A Yduqs, companhia do setor de educação, registrou um prejuízo líquido de R$ 120,3 milhões no quarto trimestre de 2023, número 42,7% maior do que o prejuízo de R$ 84,3 milhões no mesmo período do ano imediatamente anterior.

A última linha do balanço veio pior a despeito da alta de 11,6% da receita líquida, que saiu de R$ 1,1 bilhão para R$ 1,22 bilhão. “Consequência, principalmente, de expressivos crescimentos na BU Premium (de medicina), com alta de 16,1% no ano, e BU Digital, com alta de 18,2%. Em ambos os negócios, o crescimento de receita foi possível em função do crescimento de ticket, tanto na captação quanto no repasse para alunos veteranos e do crescimento das bases de graduação”, explica a companhia.

O custo dos serviços prestados avançou menos do que a receita, com alta de 6,6% no ano, chegando a R$ 540,3 milhões, o que resultou em uma margem bruta saltando de 54% para 56,1%. As despesas comerciais ajustadas, no entanto, subiram 14,9%, chegando a R$ 248,3 milhões, e as despesas gerais e administrativas (G&A, na sigla em inglês), cresceram 30,6%, chegando a R$ 373,4 milhões.

A Yduqs explica que os maiores gastos com pessoal, com alta de 23,4% e chegando a R$ 106,1 milhões, se deram pela maior remuneração variável, após performance positiva. As provisões para contingências também crescera, chegando a R$ 24,8 milhões, o que dá por avaliações de risco em causas trabalhistas.

O Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ajustado ficou em R$ 344,9 milhões, alta de 10% no ano. O não ajustado, no entanto, caiu 11,6% na mesma base, para R$ 226,9 milhões, o que a empresa atribui a, justamente, a revisão de continências trabalhistas e a uma baixa contábil.

Por fim, o resultado financeiro da Yduqs foi negativo em R$ 173,8 milhões, número 2,1% menor do que os R$ 177,6 milhões do quarto trimestre de 2022. ” A melhor performance da linha de despesas financeiras é justificada não só pela redução de juros e encargos, dada a curva de juros, mas também por um menor volume de descontos financeiros no ano”, diz no documento.

A Yduqs fechou dezembro com uma dívida líquida de R$ 4,,49 bilhões, frente a R$ 4,36 bilhões no mesmo mês de 2022.

Os resultados da Yduqs (BOV:YDUQ3) referente suas operações do quarto  trimestre de 2023 foram divulgados no dia 14/03/2024.

Teleconferência

Como destacado pelos analistas, a sinalização da empresa em teleconferência de balanços foi de que o crescimento teria sido maior se não fossem os efeitos desse ano, como um ano de não-bônus.

“A taxa de crescimento que a gente teria visto no ano teria sido muito diferente não fosse esse ponto”, afirma Eduardo Parente, CEO da companhia, ainda que as orientações prometidas pela Yduqs para 2023 tenham sido cumpridas. Em 2024, a expectativa é de alta de 15 a 25% na captação do segmento presencial no 1º semestre, gastos de capital (Capex, em inglês) estável em relação à 2023 (em R$ 470 milhões) e lucro líquido com crescimento de 2 dígitos no primeiro trimestre deste ano.

“Com a retomada de demanda que estamos vendo, temos expectativa de seguir na trajetória de preços (do presencial) ganhando em relação à inflação”, afirmou o CEO.

“Temos um crescimento de receita de 24%, sendo na graduação 27%, tivemos captações muito relevantes no ano”, considera Parente sobre o ensino à distância (EaD). O executivo falou com otimismo sobre a alavancagem operacional e a pretensão da companhia de mantê-la em baixo patamar.

“Temos trabalhado preço de maneira muito mais forte desde a pandemia”, pontua o executivo sobre a modalidade presencial de ensino.

A administração apresentou detalhes sobre a jornada de transformação tecnológica, com fortalecimento do ecossistema digital. Dentre os destaques, estão a implantação do sistema Salesforce e o aumento de engajamento de alunos no aplicativo e no uso EaD.

