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Ex-presidente do BC Loyola vê juros subindo apesar da depressão

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O ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Tendências Consultoria Gustavo Loyola considera que a economia brasileira está em uma depressão, e não em um processo temporário de recessão como em períodos anteriores. “Não é uma recessão episódica como tivemos em outras ocasiões como em 2002 ou em 2009, é um processo mais profundo”, diz, afirmando que o Produto Interno Bruto (PIB) do país deve cair expressivamente neste ano e no próximo. “Há muito tempo não se via uma série tão longa de quedas trimestrais do PIB”, afirma. Ele participa do seminário Desafios da Regulação Financeira no Século 21, organizado pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) com apoio da Fundação Getúlio Vargas.

Apesar disso, o BC deve elevar os juros no ano que vem, para tentar controlar a inflação, que caminha para estourar o limite da meta também no ano que vem. Para Loyola, porém, o BC deveria agir mais para aumentar a credibilidade da política de metas de inflação. “O BC deveria deixar claro as metas de inflação para os próximos meses e cumprir essa meta em vez de dizer que vai levar o IPCA para 4,5% em 2016, coisa que ninguém consegue simular em qualquer cenário que montemos”. Parte desse problema, diz Loyola, é o desgaste provocado por anos de tolerância com a inflação acima da meta e no teto do limite de 6,5% ao ano. De certa maneira, o país abusou do limite de tolerância e agora o BC tem mais dificuldade em convencer o mercado que vai levar a meta para o centro de 4,5%.

Ao mesmo tempo, a eficiência da política monetária, ou seja, dos juros altos para controlar a inflação esta sendo comprometida pela alta do dólar, que reflete o cenário político conturbado. O cenário político eleva o risco do país e desvaloriza o dólar, pressionando os preços indexados à moeda americana. “Por isso, a chave para a solução dos problemas da economia está na política, não na economia”.

Para Loyola, o país está, como disseram outros economistas, na “ante-sala” da chamada dominância fiscal, na qual a política monetária perde sua eficácia devido ao descontrole das contas do governo. O efeito dos juros sobre a demanda agregada é baixo, o que obriga o BC a elevar mais os juros para compensar os “vazamentos” provocados pelo déficit fiscal, os juros subsidiados e o efeito riqueza dos investidores indexados ao juro ou em papéis de prazo mais curto. O impacto desse ambiente é maior sobre as empresas e consumidores, que pagam juros mais altos que o necessário, e a dívida pública, que cresce além do ideal pela ineficiência da política monetária.

Sobre o sistema financeiro, Loyola considera que os bancos brasileiros estão em uma situação confortável para enfrentar a crise econômica e a turbulência política. Mesmo o episódio do BTG Pactual pela prisão de seu presidente terá impacto limitado, até pelo perfil do banco, uma instituição de investimentos e não de varejo.

O processo de impeachment, afirma Loyola, cria outra incógnita para o ambiente político, não só por sua viabilidade ou não mas também por seu resultado. “Não se sabe como vai ser o processo, nem quanto tempo ele vai durar, e enquanto isso você paralisa a agenda política e as medidas econômicas em votação”, lembra.

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