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Selic de dois dígitos já não é suficiente
O Banco Central divulgou na manhã desta segunda-feira o Relatório Trimestral de Inflação, um importante documento que mostra os estudos e projeções da autoridade monetária e serve como principal base teórica para condução da política monetária no Brasil. De maneira geral, o documento revela nitidamente o desconforto dos membros Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) com a inflação no País, mesmo com a taxa Selic em patamares mais elevados aos observados no último relat...
fonte: http://www.financasinteligentes.com/
Selic de dois dígitos já não é suficiente
O Banco Central divulgou na manhã desta segunda-feira o Relatório Trimestral de Inflação, um importante documento que mostra os estudos e projeções da autoridade monetária e serve como principal base teórica para condução da política monetária no Brasil. De maneira geral, o documento revela nitidamente o desconforto dos membros Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) com a inflação no País, mesmo com a taxa Selic em patamares mais elevados aos observados no último relatório.
As projeções do Banco Central não são nada animadoras. Em março de 2013, quando a taxa Selic estava em 7,5%, a estimativa para o IPCA de 2014, apontada no Primeiro Relatório Trimestral de Inflação, era de 5,3%. Em junho, no Segundo Relatório Trimestral de Inflação deste ano, a projeção subiu para 5,4%. Já no Terceiro Relatório Trimestral de Inflação, divulgado hoje, a estimativa para o IPCA de 2014 subiu para 5,7%, mesmo com a taxa Selic em 9% pelo último cenário de referência.
O cenário de referência supõe que a taxa Selic será mantida inalterada durante o horizonte de previsão em 9% ao ano e que a taxa de câmbio permanecerá em R$ 2,35 (trabalha com informações disponibilizadas até o dia 06 de setembro de 2013).
Ao mesmo tempo em que a projeção de inflação piorou, mesmo com o aumento da taxa básica de juros, a projeção de crescimento foi reduzida pela terceira vez consecutiva. A estimativa para o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro de 2013, que estava em 3,1% no Primeiro Relatório Trimestral de Inflação, foi reduzida para 2,7% em junho e 2,5% agora em setembro.
A redução na projeção de crescimento está respaldada, principalmente, pela queda significativa dos níveis de confiança, tanto dos empresários, quanto das famílias brasileiras. Já a elevação na projeção de inflação para 2014 deve-se, em grande parte, ao aumento das expectativas de inflação e aos efeitos remanescentes da valorização do dólar.
O índice oficial de inflação (IPCA) ainda não está refletindo a recente desvalorização do real frente ao dólar, mas o próprio Relatório de Inflação aponta que a depreciação cambial já se manifesta em indicadores de preços do mercado atacadista. Isso significa que a inflação voltará a subir com mais força nos próximos meses à medida que o varejo começar a receber o repasse do aumento dos preços no atacado.
O Banco Central voltou a destacar no documento que os efeitos secundários da depreciação cambial “podem e devem ser limitados pela adequada condução da política monetária”, o que em outras palavras significa aumento extra de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros a cada 10% de alta na taxa de câmbio.
Além do problema causado pela depreciação cambial, a permanência elevada, e longe do centro da meta (4,5%), dos índices de preços nos últimos meses/anos contribui para que a inflação mostre resistência, já que este cenário proporciona condições para o surgimento de mecanismos formais e informais de indexação e provoca piora na percepção dos agentes econômicos sobre a dinâmica da inflação. Este quadro precisa ser revertido o quanto antes e, por este motivo, os diretores do Banco Central reafirmaram que “em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação como o observado nos últimos doze meses persistam no horizonte relevante para a política monetária.”
Por fim, o Banco Central ponderou, mais uma vez, que um risco importante para a inflação advém do mercado de trabalho, que mostra margem estreita de ociosidade. “O Comitê reafirma que um aspecto crucial nessas circunstâncias é a possibilidade de o aquecimento no mercado de trabalho levar à concessão de aumentos reais de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade, com repercussões negativas sobre a dinâmica da inflação. Neste ponto, cumpre registrar que a teoria – no que é respaldada pela experiência internacional – ensina que moderação salarial constitui elemento-chave para a obtenção de um ambiente macroeconômico com estabilidade de preços.”
