As varejistas tiveram um segundo trimestre fraco, mais uma vez
pressionadas pelo juros elevados e pelo endividamento das famílias
brasileiras. Companhias focadas mais no alta renda, como Arezzo,
Vivara e Soma, acabaram se destacando, uma vez que seus
públicos-alvo são menos impactados por esse cenário.
Já há algum tempo, essas empresas são as maiores convicções de
investidores no setor e a escolha tem se provado correta. Elas
oferecem mais segurança em momento de juros altos, isso porque as
pessoas de classes mais elevadas têm suas rendas menos impactadas,
maiores reservas e ainda dependem menos do acesso a crédito.
“As varejistas de alta renda continuaram sendo o destaque, com
uma tendência geral de crescimento sólido e recuperação de
rentabilidade, enquanto as varejistas de vestuário de média renda
foram o destaque negativo do trimestre”, fala a XP
Investimentos.
“Acreditamos que as empresas do segmento de alta renda devem
reportar os melhores resultados no segundo semestre, assim como
fizeram no segundo trimestre. Ademais, isso é reforçado pela
revisão de earnings positiva após a temporada de resultados”,
comenta a Guide.
A Vivara (BOV:VIVA3), por exemplo, teve seus resultados
definidos como “impressionantes” pelo Itaú BBA – com destaque para
a sua marca Life, voltada ao segmento de prata.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e
amortização, na sigla em inglês) ajustado, de R$ 132,4 milhões,
teve crescimento anual de 32,3%, com a margem Ebitda em 32,3%, alta
de 2,3 pontos percentuais na mesma comparação. A receita líquida,
por sua vez, somou R$ 559,9 milhões no segundo trimestre deste ano,
crescimento de 19,3% na mesma base.
No caso da Arezzo (BOV:ARZZ3), o Ebitda cresceu 22,1% no ano,
para R$ 198,2 milhões, com sua margem saltando 0,3 ponto
porcentual, para 17,5%, e a receita, 19,7%, para R$ 1,1 bilhão.
O Grupo Soma (BOV:SOMA3), dono da Farm, trouxe seu Ebitda
crescendo 2,4%, para R$ 215,4 milhões, e a receita líquida saltando
7,4%, para R$ 1,2 bilhão. A margem Ebitda, no entanto, recuou 0,9
ponto porcentual, para 16,6%, e o lucro também caiu bem, por conta
dos gastos financeiros.
De qualquer forma, apenas uma alta da receita, com o cenário
atual, já é algo considerável na comparação com o restante das
varejistas já que a maioria das companhias não teve a mesma
sorte.
C&A e Lojas Renner ainda impactadas, mas
surpreendendo positivamente
Ainda dentro do próprio varejo de vestuário, a Lojas Renner
(BOV:LREN3) viu sua receita recuar 6%, para R$ 2,98 bilhões, e a
(BOV:CEAB3) teve a sua ficando estável em R$ 1,6 bilhão.
“As varejistas de vestuário de média renda foram o destaque
negativo do trimestre, com resultados ainda fortemente pressionados
por ventos contrários no cenário macro e pelo clima, juntamente com
bases de comparação fortes e resultados pressionados em serviços
financeiros com taxas de inadimplência ainda altas em todos os
setores”, explica a XP.
As margens da Renner, com a receita recuando, também caíram. A
margem Ebitda diminuiu 3,8 pontos, para 17,9%. A Realize, braço
financeiro da empresa, foi o destaque negativo do período que vai
de abril a junho.
No caso da C&A, a mesma margem avançou 1,1 ponto no ano,
para 16,7% – mas analistas vêm destacando o bom trabalho
operacional que a companhia vem realizando recentemente.
De qualquer forma, para as duas, os resultados não foram
considerados tão negativos.
Em relatório divulgado após o resultado, o BBA destacou sobre
Renner: “apesar dos resultados fracos, eles foram dentro da
expectativa e esperamos que os investidores se concentrem no
discurso da empresa sobre suas perspectivas de curto prazo.
Esperamos que os resultados no braço de varejo (a operação chave do
grupo) melhorem no segundo semestre, mas estamos preocupados que a
situação da Realize possa se tornar ainda mais desafiadora”,
ponderou.
Para a C&A, a XP destacou que a lucratividade foi acima do
esperado, com a coleção outono/inverno bem recebida e os níveis de
estoque se mostraram adequados.
“A C&A continua a colher os benefícios da precificação
dinâmica e da distribuição baseada em SKU [Unidade de Manutenção de
Estoque, na sigla em inglês]”, menciona.
Na Alpargatas (BOV:ALPA4), o faturamento caiu 12,7% na base
anual, para R$ 926,4 milhões, e o Ebitda ficou negativo em R$ 8,3
milhões, revertendo saldo positivo de R$ 177,8 milhões do segundo
trimestre de 2022.
A companhia, contudo, vem passando por uma reestruturação sendo
que os próprios executivos atribuíram o resultado negativo a
isso.
Na Guararapes (BOV:GUAR3), a receita caiu 1% no ano, para R$ 2,1
bilhão, e o Ebitda, 8,8%, para R$ 239 milhões. A margem recuo 1
ponto, para 11,%.
