôlego para se
recuperar e reduzir o passivo”, diz.
Com menor dependência da extração do amianto, atividade ainda
exercida, a empresa poderá reduzir o risco operacional e voltar a
ser atrativa para o mercado de capitais.
“Sair da recuperação judicial é muito positivo para uma empresa
de capital aberto como a Eternit, especialmente pelos investimentos
de fundos, que têm regulação contra investimentos em empresas em
recuperação”, afirma Pedro Almeida, especialista em contencioso e
insolvência do GVM Advogados.
Ameaça no radar
Apesar da repaginada nos negócios, a Eternit mantém a atividade
de extração de amianto crisotila para exportação, que representa
parte relevante dos resultados financeiros da empresa (31% da
receita líquida e 44% do lucro bruto no primeiro trimestre). A
empresa aguarda uma decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a
legalidade da atividade, que pode ser totalmente interrompida.
Em fevereiro de 2017, o Supremo Tribunal Federal proibiu o uso
de amianto no País, o que fez a Eternit paralisar operações na
mina. Porém, a atividade foi retomada em julho de 2019, devido a
uma lei do Estado de Goiás que permitia a extração de amianto
crisotila para fins exclusivos de exportação.
Em novembro do ano passado, o SFT determinou a suspensão da
extração de amianto da mina na cidade de Minaçu, em Goiás. Com a
ordem, foram paralisadas as atividades da Sama Mineração, empresa
da Eternit. O processo contra essa lei, que pode ser considerada
inconstitucional, pode ser um novo revés para os negócios.
“Existe um risco substancial da atividade de exploração de
crisotila ser completamente proibida, mesmo que destinada
exclusivamente à exportação. Caso isso aconteça, a Eternit perderia
subitamente boa parte de seu lucro bruto”, afirma Ivan Barboza,
sócio-gestor do Ártica Asset Management.
Almeida, da GVM Advogados, diz que a situação atual da empresa,
que voltou a ser lucrativa, dá resiliência ao negócio mesmo com a
nova proibição do STF. “O fim da exportação de amianto hoje é algo
que dificilmente colocaria em risco o êxito da recuperação judicial
da Eternit. A empresa paga os credores e já tem histórico de lucro.
A descontinuação dessa unidade seria um desfalque que não levaria a
insolvência”, diz.
Andrade, da Eternit, diz que a proibição traria impacto para a
empresa, mas que existem outras fontes de receita relevantes
atualmente. “Logicamente que a interrupção das atividades da mina
vão impactar em perda de rentabilidade, já que se trata de uma
atividade geradora de caixa. A boa notícia é que o negócio de
coberturas também é lucrativo e gerador de caixa, o que garante a
perenidade da companhia”, afirma.
Informações Infomoney
ETERNIT ON (BOV:ETER3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024
ETERNIT ON (BOV:ETER3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Abr 2023 até Abr 2024