O domingo (15) em Paris era para ser apenas um dia de luto e homenagens às 132 vítimas dos ataques terroristas da última sexta-feira (13). Mas a tensão e o medo de novos atentados acabou levando a uma sucessão de atos de pânico que demandaram ação da polícia em vários pontos da capital francesa.
Milhares de pessoas se reuniram durante todo o dia na Praça da República para homenagear os que morreram nos atentados. No início da noite, o barulho de fogos de artifício assustou a multidão, que saiu correndo em pânico. A polícia foi acionada e evacuou o local, até confirmar que se tratava de alarme falso.
Quase ao mesmo tempo, parisienses entraram em pânico no Marais, na região central de Paris. Ao ouvirem o barulho supostamente causado por fogos de artifício, pessoas que estavam nos restaurantes e bares da região se desesperaram e saíram correndo.
Na Catedral de Notre Dame, onde foi realizado no início da noite um memorial em homenagem às vítimas, mais medo. A polícia evacuou a área em frente à catedral, afastando a multidão de parentes e amigos das vítimas que se concentrava do lado de fora na tentativa de acompanhar a missa. Mesmo assustadas, as pessoas continuaram no local rezando e cantando hinos religiosos.
Sirenes de carros da polícia, de ambulâncias e de carros do corpo de bombeiros foram ouvidas constantemente em diversos pontos do centro de Paris no domingo. A cidade continua em estado de alerta e a presença das forças de segurança nas ruas é grande. A parisiense Carton Sylvie, que teve amigos feridos nos ataques, diz que não se sente segura. “Eu só quero entender o porquê. As pessoas que morreram eram inocentes. O que eles querem de nós? Eu estou com medo, é um momento muito difícil”, afirma ela.
Pessoas de várias nacionalidades, idades e religiões se reuniram nos memoriais montados nos locais dos ataques.
Para acalmar e consolar as pessoas, um grupo de jovens franceses resolveu cantar canções na Praça da República. Um deles, o estudante Paisley Stevy, de 17 anos, diz que não vai abaixar a cabeça para o terrorismo. “Eu estou feliz por estarmos aqui juntos, mostrando que estamos unidos. Não podemos ter medo, eu não tenho medo”.
Pessoas de várias nacionalidades, idades e religiões se reuniram nos memoriais montados nos locais dos ataques. Na Boulevard Voltaire, onde fica a casa de shows Bataclan, palco do mais sangrento dos ataques de sexta-feira, a muçulmana Shaghayegh Azimi, de 22 anos, acendeu uma vela pela paz. “O Islã não tem nenhuma conexão com essas pessoas que estão abusando dos preceitos e matando pessoas inocentes em busca de poder”, enfatiza ela.
O francês Singh Jasvir, de origem paquistanesa, tem o sikhismo como religião. Ele foi com a família neste domingo à Praça da República. Por causa de sua aparência, da barba longa e das roupas que ele e sua família usam, ele diz temer retaliações das pessoas. “Estamos muito tristes com o que aconteceu e eu espero que isso não desperte preconceito e ódio racial”, diz ele.
Jornais franceses publicaram edições especiais sobre o atentado neste domingo
Cerca de 70 mil brasileiros vivem na França, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores. Na sexta-feira, três ficaram feridos. A brasileira Deuseni Ferreira Lima mora na Rua de Charonne, no décimo primeiro distrito de Paris, onde aconteceu um dos ataques. Ela conta que ouviu o barulho dos carros de polícia e ligou a TV para saber o que estava acontecendo. “Eu fiquei apavorada e não saí mais de casa. Só hoje criei coragem para sair”, diz ela. Deuseni, que mora na França há quatro anos, espera que as autoridades francesas reajam à altura. “Não faz um ano que aconteceu o ataque ao Charlie Hebdo e agora esse massacre. Dá muito medo”.
Este foi o pior ataque terrorista na Europa desde 2004, quando 191 pessoas morreram em explosões cometidas em quatro comboios da rede ferroviária de trem de Madri. Sete terroristas promoveram série de ataques coordenados em seis diferentes locais da capital francesa. O Estado Islâmico reivindicou a autoria dos atentados, alegando ser uma resposta aos bombardeios realizados pela França e Estados Unidos na Síria e no Iraque. Além dos 132 mortos, outras 352 pessoas ficaram feridas. Delas, 99 estão em estado grave.
Editor José Romildo