Destaque de queda do Ibovespa neste início de 2024, com baixa
acumulada de 25%, as ações da MRV desabaram mais de 11% apenas na
sessão da última quinta-feira (11) em meio às especulações sobre
mudança de guidance em fevereiro e sobre a prévia operacional, que
foi divulgada pouco após o fechamento da véspera.
Os números apresentados ontem seriam vistos como positivos, a
princípio. O segmento de incorporação do grupo MRV&Co teve no
quarto trimestre a primeira geração de caixa em três anos de fluxo
negativo, com dado positivo nos três últimos meses de 2023 de R$
137,2 milhões.
A incorporadora divulgou ainda vendas de R$ 2,3 bilhões no
trimestre, alta de 55,8% ano a ano, encerrando 2023 com vendas
líquidas de R$ 8,5 bilhões de reais, um avanço de 45%. Ambas as
leituras marcam recordes históricos, segundo a empresa. Contudo,
algumas casas de análise seguem revisando para baixo as projeções,
ainda que vejam as ações como atrativas.
O Itaú BBA, após a divulgação das prévias operacionais do 4º
trimestre, optou por adotar uma visão mais conservadora para
despesa financeira e vendas de Resia. Em resumo fez um corte da
projeção do lucro em 40%, para R$ 370 milhões, em 2024 e R$ 670
milhões em 2025. Os analistas reiteraram preferência em Direcional
(DIRR3), Cury (CURY3) e Plano & Plano (PLPL3), no setor de
baixa renda. Contudo, a recomendação para os papéis segue
outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra), com
preço-alvo para 2024 de R$ 12 (ante R$ 13 até 2023), ou um
potencial de valorização de 43% em relação ao fechamento da
véspera.
O Bradesco BBI aponta que as ações caem forte no ano devido aos
temores de uma possível queda na expectativa do consenso para o LPA
(lucro por ação) de 2024, desencadeada também pela publicação de um
guidance de lucro antes de juros, impostos, depreciações e
amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) mais fraca do que o
esperado pela Tenda (TEND3) no início desta semana.
Para os analistas do banco, o turnaround da MRV (BOV:MRVE3)
superou seu ponto crítico em 2023 e os números operacionais
divulgados na véspera reforçam essa percepção. “No entanto,
entendemos que 2024 ainda é um ano de transição em seu resultado,
já que a MRV ainda não concluiu a construção (e reconhecimento de
margem) de seus projetos de baixa margem 2021-22, com crescimento
significativo do LPA contratado para 2025 (de +98% em base anual em
2025, pela estimativa do Bradesco BBI)”, avaliam.
Nesse sentido, os analistas não estão muito preocupados com os
resultados financeiros de 2024, já que o lucro líquido atual de R$
521 milhões significa 9 vezes o múltiplo de preço sobre lucro (P/L)
esperado para 2024, o mais alto entre seus pares de baixa renda
(portanto, não é um motivo para comprar, dado o valor
estivado).
As estimativas oficiais para 2025, por outro lado, mostram um
P/L esperado para 2025 em atraentes 4,5 vezes. Contudo, um corte de
25% nos resultados financeiros da MRV Incorporação (levando os
resultados financeiros da MRV para R$ 800 milhões, abaixo da
estimativa do Bradesco BBI de R$ 1 bilhão atualmente), colocaria o
P/L para 2025 em 5,8 vezes (versus pares em 6,5 vezes, como por
exemplo a Tenda) – mesmo considerando um resultado final moderado
de R$ 67 milhões para Resia em 2025.
Em suma, avaliam os analistas, a queda dos lucros provavelmente
prejudicará o dinamismo da MRVE3, que já é assombrada pelas
incertezas contínuas nas operações da Resia nos EUA.
“Por outro lado, do ponto de vista de valor, ainda vemos uma
assimetria altamente positiva no caso. Acreditamos que, uma vez que
as expectativas da MRV Brasil se acalmem (mesmo que abaixo da
expectativa do Bradesco BBI) e o duvidoso impulso macro da Resia
eventualmente cesse, vemos espaço para um desbloqueio significativo
de valor em MRVE3, provavelmente com o maior potencial de
valorização”, apontam.
O banco tem recomendação outperform para MRVE3, com preço-alvo
de R$ 17 (upside de 103%).
A XP também reiterou compra para os ativos após a prévia,
ressaltando que a MRV apresentou dados operacionais ligeiramente
positivos no 4T23, parcialmente compensados por um cenário de caixa
ainda pressionado (embora melhor) nas operações brasileiras. Os
lançamentos tiveram um desempenho moderado no trimestre para focar
na recuperação da rentabilidade, na visão da casa, também mantendo
recomendação de compra e preço alvo de R$ 17 por ação.
Com a visão de que a forte queda das ações em 2024 reflete
preocupações sobre o cumprimento do guidance da MRV para o ano,
principalmente à luz de uma margem bruta mais fraca (ainda
impactada por projetos mais antigos) e despesas financeiras mais
pesadas (devido a mais securitização de recebíveis a custos
elevados), o BTG Pactual disse planejar revisar os seus números em
breve. Isso de forma a incorporar as perspectivas mais difíceis e
os desenvolvimentos recentes. Assim como XP e BBI, o banco tem
atualmente recomendação outperform com preço-alvo de R$ 17.
O Santander tem a mesma recomendação, mas com preço-alvo um
pouco mais baixo, de R$ 16 (upside de 91%), destacando a melhoria
operacional contínua e o valuation atrativo olhando para as
projeções de 2025. “Contudo, acreditamos que o desempenho das ações
no curto prazo deve permanecer desafiador, apesar de uma sólida
prévia operacional”, com a revisão para baixo de lucros e e aumento
das despesas financeiras.
A sessão pós-divulgação da prévia é de volatilidade para as
ações MRVE3: os papéis chegaram a uma mínima de R$ 7,91 (-5,72%) e
máxima de R$ 8,63 (+2,86%) no intraday. Às 13h23 (horário de
Brasília), a queda era de 0,83%, a R$ 8,32.
Informações Infomoney
MRV ON (BOV:MRVE3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Ago 2024 até Set 2024
MRV ON (BOV:MRVE3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Set 2023 até Set 2024