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Gimme shelter

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Ainda houve, dias atrás, um sobe desce da bolsa e do dólar, resultado de instantâneos do jogo do poder. Dadas as consequências da primeira reação que Dilma esboçou, parece haver uma tendência clara: as ações vão subir e o real se valorizar. Nesta quinta, por exemplo, o Ibovespa atingiu alta de quase 7%, no fechamento, o melhor desempenho desde janeiro de 2009, atingindo 50.913 pontos, maior patamar desde 23 de julho do ano passado. Na sexta, correção, com retirada dos ganhos. O mercado, tido por muitos como o termômetro da economia, escancara sua faceta especulativa, nada a ver com aquela coisa humana, que tem períodos de bom e de mau humor. A cada nova denúncia contra o governo, a face cândida evidencia caninos longos e pontiagudos.
Se a incerteza gera oportunidades de ganhos especulativos no mercado financeiro, é claro para o lado real da economia que qualquer decisão deve ser adiada para não se sabe quando. Perdurará a queda dos investimentos que, em 2015, registraram o maior recuo apresentado pelo PIB pela ótica da despesa: 14,1%. Empresários dizem que há um alongamento nas decisões sobre investimentos. Já o consumo continuará em queda, até porque a informalidade não entra no cálculo do PIB, que ignorará os ganhos de ambulantes com pixulecos e bebidas nos protestos.
A commoditização das denúncias piorará ainda mais a economia. A crise, que era política e econômica, passou a ser institucional. O noticiário tornou-se uma guerra de acusações, onde a palavra preferida pelas duas partes, governo e oposição, é golpe. A conotação muda dependendo de quem a profere. O certo é que a recessão continuará até que fique claro qual “golpe” vencerá. Independente de quem estará à frente, o desafio será retomar a governabilidade, sem o que não haverá as reformas necessárias para a máquina girar novamente.
Em meio a uma crise institucional, a presidente tem suas ligações expostas na mídia. Como se isso fosse algo muito trivial, o mundo se escandalizou com o que se ouviu ou, pelo menos, se valeu disso para fazer escândalos, tocar cornetas, buzinas e gritar nas avenidas que incendeiam até a chegada da tropa de choque. Certas coisas “não devem ser ditas na frente das crianças”. Mas conversas telefônicas tornam-se públicas para, ao invés de embasar processos, alimentar a fogueira. O posicionamento dos governistas nos grampos alçou a revolta do Judiciário, que publicou uma das mais fortes respostas de sua história. A ofensa exposta, diz o decano Celso Mello, é “típica de mentes autocráticas e arrogantes que não conseguem esconder o temor pela prevalência do império da lei”.
Há um cheiro de guerra civil, uma intolerância generalizada, alimentada pela mídia e pelo Judiciário. Há também suspeita gravíssima na nomeação de Lula. Atropelos de todos os lados e a razão se foi. Há ódio, não só nas ruas, mas nas cortes, no Congresso, nas redações, no Palácio. Todos são agredidos e todos querem revidar. Diante disso, parece que vamos sentir saudades do passado recente em que agências ainda olhavam para cá e rebaixavam nossa dívida soberana.
Hoje, estrangeiros especulam na bolsa. Quem detém o dinheiro não está para brincadeira. Aproveita o sobe desce e se vai ou vê ativos atraentes e fica mais, desde que veja bons indicadores, como dívida pública controlada, inflação dentro da meta e afins. Esta parte já era faz tempo e não mudará tão cedo. Mas há algo que precede em muito isso: chama-se democracia. A certeza de que ela era firme foi uma das bases para o real, para que o país recebesse investimentos. E esta, como quem é sensato pode perceber, está ameaçada. De fora do país, onde a distância de buzinas, panelas e gritos permite pensamentos mais claros, isso fica mais evidente.
Há irregularidades em todos os poderes. A estrutura parece podre e as ruas são incitadas a resolver. Alimentaram muito o ódio das massas. Estude bem o que você vai dizer, o que vai vestir e onde vai, ou vai apanhar, talvez até ser linchado. Como diz um verso de Gimme Shelter, daquela banda que passou pelo país dias atrás, “War, children, it’s just a shot away” – a guerra, crianças, está a um tiro de distância. Se a ausência de democracia compromete a economia de qualquer país, que se dirá de uma guerra civil ainda mais quando incitada por quem deveria promover a ordem? Bolsa em alta e dólar caindo não convencem. Mercado não mede febre.

(*) Ana Borges e Maurício Palhares, diretores da Compliance Comunicação

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