do blog fi: http://www.financasinteligentes.com/
É mais fácil acreditar em Papai Noel
O clima de tensão, insegurança e desconfiança voltou a incomodar os investidores nesta quarta-feira com o reaparecimento de Guido Mantega aos holofotes do mercado. O ministro da Fazenda anunciou ontem a noite que eliminou a cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre o ingresso de recursos estrangeiros para aplicação em renda fixa.
A alíquota foi implementada pela primeira vez em 2009, a fim de reduzir a entrada excessiva de dólares no país e, utilizando as palavras do ministro...
do blog fi: http://www.financasinteligentes.com/
É mais fácil acreditar em Papai Noel
O clima de tensão, insegurança e desconfiança voltou a incomodar os investidores nesta quarta-feira com o reaparecimento de Guido Mantega aos holofotes do mercado. O ministro da Fazenda anunciou ontem a noite que eliminou a cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre o ingresso de recursos estrangeiros para aplicação em renda fixa.
A alíquota foi implementada pela primeira vez em 2009, a fim de reduzir a entrada excessiva de dólares no país e, utilizando as palavras do ministro, “combater a especulação”. O governo tratava a liquidez no mercado externo, provocada pelas políticas expansionistas dos países desenvolvidos, como inimigo público número 1.
Na visão do governo, o real valorizado era o grande culpado pela perda de competitividade das empresas brasileiras no mercado externo e a especulação era a grande responsável pela valorização do câmbio. Fizemos de tudo para espantar a chuva de dólares. Combatemos a especulação com uma verdadeira enchente de medidas cambiais surpresas, aumentos de IOFs e intervenções desastrosas. Sobrou até para as transações de cartão de crédito dos brasileiros no exterior.
Vencemos a “guerra cambial” contra a especulação. Os dólares procuraram outra freguesia. Economias dispostas a recepcionar uma parte deste brinde de liquidez no sistema eram o que não faltavam na época. Por aqui o dólar saltou de R$ 1,70 para R$ 2,15, mas nada mudou além da nossa perda de credibilidade no mercado. As empresas brasileiras continuaram sem condições de competição no cenário externo, enquanto os nossos concorrentes estavam aproveitando a fartura de dinheiro barato para se capitalizar e investir.
Quatro anos depois, percebendo que nada havia funcionado, o ministro Mantega volta atrás. Agora queremos fazer as pazes com a especulação. Queremos que ela seja a nossa amiga. Precisamos de dólares para cobrir a cratera formada nas transações correntes e ajudar no combate à inflação.
Apesar da evidência, o governo nega. A presidente Dilma afirmou nesta quarta-feira que "o governo não tem medidas a tomar para segurar a valorização do dólar". Poucos minutos depois o Banco Central entrou no mercado para fazer, adivinha o que? Segurar a valorização do dólar.
A eliminação do IOF é um driver de peso para provocar a desvalorização do dólar. Mas não foi o que aconteceu. O dólar abriu em queda e se recuperou rapidamente. O governo levou mais um “olé” do mercado. O Banco Central foi chamado às pressas pra evitar o vexame e vendeu o equivalente a 1,37 bilhão de dólares num leilão de swap cambial (forçando a queda da cotação). Mesmo com a atuação do BC, o dólar ainda fechou em leve alta de 0,10%.
O ministro Mantega disse que a retirada do IOF não tem objetivo segurar o dólar para conter a inflação, mas sim adaptar o mercado de câmbio à nova realidade de menor liquidez internacional. Tarde demais para voltar atrás, não? E será que este (liquidez) é realmente o motivo? Não é o que diz o relatório de fluxo cambial do Banco Central divulgado hoje.
A autoridade monetária informou que o saldo da entrada e saída de dólares no país (fluxo cambial) fechou o mês de maio positivo em 10,75 bilhões de dólares (influenciado pelo fluxo comercial, já que o fluxo financeiro registrou saldo negativo). O ministro certamente estava ciente deste dado antes de anunciar a redução do IOF.
Outro ponto curioso está relacionado à captação do Tesouro Nacional. Guido Mantega disse que “não há nenhum problema dessa natureza, estamos financiando muito bem a dívida brasileira, com tranquilidade”. Porque será que ele disse isso no mesmo dia em que apareceram rumores nas mesas de operações dos bancos e corretoras de que um fundo estrangeiro (um dos maiores do mundo) tinha saído de uma grande posição no Brasil?
Muitos destes investidores compraram títulos públicos brasileiros no passado e mantiveram posição após a implementação do pedágio. A barreira do IOF na entrada impedia, também, a saída deste recurso. Se resolvessem liquidar estes títulos, mas posteriormente retornar ao mercado brasileiro, precisariam pagar novamente os 6% de IOF. Ao retirar o pedágio (IOF) o transito fica livre para o investidor estrangeiro entrar e sair.
O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, também contou ao mercado a sua versão sobre o Papai Noel. Ele disse que a eliminação do IOF reduz a volatilidade nos mercados. Não foi o que observamos hoje, muito pelo contrário. Com o trânsito livre é de se esperar um aumento da volatilidade e não uma redução.
Para finalizar, o secretário do Tesouro Nacional mostrou que aprendeu muito bem com as aulas de stand up comedy de seu professor Guido Mantega ao dizer que “o principal fator de atração de capital estrangeiro para o financiamento da dívida pública brasileira são os fundamentos do país.”
Este tipo de postura desagrada o investidor. Políticos precisam ser otimistas, mas as declarações do governo brasileiro estão completamente fora da realidade. Não há como acreditar em alguém que está tentando, notoriamente, contradizer a razão. Enquanto o governo continuar tratando o mercado como uma criança ingênua, a ser facilmente tapeada, as suas declarações continuarão sendo ouvidas por nós como historinhas de Papei Noel.
A bolsa brasileira despencou nesta quarta-feira. Um pivot de baixa foi acionado com a perda dos 52.9k, amentando a força da tendência de queda de curto prazo. Com esta formação técnica, a região de suporte em 52.5k dificilmente conseguirá segurar a pressão vendedora.
Nos Estados Unidos o índice Dow Jones fechou o pregão em queda de 1,43%, mantendo a tendência de baixa de curto prazo. Uma importante LTA intermediária (linha que sustentou todo o movimento deste ano) foi perdida com candle de força relevante. O índice atingirá a primeira zona de suporte expressiva aos 14.8k, também fragilizada em decorrência da perda desta importante LTA, provavelmente amanhã.
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