Lava a Jato chega até Lula e faz cotação do dólar derreter

O que outrora parecia uma hipótese longínqua, finalmente aconteceu: as investigações da Operação Lava Jato trouxeram para o seu cerne o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Não, ele ainda não foi preso, mas certamente está bastante implicado, apesar de negar veementemente. Cabe agora ao Ministério Público e a Polícia Federal justificarem tal ato com provas concretas de envolvimento do ex-presidente no esquema de corrupção investigado. Caso contrário, o lulismo voltará com força, dando as cartas na próxima eleição presidencial. Não crendo nessa possibilidade, os investidores voltaram a apostar novamente na queda do dólar, que atingiu seu menor valor de fechamento desde 09 de dezembro de 2015.

Em 2016, após quarenta e quatro pregões, o dólar acumula uma queda de 4,74% ante o real. Foram vinte pregões de alta contra vinte e quatro de baixa. No ano passado, a divisa dos Estados Unidos fechou cotada a R$ 3,9470 para compra e a R$ 3,9480 para venda.

No mês atual, após quatro pregões, a moeda norte-americana acumula uma desvalorização de 6,06%. Foram quatro pregões de baixa contra nenhum de alta. No último pregão de fevereiro, o dólar fechara cotado a R$ 4,0012 para compra e a R$ 4,0035 para venda.

Dólar Hoje

O dólar caiu 1,09% ante o real nesta sexta-feira, 04 de março de 2016, negociado a R$ 3,7597 para compra e a R$ 3,7607 para venda. Ao longo do dia, a cotação da moeda norte-americana oscilou entre R$ 3,6745 (valor mínimo) e R$ 3,7698 (valor máximo).

É a quarta queda seguida da moeda norte-americana. Com isso, o dólar encerra a semana com queda de 5,93%, o maior tombo desde a semana encerrada em 31 de outubro de 2008, quando a desvalorização chegou a 7,22%.

Cenário Internacional

No cenário externo, hoje foi dia de avaliar novos dados divulgados sobre a economia dos Estados Unidos. Foram criadas 242 mil vagas de emprego em fevereiro, o que aponta para uma recuperação da economia norte-americana e para a possibilidade de aumento dos juros.

Juros mais altos tendem a atrair para os EUA recursos atualmente investidos em locais mais arriscados, como o Brasil.

Isso certamente tenderia a pressionar a cotação do dólar para cima num dia típico. Mas num dia como o de hoje, os acontecimentos no cenário interno dominaram totalmente a atenção dos investidores.

Cenário Nacional

No cenário interno, os investidores do mercado de câmbio brasileiro repercutiram, principalmente, a nova fase da Operação Lava Jato lançada nesta manhã. Ela teve como alvo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contra quem foram expedidos mandados de condução coercitiva e busca e apreensões. A operação apura possíveis crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no esquema envolvendo a Petrobras.

Notícias que aumentam a pressão sobre a presidente Dilma Rousseff, alvo de processo de impeachment, vêm sendo bem recebidas pelo mercado, que entende que eventual troca no governo pode trazer de volta a confiança e abrir espaço para mudanças na política econômica, segundo analistas.

Além disso, a investigação contra Lula poderia atrapalhar os planos do ex-presidente de concorrer à eleição em 2018, de acordo com os economistas.

Ainda assim, alguns analistas ponderam que as instabilidades políticas podem dificultar ainda mais a governabilidade no presente. Além disso, não é certo que a saída da presidente resultaria em um governo mais apto a promover as reformas econômicas que muitos acreditam ser a chave para a recuperação da economia.

Nesta amanhã, também houve a divulgação pela revista IstoÉ da suposta delação do senador Delcídio do Amaral, citando Dilma e Lula.

Banco Central

A desvalorização do dólar nesta sexta-feira poderia ter sido bem maior, caso o Banco Central (BC) não tivesse deixado de vender parte da oferta diária de contratos de swap cambial com vencimento em abril.

Por meio dos contratos de swap cambial, o BC realiza uma operação financeira que equivale à uma venda de moeda no mercado futuro (derivativos), o que reduz a pressão sobre a alta dessa moeda.

Os swaps são contratos para troca de riscos: o BC oferece um contrato de venda de dólares, com data de encerramento definida, mas não entrega a moeda norte-americana. No vencimento desses contratos, o investidor se compromete a pagar uma taxa de juros sobre o valor deles e recebe do BC a variação do dólar no mesmo período.

Esses contratos servem também para proteger os agentes que têm dívida em moeda estrangeira – neste caso, quando o dólar sobe, eles recebem do BC o valor dessa variação.

Nos últimos setes meses, todos os dias, entre o primeiro e o penúltimo dia de vencimento dos contratos de swap cambial, o BC ofertou – e rolou –, religiosamente, toda a oferta diária de 9,6 mil swaps cambiais. Foi a estratégia encontrada para ajudar a segurar a tendência de alta do dólar ante o real.

Hoje, no entanto, a estratégia foi alterada. O BC ofertou apenas 8 mil contratos, aliviando seu programa de intervenção de câmbio. Isso fez com que a queda da divisa dos Estados Unidos fosse menos vertiginosa. É um sinal claro de que a Fazenda não estaria confortável com uma forte do dólar neste momento. Seria o patamar de R$ 3,70 uma zona de suporte importante para o governo federal?

Com o leilão desta quinta-feira, o BC rolou ao todo US$ 1,790 bilhão da oferta total de swaps prevista para o mês, ou cerca de 18% do total. Se mudar definitivamente sua estratégia, passando a oferecer apenas 8 mil swaps cambiais por dia, vendendo sempre o lote integral diário até o penúltimo dia de vencimento dos contratos, o BC terá rolado apenas cerca de 85% do lote total inicialmente previsto.

Variação da Cotação do Dólar Comercial em 04 de Março de 2016