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Multiplan planeja dobrar faturamento em três anos
São Paulo, 16 de Julho de 2008 - O economista José Isaac Peres, formado pela Faculdade Nacional de Economia, que mais t
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Organizações, Empresas e Entidades Pessoas Datas Valores Localidades
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Integra do texto
São Paulo, 16 de Julho de 2008 - O economista José Isaac Peres, formado pela F...
http://www.gazetamercantil.com.br/integraNoticia.aspx?Param=608%2C0%2C+%2C1945394%2CUIOU
Multiplan planeja dobrar faturamento em três anos
São Paulo, 16 de Julho de 2008 - O economista José Isaac Peres, formado pela Faculdade Nacional de Economia, que mais t
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Organizações, Empresas e Entidades Pessoas Datas Valores Localidades
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Integra do texto
São Paulo, 16 de Julho de 2008 - O economista José Isaac Peres, formado pela Faculdade Nacional de Economia, que mais tarde daria lugar à Universidade do Brasil e depois à Universidade Federal do Rio de Janeiro, não chegou a usar o diploma para trabalhar na área. Era o início de 1960. Daquele período estudantil ficou o orgulho de ter sido aluno de Roberto Campos, Octávio Gouvêa de Bulhões e Antônio Dias Leite. Embora tivesse vinte e poucos anos, Peres já era corretor de imóveis e comandava a Veplan, embrião dos seus negócios que mais tarde seria responsável pelo lançamento do Shopping Ibirapuera na década de 1970. "Estou nesse negócio há 45 anos", diz ele.
Alugar espaços nos shoppings construídos e manter o controle do mix de lojas, foi fruto da observação econômica de Peres. "Ao montar o Ibirapuera, percebi que se alugássemos as lojas íamos receber o mesmo dinheiro que receberíamos em dez anos com a venda das lojas", relembra. "Deduzi que quem aluga recebe três vezes e quem vende nem sempre recebe uma vez." Do início dos negócios para os dias atuais, muitas coisas mudaram.
Peres vendeu a Veplan e depois montou a Multiplan, hoje dona de uma rede de 13 shoppings que deve faturar este ano cerca de R$ 5 bilhões e lucrar R$ 450 milhões. Peres teve sócios do porte do francês BNP Paribas, do norte-americano Goldman Sachs e o brasileiro Bozano, Simonsen. Desde que abriu o capital, no ano passado, a empresa ganhou novos sócios que ficaram com 25% de suas ações. O empresário viu a companhia saltar de uma avaliação de R$ 500 milhões em ativos para mais de R$ 4 bilhões. Essa avaliação poderá subir ainda mais em três anos, quando pretende dobrar o faturamento e, rapidamente, alcançar a marca de 20 shoppings.
Gazeta Mercantil - O Grupo Multiplan ficou um bom tempo parado. O que aconteceu?
Não podia acelerar com uma inflação de 500%, 200%, uma taxa de juros absolutamente absurda, então tivemos que hibernar durante algum tempo até mesmo para que pudéssemos sobreviver. Não éramos uma empresa capitalizada, mas assim mesmo ao longo da nossa história tivemos alguns sócios institucionais importantes, como BNP Paribas, que converteu uma dívida que não recebia do Brasil em investimento. O governo brasileiro dava crédito para ele investir em empresas brasileiras, então aproveitei isso e fiz a primeira grande capitalização do grupo.
Gazeta Mercantil - Além do Paribas quais outros sócios foram importantes na vida do grupo?
Com a saída deles veio o Goldman Sacks, que foi sócio durante 10 anos. Também tivemos uma sociedade com o Bozano, Simonsen e depois compramos a parte deles em março de 2006. Três meses depois fizemos uma sociedade com o Ontario Teachers’ Pension Plan, um grande fundo de pensão canadense, e em seguida fomos para o IPO. Não havia alternativa, já que todos os concorrentes estavam indo para o mercado de capitais e não podíamos ficar para trás.
