Em carta, Luiz Barsi Filho, acionista minoritário da AES Tietê (BOV:TIET11), posicionou-se contra a proposta de fusão da companhia de energia com a Eneva (BOV:ENEV3).
Investidor citou 3 motivos por ser contra: Política de dividendos incerta, concentração da Eneva em matriz poluente e momento ruim para venda são apontados como razões para recusar oferta
No começo de março, a Eneva enviou à geradora AES Tietê (BOV:TIET3) (BOV:TIET4) uma proposta de combinação de negócios que resultaria na criação de uma “gigante no setor de geração” no Brasil, prevendo o pagamento em ações da própria Eneva mais R$ 2,7 bilhões em dinheiro aos acionistas da AES Tietê. Essa foi considerada uma proposta hostil pela direção.
Barsi comparou a Eneva a um jacaré de boca aberta à espera da presa perfeita. “A Aes Tietê é o passarinho prestes a ser devorado e a Eneva, o exímio predador”, apontou. Justificando a sua posição, ele elencou três motivos principais: falta de uma política de dividendos na Eneva; matriz energética concentrada em energias poluentes e o momento pouco propício do mercado para o vendedor.
Um dos maiores investidores individuais da bolsa brasileira, Barsi afirmou que se tratam de duas corporações de fato complementares em seus negócios, mas essencialmente diferentes na postura em relação aos seus sócios. Assim, uma combinação entre as duas traria incerteza sobre o pagamento de dividendos.
Sobre a AES Tietê, Barsi aponta que, apesar de lutar para que a companhia formalizasse uma política de distribuição de lucros, sua prática sempre foi clara.
“Enfim, até então dormia tranquilo, sabendo que tenho em meu portfólio uma empresa lucrativa há anos. O mesmo não posso dizer sobre a Eneva, que apesar de seu turnaround louvável, nunca remunerou seus acionistas”, ressaltou, destacando o fato de que a Eneva era antes da MPX, de Eike Batista.
“A omissão de qualquer compromisso sobre a distribuição de dividendos desta possível nova gigante do setor de geração fala por si só e, para mim, foi suficiente para concluir que ela não teria lugar cativo na minha carteira. Este é o compromisso pelo qual luto por anos junto a outros minoritários e que não mais poderia pleitear, afinal seria violentamente diluído na nova composição acionária. Diante do exposto, reflito: afinal, quem mais se beneficiaria desta situação? O acionista parceiro ou o que deseja sair desta sociedade? O segundo, claro. O BNDES é o maior interessado na efetividade da proposta, quando enfim encontraria a liquidez necessária para se desfazer deste investimento”, afirmou o investidor.
Ele ainda apontou diferenças com relação à matriz energética. Barsi apontou que a AES Tietê tem vários desafios, sendo o principal gargalo a necessidade de diversificação da matriz energética e vem mirando principalmente no crescimento em ativos renováveis, eólico e solar, um mercado competitivo, mas alinhado com a tendência irreversível da descarbonização.
“Viés contrário ao da Eneva, que atende a mais de 10% da capacidade térmica no Brasil. Entendo a
sua importância para o país, mas não me interesso em investir em um modal poluente”, apontou.
O investidor reforçar que os investidores estão cada vez mais atentos às práticas de ESG nas empresas, sigla que significa Environmental, Social and Governance (meio ambiente, social e governança). “Essas 3 letras estão mudando o jeito que o mundo investe e reflete uma mudança de comportamento. Seria inteligente conflitarmos com essa tendência?”
O argumento final usado por Barsi é o sobre o momento atual, de forte queda do mercado acionário, considerado por ele “excelente para quem pode comprar e o pior possível para quem precisa vender”. Contudo, reforçou que a AES Tietê não estava à venda. “Por que, então, a pressa repentina de vender ativos lucrativos e que assim permanecerão por pelo menos 10 anos? É inteligente fazermos negócios quando todos os outros estão interessados em sobreviver?”
Assim, apontou, ao analisar a proposta hostil, foi convencido de que um processo de fusão e aquisição de fato seria uma excelente saída para a Tietê, mas que não seria com a Eneva.
“Ela não é a única empresa no setor cuja fusão faria sentido. Já imaginaram uma combinação de negócios com a Engie, ou CESP?”, questiona.
“Em qualquer outro cenário, com uma ponta sequer de otimismo, poderíamos pensar em procurar parceiros mais interessantes. Isso geraria propostas melhores para os acionistas, que poderiam optar pela combinação com a empresa que oferecesse as melhores condições, a exemplo do que houve com a Eletropaulo em 2018.”