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Desistência

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O Banco Central jogou a toalha e não vai subir a taxa de juros para buscar trazer a inflação para a meta. Esta foi a mensagem da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada quinta-feira. No documento, chama-se a atenção ao cenário externo e à demora do ajuste fiscal, além da afirmação de que o processo de realinhamento de preços relativos mostrou-se mais demorado e intenso que o previsto.

A decisão de manter a Selic, na semana retrasada, enquanto as indicações anteriores eram de que a taxa seria elevada fez com que as projeções do mercado financeiro, medidas pelo relatório Focus, fossem alteradas. A mediana das projeções para a taxa Selic para o final de 2016 recuou de 15,25% para 14,64%.

A perspectiva agora é que os juros se mantenham neste patamar pelo menos até o fim do ano e sejam reduzidos em 2017, mesmo que a inflação se mantenha acima do teto da meta. Não é à toa que mediana das estimativas para o IPCA de 2016 suba a cada semana. Agora, encontra-se em 7,26%. O mesmo ocorre com o indicador projetado para 2017, o que destoa do discurso do Bacen. “O Comitê reitera que adotará as medidas necessárias de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas, ou seja, circunscrever a inflação aos limites estabelecidos pelo CMN, em 2016, e fazer convergir a inflação para a meta de 4,5%, em 2017”, afirma a ata.

Apesar do cenário recessivo, pesa o realinhamento dos preços dos produtos internos em relação aos internacionais e dos administrados. Tal fator tende a contaminar os preços livres e distanciar a inflação da meta. Por este motivo, ocorreu a discordância dentre os membros do Copom: mais uma vez dois votaram pela alta da taxa de juros. De acordo com o documento, parte de seus membros argumentou que seria oportuno ajustar, de imediato, as condições monetárias, de modo a reduzir os riscos de não cumprimento dos objetivos do regime de metas para a inflação e reforçar o processo de ancoragem das expectativas inflacionárias.

A ancoragem das expectativas, conforme o boletim Focus, está longe de ocorrer. Além de, semana após semana, as projeções de inflação serem mais altas, há uma tendência oposta de intensidade similar quanto ao PIB. Até meados de 2015, alguns economistas ainda acreditavam que a inflexão viria em meados do segundo semestre deste ano. Agora, raros são os otimistas e muitos nem acreditam que a virada ocorra em 2016. A mediana das projeções para o PIB para este ano é de queda de 3% e para 2017 espera-se um pífio crescimento de 0,8%, expectativa que cai a cada semana.

Para fazer frente à crise, o governo lançou um pacote de medidas de estímulo ao crédito, com abertura de novas linhas no valor total de R$ 83 bilhões. A decisão gera controvérsia. Com juros altos, desemprego crescente e grande incerteza, falta demanda por crédito e não linhas de financiamento. Além disso, estimular o aumento do endividamento é algo temeroso e não muda as expectativas da população.

O tal pacote piorou um pouco mais a já muito mal contata história da manutenção dos juros: o Bacen sinalizava alta dos juros, até que Tombini, visita Dilma Roussef e, um dia antes da reunião do Copom, emite um comunicado dizendo que a conjuntura internacional preocupa. A taxa é mantida e, uma semana depois, o governo anuncia o pacote de estímulo ao crédito.

 

Ana Borges é diretor da Compliance Comunicação

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