A Americanas, que passou por uma fraude bilionária, finalmente divulgou seus resultados referentes ao ano de 2021 e 2022 após ajustes contábeis.

Depois de quatro adiamentos, e 11 meses após a divulgação de um dos maiores escândalos contábeis do Brasil, a varejista revisou o lucro líquido de R$ 544 milhões registrado em 2021 para prejuízo de 6,237 bilhões. A empresa também calculou em R$ 12,912 bilhões o resultado negativo de 2022, representando assim um aumento das perdas entre 2021 e 2022 de 104%.

Segundo relatório, o desempenho é resultado de fraco desempenho operacional, elevada despesa financeira e relevantes lançamentos extraordinários.

A receita líquida consolidada atingiu a marca de R$ 25,8 bilhões no ano passado, com o varejo digital e o físico como unidades de negócio de maior representatividade (aproximadamente 87%). O valor é 14,6% superior aos R$ 22,521 bilhões reportados um ano antes.

O lucro bruto no ano foi de aproximadamente R$ 5,0 bilhões e a margem bruta atingiu a marca de 19,5% da receita líquida, “impactada pelo real custo de mercadorias vendidas, que já não contava com a fraude de lançamentos de contratos fictícios de VPC que reduziam o custo”, explica a Americanas. “Outro impacto relevante foi a provisão de obsolescência de estoques no valor de R$ 744 milhões, que teve contrapartida na linha de custos de mercadoria vendida.”

As despesas gerais e administrativas, por sua vez, atingiram a marca de R$ 9,0 bilhões, representando 35,0% da receita líquida e constituída por R$ 4,8 bilhões de despesas com vendas e R$ 4,2 bilhões de gerais e administrativas.

O resultado financeiro consolidado do exercício social de 2022 foi negativo em R$ 5,2 bilhões, um salto de 230,7% sobre as perdas financeiras do ano de 2021.

A varejista destaca que o valor “já considera as despesas de juros dos contratos de risco sacado e contratos de capital de giro devidamente contabilizados”.

No ano de 2022, a Americanas aumentou significativamente sua dívida bruta, ao mesmo tempo em que reduziu os níveis de caixa e recebíveis, resultando em uma dívida líquida de R$ 26,3 bilhões, o que representa uma variação de mais de R$ 12 bilhões comparado com 2021.

A companhia, responsável por um dos maiores pedidos de recuperação judicial da história do Brasil, também revisou o resultado operacional medido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 2021 de R$ 2,3 bilhões positivos para R$ 1,8 bilhão negativo. O Ebitda de 2022 ficou negativo em 6,2 bilhões de reais.

Com relação ao capital de giro, a varejista apresentou uma piora de R$ 1,2 bilhão na comparação anual, com a redução dos recebíveis não sendo suficiente para compensar a redução do financiamento dos estoques.

O resultado operacional negativo da Americanas ao longo do ano de 2022, considerando os ajustes extraordinários que impactaram o balanço, levou a um patrimônio líquido negativo de R$ 26,7 bilhões em 31 de dezembro de 2022.

Projeções para 2025

A companhia ainda divulgou projeções para 2025 levando em conta uma eventual aprovação do plano de recuperação judicial atualmente sendo negociado com os principais credores da empresa.

Segundo a Americanas, a expectativa é de Ebitda de mais de R$ 2,2 bilhões em 2025, com uma alavancagem medida pela relação dívida líquida/Ebitda de menos de 0,75 vez.

Além disso, a companhia espera atingir uma dívida bruta financeira entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão e que o patrimônio líquido volte a ficar positivo.

Com os números divulgados, a prioridade agora é tentar chegar a um acordo com credores para salvar a rede de varejo. As demonstrações contábeis são peça essencial para os credores entenderem a viabilidade operacional da Americanas, comenta um banqueiro que ainda vai avaliar os números, segundo ele, “com lupa”. Um dos pontos de mais interesse é ver as aplicações do endividamento e dos níveis de alavancagem.

Após o rombo, revelado em 11 de janeiro, a publicação do balanço de 2022 foi anunciada para março. Depois, postergada para agosto, em seguida para outubro e depois para 13 de novembro. Na madrugada do dia 13, foi novamente adiada para esta quinta (16).

Os resultados da Americanas (BOV:AMER3) referentes às suas operações do terceiro trimestre de 2023 foram divulgados no dia 16/11/2023.

Teleconferência

Ao longo de mais de duas horas, os executivos da Americanas apresentaram e detalharam o plano de recuperação judicial da companhia, das fraudes descobertas e traçaram os planos da companhia para os próximos anos.

Após praticamente um ano de espera, a empresa informou os números do balanço de 2021 e 2022, nesta quinta-feira (16), deixando, para o final deste ano, os números de 2023, equivalentes aos nove primeiros meses.

Um dos passos para o atingimento das metas financeiras (guidances) até 2025, conforme divulgado mais cedo, parte da premissa, por parte da diretoria, de que o plano de recuperação judicial será aprovado em 2023 e homologado no início de 2024.