VISÃO DO MERCADO

A Yduqs reportou na noite de quinta-feira (14) resultados do quarto trimestre de 2023 (4T23) considerados em linha com as expectativas por grande parte dos analistas. Os dados cumpriram as orientações (guidance, em inglês) propostas pela companhia para 2023 e apresentaram otimização de custos. Contudo, as ações caíam 8,82%, a R$ 19,34, às 12h12 (horário de Brasília), chegando a uma mínima de R$ 19,17 (ou queda de 9,62%).

O movimento pode ter algumas explicações. Alguns analistas destacaram que o guidance para 2024 foi considerado mais fraco que o esperado, enquanto outros focaram nos efeitos não-recorrentes que, se levados em consideração, levaram a números abaixo do esperado.

Bradesco BBI

O Bradesco BBI, também desanimado com as projeções da companhia para o ano, ainda chama atenção para a alta nas despesas e inadimplência, o que acabou impactando as margens da empresa.

Os analistas Marcio Osako e Caio Rocha, do Bradesco BBI, escrevem que o lucro no quarto trimestre superou expectativas. No entanto, maior depreciação e despesas financeiras pressionaram o indicador.

Osako e Rocha também apontam que as metas que a Yduqs apresentou para o primeiro trimestre vieram abaixo do esperado, mas o banco acredita que pode ser efeito sazonal e vê potencial para a companhia fechar a diferença ao longo do ano.

BTG Pactual

Dentre as análises, o BTG Pactual também pontuou o trimestre como “fraco e prejudicado por eventos não recorrentes”. Os resultados seriam considerados em linha com as expectativas apenas quando ajustados por uma quantidade numerosa de itens considerados não recorrentes, que trouxeram impacto na geração do fluxo de caixa. Em relação ao guidance para 2024, assim como para o Morgan, o banco também considerou que o segmento presencial apresentou números melhores que a estimativa em 10% enquanto o ensino a distância deve permanecer mais estável, abaixo das projeções para 2024 do BTG.

Citi

O Citi traz como destaque negativo a queima de caixa de R$ 180 milhões no último período reportado pela companhia. As metas que a Yduqs passou também indicam uma reaceleração nos cursos presenciais, mas perda de fôlego no ensino a distância, o que pode pressionar receita.

Itaú BBA

A visão do Itaú BBA foi de resultados alinhados com as expectativas de receita e rentabilidade. O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado aumentou em 10% em relação ao ano anterior, em linha com as projeções trimestrais. Por outro lado, embora tenha havido otimização de custos, esse progresso foi contrabalançado por despesas gerais e administrativas, comerciais e provisão para devedores duvidosos (PDD) mais elevadas. Além disso, a empresa aumentou sua dívida líquida em R$ 264 milhões, apesar de alguma geração de fluxo de caixa operacional. A Yduqs apresentou, no guidance para este ano, a projeção de um crescimento significativo na captação presencial no primeiro semestre de 2024, prevendo um lucro líquido ajustado entre R$ 172-187 milhões. Por conta disso, o BBA reiterou sua recomendação de “compra” para YDUQ3, fixando preço-alvo de R$ 30 para o final de 2024.

JP Morgan

O JPMorgan reiterou recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para a ação da Yduqs, apontando que enxerga a desvalorização após a divulgação de resultados como um bom ponto de entrada.

Os analistas do banco lembram que a Yduqs foi a primeira grande empresa a retomar a geração de caixa já em 2023 e deve expandir isso em 2024, oferecendo um rendimento de 8,6% de Fluxo de Caixa Livre (FCF), ajudado pela expansão do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e pela redução das despesas com juros líquidos, enquanto o capex permanece estável.

Em 2023, a companhia gerou R$ 112 milhões em fluxo de caixa livre para o patrimônio (calculado pelas mudanças na dívida líquida ajustada pelos dividendos), representando 2,0% de sua capitalização de mercado atual e o banco espera que isso se expanda para R$ 480 milhões em 2024 e R$ 702 milhões em 2025 (rendimento de 12,6%), principalmente impulsionado pela expansão do Ebitda e redução nas despesas com juros devido à queda das taxas e desalavancagem, além de uma expectativa de menores itens não recorrentes. Já o capex deve permanecer em R$ 470 milhões, conforme o guidance da empresa.

