O ano começa sem nenhum alívio nas perspectivas para a economia brasileira. Ao contrário. Sem apresentar um plano claro para a recuperação econômica, o governo patina e a população está cada vez mais longe de acreditar em uma mudança de tendência. Aliás, o racional transforma-se em emocional, agravando ainda mais o cenário político econômico: não há coelho na cartola. Ao invés de comemorar a passagem do ano, o brasileiro não vê a hora de os meses passarem e chegar 2017. Até lá, tem muito chão pela frente e muitos indicadores negativos virão.
O grande agravante é a postura do governo, que, ao invés de admitir erros, peca em negar a necessidade de corte de custos. Colocar na Fazenda Nelson Barbosa, economista tido como desenvolvimentista e que se contrapôs publicamente a Joaquim Levy, nada ajuda. Como diz Sartre, a liberdade consiste em olhar de frente as situações em que a gente se meteu voluntariamente e aceitar as responsabilidades. Mas, longe da idade da razão, o governo não se decide por um rumo a tomar. “Não é por certo tua opinião: condenas a sociedade capitalista e, entretanto, és funcionário nessa sociedade. Proclamas uma simpatia de princípios pelos comunistas, mas tem cuidado de não te comprometeres”.
O governo ficou em cima do muro. Os programas sociais como Bolsa Família, Pronatec, Minha Casa, Minha Vida, entre outros, ficam cada vez menos viáveis diante do orçamento. A necessidade de cortar gastos para agradar o mercado e evitar novos rebaixamentos do rating soberano é evidente. O maior desafio é quitar as dívidas com os bancos públicos, chamadas de pedaladas fiscais, que chegam a R$ 57 bilhões. Algumas medidas, como o retorno da CPMF, parecem a tábua da salvação. O problema é que não se pode olhar o superávit apenas pelo lado das receitas. Sem corte de custos, o problema continuará no futuro.
Barbosa, em sua posse, disse que seguirá com o ajuste fiscal, cortando despesas para atingir a meta de 0,5% do Produto Interno Bruto. Para isso, ele aposta na aprovação da CPMF nos primeiros meses de 2016, para entrar em vigor no segundo semestre. Além disso, defende as novas regras para a aposentadoria do INSS, com uma idade mínima.
Entre o discurso que agrada investidores e a necessidade de retomada do crescimento, transita Barbosa. Mas, com os dois pés atrás, encontram-se os setores financeiro e produtivo. Ao menos, no curto prazo, já que, para 2017, as projeções são de alívio.
A estimativa do boletim Focus para este ano é de nova retração econômica, próxima a 3%. Mas já há aqueles que visionam o pior biênio da história brasileira: entre 2015 e 2016, o BNP Paribas estima que a economia encolherá 8%, superando o recorde do biênio de 1930-31, quando ocorreu a redução de 5%. Entidades internacionais reforçam a visão interna. De acordo com o relatório “Perspectiva Econômica Global”, lançado na última quarta-feira pelo Banco Mundial, a economia brasileira se retraiu 3,7% em 2015 e deve recuar mais 2,5% este ano. Em junho do ano passado, a instituição projetava um crescimento de 1,1% no PIB de 2016. O banco espera que o Brasil volte a crescer em 2017, com uma expansão de 1,4% e de 1,5% em 2018. Para este ano, estima num crescimento global de 2,9%.
Já o Fundo Monetário Internacional, em outubro do ano passado, estimava contração de 3% para o PIB brasileiro no ano passado. Menos pessimista – ou, dependendo da percepção, mais otimista –, é a Organização das Nações Unidas (ONU), a qual estima a contração da economia brasileira em 2,8% durante 2015 e prevê um recuo de 0,8% em 2016. Para 2017, o crescimento previsto é de 2,3%, segundo seu último relatório, divulgado em dezembro do ano passado.
Para agora, espera-se o pior e a visão, talvez esteja até exagerada pelo próprio comportamento humano: ninguém quer se arriscar a pensar diferente, pois é melhor errar no coletivo do que sozinho. De fato, dificilmente, haverá uma reversão da situação econômica no curto prazo. O próprio governo não sinaliza como sair da crise. Pacotes? Não há, como disse o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner: “Não estamos mais em tempo de pacotes, eu acho que não tem nada bombástico. Pelas perguntas parece que as pessoas estão esperando qual é a grande notícia, o coelho da cartola. Não tem coelho da cartola.”