Gazeta Mercantil - O que o grupo ganhou com a oferta pública de ações?
Uma empresa aberta é um animal totalmente diferente. Ajuda você a se programar, a estabelecer metas, a organizar-se, ser mais transparente e a instituir uma empresa para muitos anos de vida, facilitando também o processo sucessório. Acho que o IPO foi maravilhoso. O que é ruim? Antes tinha um carro de passeio e agora ando num carro de corrida, o desconforto é esse, tenho de estar correndo mesmo quando não quero correr. Quem entra nesse mundo não dá para hibernar, mas a gente está se movimentando bem. Colocamos na bolsa, no ano passado, R$ 1 bilhão do capital da empresa.
Gazeta Mercantil - Algumas empresas do setor aceleraram o crescimento. Por que o senhor ficou olhando outros assumirem a dianteira?
Temos de analisar quantidade e qualidade. Não sou uma pessoa de fazer quantidade e fui buscar a qualidade. Tenho uma filosofia na vida e digo sempre que achei o segredo do sucesso: sempre fazer bem feito. Isso se traduz em lucro, em resultado financeiro. Não é animador entrar num shopping que não diz coisa nenhuma, que não tem atrativo, não tem calor, não tem alguma magnitude. Temos a maior empresa do setor em faturamento. Este ano, o grupo deverá alcançar um lucro aproximado de R$ 450 milhões, com vendas de R$ 5 bilhões. É uma boa margem de lucro. Costumo dizer que o nosso negócio é um negócio de viúva, tranqüilo porque não vai dar grandes saltos, mas vai crescer constantemente.
Gazeta Mercantil - Quais são os planos ?
Em dois anos saímos de uma empresa que estava avaliada em R$ 500 milhões para uma companhia que chegou ao IPO, no ano passado, com valor de mercado de quase R$ 4 bilhões. Se for analisado o valor dos nossos ativos, a empresa vale R$ 7 bilhões. Quis comprar a participação do Barra Shopping, no Rio, por R$ 2 bilhões e meus sócios não quiseram vender. Neste momento, estamos construindo em Porto Alegre o maior shopping do Sul do país, o Barra Shopping Sul, que deve ficar pronto em outubro; temos outro em construção na Vila Olímpia, em São Paulo, e seis projetos de shoppings em desenvolvimento nas cidades de São Caetano, Jundiaí, Maceió, Campo Grande, Barra da Tijuca e Lago Sul (Brasília). Fora isso, temos quatro shoppings em expansão.
Gazeta Mercantil - A meta é dobrar de tamanho?
Somos hoje maiores que o Iguatemi e que a BR Malls. Nossa rentabilidade por metro quadrado é a maior, nossos shoppings são todos muito bons, consolidados. Imagine o seguinte: só o Barra Shopping rende à empresa R$ 100 milhões por ano. Então, às vezes, dois shoppings podem render mais do que uma empresa que tem 10 ou 15 shoppings. A nossa estratégia é sempre estar focado e tirar o maior proveito do projeto, mas estamos fazendo esforço para ter mais seis shoppings. Acredito que muito em breve vamos ter 20 empreendimentos.
Gazeta Mercantil - Para deslanchar esses empreendimentos quanto o grupo deverá investir?
Acho que vamos investir em três anos de R$ 2 bilhões a R$ 2,5 bilhões na construção de vários centros, mas somos conservadores. A empresa tem um grau de endividamento zero. Ou seja, tem em caixa mais do que deve.
Gazeta Mercantil - O senhor está construindo na Vila Olímpia, ao lado do MorumbiShopping (do grupo), do Iguatemi e do Cidade Jardim. Com toda essa concentração, o novo shopping não corre risco?
