Rio de Janeiro, 17 de Setembro de 2013 – Apesar de a Síria não figurar entre os principais parceiros comerciais do Brasil, uma eventual intervenção militar no país, liderada pelos Estados Unidos, poderia ter um impacto negativo sobre a economia brasileira, adiando a retomada esperada pelo governo.
No entanto, a intensidade desse revés dependeria da duração e da extensão do ataque ao país do Oriente Médio.
Em 2011, quando surgiram as primeiras manifestações contra o presidente Bashar al-Assad, a Síria era apenas o 41º maior parceiro comercial do Brasil.
Ainda assim, a economia brasileira não ficaria imune a um possível contágio de um conflito no país, que viria, principalmente, de um aumento na cotação internacional do petróleo.
Embora não seja um grande produtor da matéria-prima (ocupa a 32º posição, segundo um ranking global, a Síria possui uma localização geopolítica importante no Oriente Médio, muito próxima de grandes produtores de petróleo, como a Arábia Saudita, o Irã e o Iraque. A escalada de um confronto no país poderia reduzir a oferta dessa matéria-prima, refletindo em um aumento dos preços em nível internacional. Além do mais, tal quadro tenderia a se agravar com a proximidade do inverno no Hemisfério Norte, no final do ano, quando a demanda por petróleo para calefação costuma aumentar.
Com o petróleo mais caro, o custo da energia subiria, o que prejudicaria diversos setores da economia. O aumento da cotação internacional do petróleo também reduziria a competitividade da economia chinesa, essencialmente exportadora. Uma retração na atividade econômica da China, por sua vez, ameaçaria a incipiente recuperação da economia mundial. Para o Brasil, os efeitos seriam ainda mais nocivos, pois a China é o nosso principal parceiro comercial.
Um eventual aumento na cotação internacional do petróleo também elevaria a pressão por um reajuste no preço dos combustíveis no Brasil, atualmente controlado pela Petrobras. Hoje, para suprir a demanda interna, a estatal importa petróleo a preços de mercado e vende mais barato localmente. O adiamento do repasse aos consumidores vem causando um rombo nas contas da empresa, que poderia ser ampliado caso um conflito na Síria estoure. Por outro lado, um reajuste no preço dos combustíveis, se concretizado, poderia impactar negativamente o controle da inflação, que já está próxima da meta determinada pelo governo (6,5%).
Além de pagar mais pelo petróleo, o Brasil também poderia sofrer indiretamente os efeitos de uma nova incursão militar dos EUA no Oriente Médio. Um novo confronto armado agravaria o endividamento público dos Estados Unidos, o que restringiria ainda mais os gastos do governo. Essa limitação seria prejudicial em um momento em que a atividade econômica dos EUA começa a dar os primeiros sinais de recuperação.
Neste sentido, uma retração da economia nos EUA poderia contaminar o restante do mundo, ameaçando a retomada da atividade econômica global. Em última instância, poderia haver ainda uma intensificação da migração de recursos do Brasil – bem como de outros emergentes – para ativos mais seguros, como o dólar ou o ouro.
Investidores são avessos a riscos e costumam, em momentos de grande instabilidade internacional, buscar investimentos mais seguros, como títulos de dívida do Tesouro americano, em detrimento de aplicações em bolsa de valores, especialmente dos emergentes. Uma eventual fuga maciça de recursos valorizaria ainda mais a moeda americana frente ao real, o que encareceria os importados e impactaria negativamente a inflação. Diante de tal cenário, a economia brasileira poderia crescer menos.