Especial: Após três anos, Cielo volta a valer mais que Stone e coroa virada de ciclo no setor
Por Matheus Piovesana
São Paulo, 22/08/2022 - A inversão de posições de Cielo e Stone em valores de mercado, pela primeira vez desde 2019, coroa uma mudança no ciclo das empresas de maquininhas no Brasil. Enquanto as líderes Cielo e Rede aceleram o crescimento e voltam a ganhar mercado, algumas das desafiantes da "guerra das maquininhas" perdem espaço, ao mudar o foco do crescimento para a rentabilidade diante da alta dos juros e de um cenário econômico mais complexo.
Avaliada em R$ 15,2...
Especial: Após três anos, Cielo volta a valer mais que Stone e coroa virada de ciclo no setor
Por Matheus Piovesana
São Paulo, 22/08/2022 - A inversão de posições de Cielo e Stone em valores de mercado, pela primeira vez desde 2019, coroa uma mudança no ciclo das empresas de maquininhas no Brasil. Enquanto as líderes Cielo e Rede aceleram o crescimento e voltam a ganhar mercado, algumas das desafiantes da "guerra das maquininhas" perdem espaço, ao mudar o foco do crescimento para a rentabilidade diante da alta dos juros e de um cenário econômico mais complexo.
Avaliada em R$ 15,2 bilhões, a Cielo passou a valer mais que a Stone pela primeira vez desde fevereiro de 2019, segundo dados compilados pelo Broadcast. Neste ano, as ações da líder de mercado mais que dobraram de valor, e têm o melhor desempenho do Ibovespa - algo impensável no auge da "guerra" do setor.
O pano de fundo das movimentações das ações das empresas é a percepção do mercado de que o ciclo "virou" a favor dos players tradicionais. Esta ideia, que começou a ganhar espaço entre analistas no primeiro semestre, se consolidou na temporada de resultados do setor. Das cinco maiores empresas, as quatro principais já divulgaram os números.
No segundo trimestre, a Cielo, controlada por Bradesco e Banco do Brasil, teve crescimento maior que a média do mercado, no comparativo com o primeiro, assim como a Rede, que pertence ao Itaú Unibanco. Getnet e Stone, que ocupam a terceira e a quarta posições, perderam mercado. Fontes do setor estimam que o mesmo ocorreu com a PagSeguro, que revela números na quinta-feira.
O cenário de aumento de juros no Brasil ao longo do último ano fez com que o setor de adquirência abandonasse a guerra de preços que reinara nos quatro anos anteriores. Para repassar ao cliente a maior despesa financeira, as empresas reajustaram preços desde o segundo semestre de 2021.
Outros fatores surgiram no caminho, como a guerra da Ucrânia e a política de covid zero da China. Parecem problemas improváveis a um setor intrinsecamente ligado à economia doméstica, mas os dois fatores encareceram a aquisição de maquininhas. Como precisam ter equipamentos em estoque para não perder vendas, as empresas tiveram de lidar com a pressão.
A PagSeguro reportou, no primeiro trimestre do ano, um aumento das despesas relacionadas a essa compra, o que pressionou a cotação de suas ações. A Getnet recorreu a mudanças na política de depreciação contábil dos equipamentos, enquanto a Cielo relatou ter recomposto estoques antes para evitar problemas.
Múltiplos
A PagSeguro, controlada pelo UOL, continua sendo a empresa mais valiosa do setor. Era avaliada em R$ 21,4 bilhões no final do pregão desta segunda. Entretanto, a diferença para a Cielo vem diminuindo à medida que a ação da líder de mercado sobe, e a ação da PagSeguro cai.
Ainda assim, Stone e PagSeguro continuam com os múltiplos mais altos do grupo: o BTG calcula que o preço/lucro das ações está em 41,2 vezes e 15,5 vezes, respectivamente. A Cielo é negociada a 9,1 vezes, e a Getnet, que está prestes a deixar a Bolsa, a 7,9 vezes.
O menor múltiplo e a perspectiva de recuperação sólida dos lucros têm feito com que analistas apostem na líder de mercado. "Para navegar o setor de pagamentos e a potencial melhoria no cenário de preços (sempre de equilíbrio instável), continuamos a ver a Cielo como a melhor opção", afirmou o analista Eduardo Rosman, do BTG, na semana passada. Nesta segunda, o banco elevou o preço-alvo dos papéis da companhia.
A expectativa do mercado é de que os aumentos de preço sejam capazes, à frente, de compensar o aumento das despesas financeiras. No caso da Stone, analistas calcularam que uma coisa não compensou a outra no segundo trimestre. A companhia, no entanto, está intensificando reajustes em agosto, diante de um cenário competitivo mais racional. Racionalidade, aliás, é a palavra da vez no setor.
Contato: matheus.piovesana@estadao.com
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