Quando a Veplan fez o Ibirapuera em 1973, o Iguatemi, ainda um embrião de shopping, era o mais perto que havia nas redondezas. Naquela época a área de influência de um shopping pegava um raio de 10 quilômetros. Hoje com o caos urbano que existe nas grandes cidades, a área de influencia é de dois quilômetros. Aumentou a concentração demográfica em São Paulo em determinadas regiões e o que se fazia em meia hora de automóvel anteriormente hoje se faz em duas horas. Tem espaço para o Vila Olímpia. Aquele bairro está crescendo e vai crescer mais ainda. Fizemos uma aposta que vai dar certo.
Gazeta Mercantil - O que o senhor acha dos novos empreendimentos batizados de multiúso?
Somos precursores desse tipo de empreendimento, com o Barra Shopping, no Rio. As pessoas querem resolver sua vida num lugar só, com academia perto do shopping, do escritório e sem trânsito. As pessoas sabem que andar de carro é um sacrifício. Se as cidades fossem muito organizadas não precisavam de shoppings. Com o multiúso você tem tudo num só lugar: escritório, hotel, shopping, centro médico etc.
Gazeta Mercantil - Por falar em segurança, o Shopping Morumbi passou por um momento delicado quando um estudante entrou no cinema atirando...
São coisas que a gente não tem como controlar porque se uma pessoa fora das suas faculdades normais entra armado num cinema e atira e mata as pessoas...
Gazeta Mercantil - Mas as pessoas vão ao shopping por que acreditam que lá seja seguro.
Mas é. O índice de furtos de automóveis num shopping é quase zero. Agora olha o índice de furto na rua, é gigantesco. As pessoas, às vezes, reclamam do estacionamento pago, mas é o seguro mais barato que existe, se roubarem o seu carro o shopping é obrigado a te dar outro carro, e você só paga R$ 3,00 para ficar algumas horas.
Gazeta Mercantil - O mercado tem cerca de 300 shoppings. Qual o critério para que um empreendimento seja considerado shopping?
Tudo que é um aglomerado de lojas pode ser chamado de shopping, mas às vezes são áreas de superfície comercial de 2 mil a 3 mil m, com 20 a 30 lojas. Isso não difere muito das tradicionais galerias comerciais que havia antigamente. Para mim um shopping tem de ter pelo menos 100 lojas e uma grande diversidade de atividades.
Gazeta Mercantil - Os especialistas diziam que quando o mercado tradicional de shoppings estivesse saturado haveria uma especialização, que não vingou. O que aconteceu?
Todo mundo acha que o shopping de móveis, por exemplo, pode ser, teoricamente, uma coisa muito boa, mas é muito monótono. Acredito que o grande atrativo do shopping é ter a maior variedade e opções de compra.
Gazeta Mercantil - O mercado está bastante competitivo. Há espaço para todos ou haverá muita aquisição?
Sou comprador, mas não compro a qualquer preço. No nosso caso é diferente, porque somos muito mais fabricantes de shoppings. O comprador é um sujeito que não sabe fazer, então ele compra. Sempre fomos fabricantes, sempre criamos desde a concepção e construção até a gestão.
Gazeta Mercantil - O grupo chegou a fazer negócios no exterior. Ainda há interesses lá fora?
No exterior, tivemos atividades em Portugal, onde fizemos o primeiro shopping, que é um grande empreendimento, o Cascais Shopping. Depois, vendemos nossa parte para o Sonae. Nos Estados Unidos também fizemos alguns empreendimentos e depois saímos. Resolvi me concentrar no Brasil. Achei que um dia chegaria o momento do Brasil. Tenho orgulho em dizer que ensinamos o Sonae a fazer shoppings e depois tornou-se o maior desenvolvedor desses empreendimentos na Europa.
Gazeta Mercantil - O Sonae é um dos principais concorrentes do Grupo Multiplan no mercado brasileiro...
Mas fico muito orgulhoso de tê-lo como concorrente. É a criatura contra o criador.
Gazeta Mercantil - Há alguma possibilidade de alguma associação entre vocês?