Segundo a diretora financeira da Americanas, Camille Faria, a expectativa é por um aporte de R$ 24 bilhões na companhia, vindo dos acionistas e da renegociação com credores.

“A empresa espera conseguir, com esse valor (R$ 24 bilhões), virar o patrimônio líquido, para o positivo”, disse ela, durante teleconferência com analistas e investidores.

Segundo a executiva, os credores com dívidas de até R$ 12 mil poderão receber – no contexto da homologação da RJ – os valores de forma integral, em parcela única.

Caso contrário, a empresa prevê eles ingressando na oferta geral, com desconto de 80% e pagamento em 20 anos, com valores atualizados pela TR.

Assim, os credores que aceitarem as condições terão seus créditos recomprados em um leilão reverso, com desconto de 70%.

“A Americanas trabalha com a premissa de ter quase R$ 5 bilhões em descontos de dívida”, acrescentou ela.

  • Americanas: venda de ativos

Ainda na apresentação, o presidente da companhia, Leonardo Coelho, disse que a companhia não pretende se desfazer das redes Uni.co e Natural da Terra a “qualquer preço”.

Segundo ele, as duas controladas não entrarão em “liquidação”. “Se acharmos preço certo, vamos estudar, caso contrário, elas usufruem de todo pacote de transformação da Americanas”.

Em relação a Ame, Coelho reforçou que a companhia não pretende se desfazer desta operação. Isso porque, segundo ele, faz parte do ecossistema de conexão entre as lojas físicas e as operações online.

Enquanto isso, o executivo ressaltou que a companhia estuda como e quando buscará os devidos ressarcimentos pelos prejuízos causados pela fraude.

Segundo ele, o que ocorreu na Americanas foi um processo de fraude “complexo” e “engenhoso”, alimentado por “feudos” dentro da organização – ou seja, grupos de executivos dentro do organograma corporativo da varejista.

Ele comentou que a fraude foi fortemente concentrada na conta de fornecedores, por meio de VCPs (verba de propaganda cooperada e instrumentos similares) fabricadas, para inflar artificialmente os resultados da companhia.

Além disso, ocorreram fraudes em operação de risco sacado (não lançados corretamente nos demonstrativos financeiros), operações de capital de giro, opex indevido, entre outros. Até frete de fornecedores havia irregularidade, disse o CEO.

Americanas vai atrás dos culpados

O tamanho total da fraude ao final de 2022 apurado pela nova gestão foi de R$ 22,5 bilhões. O executivo ressaltou que a companhia estuda como e quando buscará os devidos ressarcimentos pelos prejuízos causados pela fraude.

“A empresa tinha uma estrutura de governança (compliance) que era certificada pelas principais certificadoras, inclusive internacionais. Mas, por conta dessa manipulação, dolosa, de controles internos, pela alta direção, que conhecia, portanto, a estrutura de governança, essa situação toda aconteceu”, explicou.

“Americanas foi vítima de fraude”, afirmou, acrescentando que as divulgações atualizadas de 2021 e 2022 “são compromissos com a verdade”. “Os resultados estão livres dos efeitos da fraude”, garantiu.

A nova administração, acrescentou ele, tem atuado em três frentes atualmente: recuperação judicial, investigação da fraude e transformação da companhia.

Americanas aposta nas lojas físicas

Com cerca de 1.600 lojas espalhadas por todos estados brasileiros e mais o Distrito Federal, com alta identificação de seu consumidor a esse modelo de negócio, Leonardo Coelho mostrou que a empresa tem grande aposta na rede física para se recuperar.

O CEO chegou a comentar que a alavanca de recuperação da Americanas passa pelo ajuste financeiro e a renovação de suas lojas para retomar a referência história do consumidor com a marca.

“A loja física mostrou resiliência em 2023”, ressaltou o CEO. “Os produtos agora atenderão as especificidades de cada localidade.”

Coelho afirmou que a empresa terá foco no cliente, algo que a varejista tinha “deixado de fazer”.

Operação digital terá atuação diferente

Na operação digital, com impacto de credibilidade, o executivo contou que houve queda nas visitas ao site, mas que os acessos vêm se recuperando gradualmente.

A proposta apresentada para o meio digital é que ela atue com algumas categorias que não tem destino na loja física, como linha branca e eletrodomésticos.

Também comentou que a operação digital deve trabalhar como uma espécie de “hub de vendas”.

Além disso, a Americanas vê ambiente “mais competitivo” no varejo online.

Maior rentabilidade

Por fim, o CEO ressaltou que as medidas visam melhorar a “rentabilização” do universo digital, “de forma mais interessante”.

Ele disse ainda que a empresa “não tem apetite nem capital para investir em vendas que não tenham margens atraentes”.

A companhia mira crescer Ebitda em um dígito alto em média por ano, a partir de 2025, completou.

* Com informações da ADVFN, RI das empresas, Valor, Infomoney, Estadão
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