“A Guararapes reportou resultados fracos mas acima das nossas
estimativas, com a receita líquida pressionada por base de
comparação forte, mas com economias de despesas gerais e
administrativas na operação de mercadorias e também na Midway”,
fala a XP.
Magazine Luiza e Via encaram momento
negativo
Magazine Luiza (BOV:MGLU3) e Via (BOV:VIIA3), com maior
exposição aos bens duráveis e ao e-commerce, continuaram a ter um
intervalo pouco animador.
“O comércio eletrônico no Brasil no cenário deste trimestre foi
afetado pela demanda ainda fraca por produtos de maior valor, ou
seja, eletrônicos e móveis”, diz o time do Morgan Stanley. “Para o
cenário competitivo, contudo, vimos certa racionalidade – com as
companhias trazendo consideráveis aumentos de taxas e preços e
maior controle de despesas”.
Os juros altos, bem como no caso das demais varejistas,
continuam inibindo o consumo. As duas empresas tiveram, com isso,
suas receitas líquidas ficando estáveis ou caindo. A da Magalu
subiu 0,1% no ano, a R$ 8,5 bilhões, e a da Via saiu de R$ 7,6
bilhões no segundo trimestre de 2022 para R$ 7,4 bilhões no deste
ano.
Por outro lado, as taxas maiores também obrigaram as companhias
a adotarem posturas mais racionais nas suas margens, dando menos
promoções, por exemplo. Contudo, impactos diferentes nas duas
empresas acabaram por prejudicar a rentabilidade.
“O Magazine Luiza reportou balanço fraco, com uma queda no
Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização,
na sigla em inglês] ajustado de 11% na base anual, em linha com
nossa estimativa, mas cerca de 14% abaixo do consenso. Em nossa
visão, o mercado já antecipava um trimestre desafiador devido à
fraqueza no segmento de bens duráveis”, falou o time do
Santander.
“Podemos ver uma reação negativa, dado o desempenho da margem de
Ebitda em relação ao consenso, mesmo excluindo os itens não
recorrentes que aumentaram sequencialmente”.
O segundo trimestre ficou marcado como um período de ajustes
para o Magazine Luiza, com R$ 155,9 milhões em despesas não
recorrentes. Segundo a empresa, esses gastos foram provenientes
principalmente do redimensionamento da companhia, com ajuste de
capacidade, fechamento de centros de distribuição e início do
processo de incorporação reversa do Magalu Pagamentos pela Hub
Fincteh.
“Apesar de uma melhoria notável na margem bruta devido ao
aumento da participação de serviços no mix, isso foi mais do que
compensado pela transferência do impacto negativo do imposto Difal
e alguma pressão de despesas com vendas, gerais e administrativas
no nível da margem Ebitda”, corroborou o time do Itaú BBA.
No caso da Via, as margens foram empurradas para baixo pelo fato
de que a companhia começou a tirar seu plano de reestruturação do
papel – que contará com o encerramento das vendas de algumas
categorias, com a varejista vendendo seu estoque em promoções. A
Ebitda caiu 2,7 pontos, para 6,3%.
“A Via reportou resultados fracos mas em linha no segundo
trimestre, com crescimento moderado de receita e rentabilidade
pressionada em uma perspectiva macro ainda desafiadora para a
demanda”, expôs o time da XP.
“A rentabilidade foi pressionada, com margem bruta caindo,
impactada pelo mix de vendas e pelo início dos ajustes de estoque
da companhia”.
Assaí e Carrefour: inflação menor impacta, mas há
iniciativas positivas
Por fim, no varejo de alimentos foi a inflação menor, também por
conta dos juros mais altos, o maior detrator dos resultados.
Analistas vinham, desde antes da publicação, apontando que
esperavam um recuo do faturamento nas unidades pela deflação, que
leva os clientes, principalmente os do segmento B2B (business to
business) – importante nos atacarejos – a estocarem menos produtos.
Além disso, a competição maior na região Sudeste, onde as duas têm
forte presença, também era uma questão.
Nesta frente, os analistas viram o Assaí (BOV:ASAI3) como mais
positivo. A XP destacou em relatório que apesar da queda das vendas
mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês), o grupo foi melhor do que o
maior rival na comparação anual e que houve ainda melhora na base
trimestral.
Como as duas companhias estão em processo de expansão – o Assaí
com as lojas herdadas do Extra e o Carrefour (BOV:CRFB3) com as do
Grupo BIG – o SSS, que leva em consideração apenas a performance
das unidades com mais de um ano, acaba tendo mais relevância
A receita líquida do Assaí somou R$ 15,9 bilhões no segundo
trimestre deste ano, crescimento de 20,8%, mas o SSS caiu 1,7%. No
Carrefour, a receita avançou 6,1%, para R$ 27,4 bilhões, mas as
vendas mesmas lojas caíram 3%.
Por fim, ainda por conta da inflação menor e da deflação, outro
padrão foi percebido nesses supermercados – a tentativa de diminuir
estoques para não perder dinheiro com a desvalorização dos
produtos.
Informações infomoney
C&A ON (BOV:CEAB3)
Gráfico Histórico do Ativo
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C&A ON (BOV:CEAB3)
Gráfico Histórico do Ativo
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