Levando em consideração que o cenário de referência (taxa Selic em 9% e taxa de câmbio em R$ 2,35) ainda não é suficiente para promover a conversão da trajetória de preços ao centro da meta estabelecido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), juntamente com a necessidade de atenuar os riscos inerentes à inflação provocados pelo aquecimento do mercado de trabalho, depreciação cambial, indexação de preços e piora na percepção dos agentes econômicos, a taxa básica de juros precisará bater os dois dígitos (ou seja, superar os 10% ao ano) no curto prazo para que o Banco Central possa cumprir com os seus objetivos e solucionar os problemas apontados no Relatório de Inflação.
A mensagem do diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, de que “há bastante trabalho a ser feito pela política monetária em termos de combate à inflação”, corrobora com os estudos e projeções pesados (as) do último Relatório de Inflação divulgado nesta segunda-feira.
Por outro lado existe claramente um limitador político para o ciclo de alta da taxa Selic. Uma decisão puramente técnica, isenta de interferências/pressões do governo, jogaria a taxa básica de juros para, pelo menos, 10,5% até o dia 15 de janeiro de 2014 (três elevações de 0,5 p.p. nas próximas três reuniões do Copom), onde o ciclo de aperto monetário estaria próximo do fim.
Considerando o limitador político, trabalho, agora, com uma expectativa de que o Banco Central poderá interromper o ciclo de aperto monetário quando a taxa Selic se aproximar ou atingir os 10% ao ano. A implementação de medidas macroprudenciais (elevação do compulsório, por exemplo) complementará as ações de política monetária no combate à inflação, apesar da baixa eficácia quando comparada ao aumento da taxa básica de juros.
Portanto, a minha projeção para o fechamento da taxa Selic, realizada no dia 27 de junho deste ano, provavelmente está errada e será elevada de 9,5% para 10%. Mesmo com a manutenção da taxa básica de juros em 10% ao ano, o Banco Central dificilmente conseguirá cumprir o seu objetivo de carregar a inflação para o centro da meta (4,5%).
Deve-se ressaltar que, embora as possibilidades sejam remotas, a inobservância do limitador político nas próximas decisões de política monetária não deve ser descartada. O Relatório de Inflação continua transmitindo uma mensagem bem hawkish (menos intolerante com a inflação e defensor de juros mais altos). Nota-se, também, um pequeno desgaste nas relações entre as lideranças do Planalto e diretores do Banco Central. Estes últimos, por sua vez, desmentiram algumas declarações controversas do governo no que se refere às competências do Banco Central, fato que não acontecia nos anos anteriores.
No mercado de capitais o índice Bovespa despencou 2,61%, aumentando a força da tendência de baixa de curtíssimo prazo. Além do Relatório de Inflação mostrar deterioração do cenário doméstico, a leitura final do Índice Gerente de Compras da China ficou em 50,1 pontos no mês de setembro, bem abaixo da prévia de 51,2 pontos divulgada no dia 23 deste mês. A leitura do indicador sugere que a atividade industrial chinesa enfraqueceu significativamente nos últimos 10 dias.
O aparecimento de um marubozu de força relevante no gráfico diário sinaliza que a importante zona de apoio formada pela LTA dos 44.1k e região de suporte em 52.4k não conseguirá segurar a tendência de baixa de curtíssimo prazo iniciada nos 55.9k. A próxima linha de suporte está posicionada nos 49.5k, onde a perda desta região poderá ameaçar a manutenção da tendência de alta de curto e médio prazo.
Apesar de fechar mais um mês em alta, o índice Bovespa sinalizou topo/reversão após testar a média móvel simples de 20 períodos mensal, que por sua vez passa na mesma região dos 55.9k. O candle de fechamento não é uma estrela cadente, tal como ocorreu no gráfico semanal, mas apresenta um pavio longo superior relevante indicando a possibilidade de novas correções nas próximas semanas/meses.
A tendência de alta de médio prazo será invalidada em caso de perda da importante linha de suporte em 47.8k e LTA de 2002 que passa, aproximadamente, na mesma região da referida linha de suporte.
Nos Estados Unidos o índice Dow Jones fechou o pregão em baixa de 0,84% influenciado pelo impasse nas negociações entre Republicanos e Democratas visando evitar uma paralisação forçada de alguns órgãos do governo norte-americano. A região dos 15.2k foi perdida, mostrando que a minha análise da última quinta-feira estava errada. Não há formação de fundo no Dow Jones e um novo pivot de baixa foi acionado.
Postado por Finanças Inteligentes às 21:07 9 comentários: http://www.financasinteligentes.com/
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