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Só uma certeza: Muitas dúvidas

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O primeiro bimestre de 2016 vai acabando e não vai deixar saudades. Os ativos, nos mercados financeiros, estressaram à lá 2008. Paira no ar uma sensação de déjà vu, o espectro da crise está de volta. A pergunta de um milhão de dólares é: uma inesperada recaída da lambança global vai nos atazanar doravante ou será (vamos colocar dessa forma) um “exagero” dos mercados?

Em relação ao Brasil, a situação também não permite devaneios. A Moody’s acaba de nos rebaixar. Só para refrescar a memória, a S&P nos rebaixou mais uma vez, o risco do nosso país aumentou de forma significativa nos últimos meses, e a situação política é um caos de dar dó, com as reiteradas surpresas da Lava-Jato, Zelotes e, agora, Acarajé.

Como sempre gosto de dizer aos meus alunos: mercados são idiossincráticos. Em determinados momentos, os fundamentos econômicos são desprezados pelas cotações, como se não houvesse relação estreita entre ambos. A assimetria de informações e a ganância explicam boa parte desse comportamento contraditório.

Vou dar um exemplo: imagine que o mercado de ações está em alta. Tal tendência, normalmente, seria explicada porque a economia está crescendo, as empresas lucrando, com (principalmente) boas perspectivas. Todavia, em 2007 (pouco antes do colapso global) a dinâmica da economia americana já ensejava precaução. Mas o mercado acionário subia, como se não houvesse amanhã. E a explicação para tal incoerência era que o BC americano (Fed), por conta da fraqueza econômica que se avizinhava, precisaria reduzir os juros, o que favorece investimentos em renda variável. Ou seja: se está bom compre e, se estiver ruim, compre também! Assim não dá!

É claro que o momento presente merece atenção redobrada. A queda nos preços das commodities (especialmente o petróleo) reflete a crença de que a economia chinesa “abriu o bico”, após quase três décadas de crescimento invejável. Sua moeda é desvalorizada pelo BC, o que suscita especulações de que o quadro é pior do que se imagina. Ao mesmo tempo, Japão e Europa permanecem economicamente fracos, sem expectativas de reversão no curto prazo. Tanto é verdade que seus bancos centrais estão trabalhando com juros negativos, algo que não faz sentido num “mundo normal”. Imagina: você empresta dinheiro para alguém, essa pessoa te devolve menos e está tudo certo!

Mas os elementos percucientes do temor de agora são (novamente) os impactos das perdas sobre o sistema bancário internacional, sobretudo nos bancos europeus. No velho continente, os bancos estão muito alavancados, cheios de derivativos exóticos, como os CoCos (Contingent Convertibles bonds)[1], expostos aos riscos de empresas petrolíferas, papéis gregos etc… Será que sairão bem dessa nova celeuma? Será que seria preciso uma lei Dodd-Frank global?

Existem, em minha visão, dois cenários bastantes distintos a se destacar. Se o que estiver acontecendo for realmente grave, estaremos em maus lençóis. Os governos (política fiscal) e os bancos centrais (política monetária) possuem, atualmente, pouca margem de manobra. Não há mais coelhos a tirar da cartola. Viveremos momentos dramáticos e o porvir será duro… Já se estivermos num período de acomodação normal, um freio de arrumação após o tranco de 2008, em breve as nuvens pesadas se dissiparão e voltaremos à vida cotidiana.

Minha percepção (não certeza) é de que os mercados estão exagerando na avaliação e que, daqui a pouco, os preços dos ativos encontrarão patamares mais coerentes com o fundamento de uma economia global crescendo em torno de 3% em 2016-2017. E por que penso assim?

Meu diagnóstico de que não retornaremos ao ambiente crítico que alguns advogam tem relação com o mercado imobiliário. Em geral, a dinâmica das graves crises internacionais passa por fortes correções em bolhas imobiliárias, que acabam afetando os bancos. Se estiver certo, o único país onde há preços “exagerados” nos imóveis, atualmente, é a China. Todavia, as próprias cidades fantasmas que lá se formaram já estão corrigindo as distorções, além do sistema bancário deles ser diferente do que estamos acostumados, por causa do chamado “shadow banking”. É perigoso? Sim! É apocalíptico? Não!

Que os bancos europeus estão sendo fortemente afetados por conta dos juros negativos praticados pelo BCE e pelas perdas com operações infelizes de seus gestores, disso não tenho dúvidas. Mas se eles serão o estopim de uma nova onda devastadora para a economia global, como em 2008, disso não estou convencido.

Quanto à economia brasileira, o quadro é desolador e há muito risco associado aos ativos locais. Todos os indicadores macroeconômicos apontam para uma situação ainda mais grave, sobretudo a relação dívida/PIB, que caminha para patamares para lá de preocupantes. Em outras palavras, não chegamos ao fundo do poço e somente um evento inesperado, como uma mudança radical no quadro político, poderia dar forças para revertermos esse cenário pouco alvissareiro.

[1] Espécie de título emitido por um banco, que paga um cupom pré-definido (renda-fixa) ao detentor, mas que pode, dependendo de algumas situações (gatilhos pré-estabelecidos), ser convertido em ação da instituição.

 

Alexandre Espirito Santo, Economista da Órama e Prof. do IBMEC-RJ.

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