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Após caos petroleiro com boicote da Arábia Saudita aos EUA, especialista vê barril em US$ 50

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Se há dois anos, quando o barril era vendido acima de US$ 100, alguém apostasse num nível de preços tão baixo como o atual para o petróleo, mal ultrapassando US$ 30 em seus melhores dias, seria difícil acreditar.

Do lado da demanda, o petróleo sofreu com a melhora da eficiência energética dos países industrializados e o uso mais intenso dos combustíveis renováveis nos últimos anos, além de perder um pouco de força com a recente desaceleração da economia mundial e a chinesa, em especial. Mas, enquanto isso, a oferta do produto não diminuiu, batendo recordes de produção em várias partes do mundo.

Diante de uma virada de cenário tão rápida, que causou um verdadeiro terremoto no mercado financeiro global, fica difícil compreender todas as variáveis que compõem essa realidade, assim como quais os novos rumos do setor. Afinal, a quem interessa que uma das commodities mais importantes do mundo esteja tão desvalorizada?

Na visão do especialista em petróleo e professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC Igor Fuser, uma das respostas para essa questão está relacionada ao quase monopólio árabe do setor e aos avanços tecnológicos significativos dos Estados Unidos no segmento.

Além disso, para Fuser, o petróleo deverá voltar aos US$ 50, com uma demanda forte de países como China e Índia. Ambas economias que contam com um complexo processo de desenvolvimento social em curso e que deverão demandar cada vez mais matérias-primas para o atendimento dessa população que agora emerge de classes mais baixas.

Para esclarecer os principais pontos sobre o assunto, sob uma análise também geopolítica, o blog Arena entrevistou Fuser. Acompanhe:

Blog Arena: Se a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) existe para garantir um nível satisfatório do preço da commodity aos produtores do setor, por que agora seus principais integrantes demoram a cortar a produção? 

Igor Fuser: Essa postura da Opep, de não reagir diante da desvalorização do petróleo diminuindo sua produção para adequá-la à demanda, teve início em setembro de 2014. O principal membro da entidade, a Arábia Saudita, que também é a maior produtora de petróleo do mundo, iniciou esse movimento preocupada com o aumento da produção petroleira dos americanos.

Com a forte alta do petróleo nos anos anteriores, os Estados Unidos desenvolveram importantes tecnologias na área que permitiram que o país aumentasse sua produção em 40% nos últimos sete anos. A preocupação dos árabes era de que essa tecnologia se difundisse em escala mundial, fortalecendo outros produtores e minando aos poucos sua hegemonia secular no setor.

Por isso, para desencorajar novos investimentos, eles usaram esse choque de preços baixos para inviabilizar a rentabilidade desses projetos. Entre essa nova gama de projetos estão grandes programas de exploração em águas profundas, como o pré-sal do Brasil, além de iniciativas africanas e russas.

Arena: Mas a Arábia Saudita também depende do setor…

Fuser: A Arábia Saudita tem o setor como sua principal indústria, mas é um país riquíssimo, trilhardário, como outras monarquias do Golfo Pérsico. Eles não têm a necessidade de manter uma arrecadação muito alta, têm uma população média e outras fontes de receitas, como seus recursos investidos no mercado financeiro. Além disso, sua produção da commodity é a mais barata do mundo. Eles têm gordura para queimar.

Arena: E para desencorajar esses investimentos, eles acabaram prejudicando outras economias, como a Venezuela..

Fuser: Sim. Quem tem forte dependência do petróleo perdeu muito mais, como foi o caso da Venezuela, da Rússia e do Irã, para citar alguns. O Irã e a Rússia se destacam por serem considerados “países inimigos” da Arábia Saudita. Especula-se que a escolha pelo petróleo baixo por parte dos árabes tenha sido uma maneira de prejudicar esses dois países, com a ajuda dos Estados Unidos nessa jogada. Apesar de os americanos terem sido prejudicados do lado tecnológico, a mudança pressionou ainda mais a economia na Venezuela, que não é conhecida por sua amizade com os EUA, digamos assim.

Lembrando que apenas no mês passado as sanções do petróleo no Irã foram retiradas. Antes disso, o país podia vender petróleo apenas para a China e alguns países da Ásia. Mas a Venezuela já estava em crise antes da forte queda do petróleo. O país tomou decisões políticas e econômicas equivocadas que nada têm a ver com o setor petroleiro. Eles não levaram seu plano político do  que eles chamavam de “socialismo” até as últimas consequências e não descentralizaram as bases da economia do setor de petróleo, quando poderiam ter feito. Hoje eles têm um sério problema de escassez de alimentos, com uma inflação fortíssima e um governo que não consegue administrar essa situação.

Arena: Mas quanto tempo essa nova dinâmica de petróleo barato pode durar?

Fuser: Esse recuo dos investimentos em petróleo é percebido no curto prazo, com empresas do segmento quebrando, mas alguns aspectos desse movimento só serão sentidos anos depois. Isso porque o setor tem um ciclo muito lento. A situação atual de baixa está começando a ser percebida como negativa para os atores econômicos. A tendência é que haja uma recuperação moderada dos preços, mas até que ponto e ritmo ainda não se sabe, pode passar dos atuais US$ 30 para US$ 45 ou US$ 50 o barril, mas US$ 100 não atingirá por muito tempo.

Arena: No caso do pré-sal..

Fuser: A situação da Petrobras não é tão catastrófica. O grande problema é que a empresa decidiu investir pesado e se endividou em dólares, quando ninguém imaginava que os preços cairiam nessa velocidade. Em relação aos investimentos menores no pré-sal, isso não deve preocupar tanto, porque nesse momento não adianta aumentar a produção com esse preço, então é melhor produzir menos. E ainda estamos gastamos menos do que o preço do barril. Além disso, com os investimentos que já foram feitos, conseguimos pegar esse ponto de virada de preço da commodity no futuro.

A estimativa é de que nos próximos 10 anos a demanda diária por barris no mundo aumente dos atuais 91 milhões para 111 milhões, de 12% a 13%. A China já tirou 600 milhões de pessoas da fila da pobreza e isso vai aumentar, assim como o mercado comprador do país. A Índia é outro país que deve promover uma forte mudança social nos próximos anos, só nessas duas regiões a demanda por desenvolvimento será imensa.

A economia mundial avançará puxada pelos emergentes que construirão praticamente do zero, em muitos casos, novas cidades, escolas e hospitais, formando cada vez mais o que chamamos aqui no Brasil de “classe média”, que deverá demandar mais matérias-primas como o petróleo.

Comentários

  1. Orestes Gomes diz:

    Excelente texto . Muito bom para informação precisa.

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