Sempre haverá porque acho que as associações, as fusões de empresas são coisas que naturalmente vão acontecer, não estamos fechados a essas possibilidades. No mundo capitalista, quando duas ou três empresas de reúnem é porque ambos vão sair ganhando muito mais, a grande dificuldade são os acordos, os acionistas, a gestão, a governança. Se tiver uma pessoa que comanda, que toma as decisões é mais fácil. Quando você reúne várias pessoas, cria um conselho para tomar uma decisão, as coisas são mais lentas. É isso que salva as pequenas empresas.
Gazeta Mercantil - A lentidão dos gigantes?
Os pequenos são mais rápidos. Antigamente, costumava-se dizer que a diferença entre um empresário de US$ 1 bilhão e o de US$ 100 milhões é que o primeiro nomeia uma comissão e manda um cara ir lá estudar, depois monta um escritório e não faz nada. Já o outro, o de US$ 100 milhões, vai lá e faz acontecer. A estrutura das empresas necessariamente tem que ter um empresário. É o sujeito mais ousado, mais criativo, que enxerga mais longe e é visionário. Todos os nossos shoppings, por exemplo, foram periféricos, por isso me considero o rei da periferia.
Gazeta Mercantil - Por que ‘rei da periferia’?
Quando fiz um shopping em Ribeirão Preto, comprei uma fazenda de cana, era um canavial, você vai lá hoje e tem uma cidade. No Morumbi, a Berrini não tinha nada, alavancamos o desenvolvimento da Berrini. Em Belo Horizonte, fiz um shopping em meio a chamada BR-3, não tinha luz, nada em volta, era como se você tivesse construindo um castelo no deserto e hoje é a área de maior desenvolvimento da capital mineira. Na Barra da Tijuca, quando fiz o Barra Shopping, também não tinha luz na avenida e telefone. Tivemos quer criar uma central telefônica móvel para poder atender os lojistas que iam se instalar lá. Hoje a Barra é uma das regiões do Brasil que mais cresce, apesar de todas as dificuldades do Rio de Janeiro.
Gazeta Mercantil - O grupo pretende ir para São Caetano, mas não irá para Campinas.
Campinas é super ofertado, tem muito shopping. Acho que não é um bom momento para Campinas. São Caetano, sim, vamos fazer um shopping para o ABC. Será um shopping super regional.
Gazeta Mercantil - Como o senhor começou no ramo de shopping center?
Estudava economia na parte da manhã e à tarde, trabalhava como corretor de imóveis no Rio. Vi que como corretor fazia muito sucesso, então montei uma empresa que se chamava Veplan. Tinha apenas 23 anos. Em 1971, com 30 anos de idade, abrimos o capital e foi a primeira empresa imobiliária a abrir capital. Depois fundi a Veplan com o grupo Cordeiro Guerra e aí surgiu a Veplan Residência, que envolvia também um banco. E foi essa uma das razões por ter vendido minha parte e montado a Multiplan. Meus sócios queriam ser banqueiros. Ser banqueiro implica em não ter coração. Nunca conseguiria ser banqueiro porque não tenho talento para tomar a casa dos outros, a propriedade, mandar o sujeito para falência. Tenho medo de trabalhar com o dinheiro dos outros porque o meu, posso perder, mas o dos outros é sagrado.
Gazeta Mercantil - Aos 67 anos, o empresário Isaac Peres já pensa na sucessão?
Tenho quatro filhos que trabalham comigo e, provavelmente, um deles será meu sucessor. Logicamente a empresa quando tem um novo presidente toma outros rumos, às vezes, para melhor, porque já sou jurássico nesse negócio.
Gazeta Mercantil - E quando será isso?
Não fiz a conta ainda. Faço ginástica diariamente e tenho intensa atividade intelectual. A fórmula da longevidade é não parar com a atividade intelectual.
Gazeta Mercantil - O senhor está preparado para deixar o poder?
Não sei, acho que morreria se parasse de trabalhar.(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(Edilson Coelho)
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