Segundo o relatório, o crescimento será impulsionado por premium e digital, gerando R$ 195 milhões de Ebitda extra. O JPMorgan projeta uma expansão de receitas de 10% ano a ano em 2024, com o Premium subindo 17% liderado pela maturação, e as receitas digitais aumentando 10% ano a ano, principalmente em linha com expectativa de crescimento da base de alunos e contribuição de ingressos limitada.

O banco também espera alguma aceleração vinda do campus, com aumento de 5% neste ano em comparação com 3% no ano passado, principalmente devido a tendências de melhoria na base de alunos, que devem expandir pela primeira vez desde 2015. Além disso, o banco prevê um aumento pequeno de 0,5 ponto percentual (pp) nas margens, com Ebitda ajustado subindo 11% ano a ano em 2024.

Já as despesas com juros devem cair R$ 125 milhões ao longo do ano, impulsionadas por uma redução nas taxas de juros e também pela queda na alavancagem, que deve cair de 2,1 vezes Dívida líquida/Ebitda para 1,6 vez até o final de 2024. Analistas também projetam lucro de R$ 75 milhões para 2025, à medida que a alavancagem diminui para 1,2 vez.

No geral, o JPMorgan reduziu as receitas estimadas em 2,5% e 3,0% para 2024 e 2025, Ebitda ajustado em 2,8% e 5,0% e lucro ajustado (que correspondem aproximadamente à definição da Yduqs) em 14% e 10%.

Apesar de reiterar recomendação de compra, o banco cortou o preço-alvo de R$ 28,50 para R$ 27, mas ainda oferecendo mais de 40% de upside. O movimento ocorre principalmente devido a a estimativas mais baixas, parcialmente compensadas por uma pequena redução no custo de capital próprio WACC (14,9% versus 15,1% anteriormente).

Em termos de avaliação, o banco avalia Yduqs em 9 vezes Preço/Lucro e Valor da Firma/Ebitda de 5,4 vezes para 2024, ambos excluindo o IFRS16, que estão próximos da Cogna e um pouco abaixo da Anima. A preferência do JPMorgan em Educação é Anima (overweight), Yduqs (overweight), Ser (overweight), Afya (neutro), Cogna (neutro).

Morgan Stanley

O Morgan Stanley, por sua vez, ressaltou que a receita e o Ebitda ajustado ficaram em linha, mas o Ebitda não ajustado decepcionou em 24% por conta dos efeitos não-recorrentes. Enquanto isso, o guidance para o primeiro trimestre de 2024 foi misto: melhor do que o esperado no presencial, mas pior no ensino a distância (EaD).

XP

Já de acordo a análise do Research da XP, a empresa conseguiu demonstrar aumento do ticket médio, com dados saudáveis em todas as três unidades de negócio (premium, digital e presencial). O guidance ficou acima da projeção da corretora, assim como as estimativas de captações. A visão da XP segue otimista para o nome, com indicação positiva de captações para os próximos trimestres e boas perspectivas para o setor.

O XP tem visão diversa. Apesar das pressões nas margens devido às captações recentes, os analistas da casa enxergam potencial para aumento das margens no futuro, à medida que esses efeitos se dissipam. A margem Ebitda (lucro operacional) ajustada ficou praticamente estável, devido aos maiores pagamentos e uma previsão para pagadores duvidosos maior, ambos a partir da alta captação.

As projeções de captações para o primeiro trimestre de 2024 da Yduqs superaram as expectativas já otimistas dos analistas, aponta a XP, assim como aquelas para o lucro líquido ajustado do mesmo período. A perspectiva positiva se estende, em geral, para o ano de 2024, com a empresa indicando despesas de capital estáveis em relação ao ano anterior.

Não ajuda em nada os juros estarem em ajustes altistas na sessão de hoje, segundo dia seguido de elevação da curva de futuros aqui no Brasil, acompanhando o movimento nos Estados Unidos.

Dados que apontam a força da economia americana põem em xeque o horizonte para corte de juros pelo banco central dos EUA. Podem ficar ainda mais para frente, reduzindo o espaço para o BC daqui aprofundar os cortes na Selic.

Com taxas de juros eventualmente mais altas, o poder aquisitivo da população segue contido, pressionando o potencial da Yduqs de crescer suas receitas.

* Com informações da ADVFN, RI das empresas, Valor, Infomoney, Estadão, Reuters e TC
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