A divulgação da lista com 200 nomes da Odebrecht citando políticos dos mais diversos partidos é um complicador a mais no já rebuscado xadrez que se tornou a política brasileira, afirma André Leite, sócio da TAG Investimentos. Se o cenário já era complicado com a volta do processo envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Supremo Tribunal Federal (STF) a pedido do ministro Teori Zavascki, a divulgação da lista pode dificultar a situação do juiz Sérgio Moro e a própria Operação Lava Jato. “O vazamento de tantos nomes tradicionais da oposição e da base aliada pode ter sido intencional, para desmoralizar o Moro e fazer como em investigações anteriores, desqualificando as provas e os processos”, afirma. “Estão tentando cavar um pênalti para tentar derrubar o Moro.”
O que o mercado sabe, afirma Leite, é que a presidente Dilma Rousseff vai deixar o governo. “Todos sabem como acaba o filme, só não conhecem o roteiro, como o bandido vai morrer no fim”, diz. A Comissão de Impeachment na Câmara segue em passos acelerados, mesmo sem incluir em seu texto as denúncias bombásticas do ex-líder do PT no Senado, Delcídio do Amaral.
Nesse sentido, houve um impulso muito grande das ruas pela saída da presidente após o dia 13 e que tende a aumentar o apoio no Congresso ao impeachment. A recente reação mais radical de Dilma, chamando a militância do PT para defender a legalidade de seu mandato, e os discursos inflamados no Planalto para claques de simpatizantes que gritam palavras de ordem mostram que ela está enfraquecida.
Outra dúvida é sobre como fica o país no pós-Dilma. Apesar de o vice-presidente Michel Temer não aparecer na lista dos 200 beneficiados pela Odebrecht, muitos políticos que participariam do governo de transição foram atingidos pelas denúncias. “Até agora, o cenário se encaminhava para um impeachment e um governo de coalizão com políticos, com Temer não disputando a reeleição e um governo de transição até 2018”, afirma Leite. “Agora, com a lista, a base de sustentação do novo governo cai por terra e o cenário de uma nova eleição antecipada ganha força”, diz. Nesse caso, a beneficiada por uma nova eleição seria a candidata da Rede, Marina Silva, que não é muito do agrado do mercado. “O mercado estimava uma chance de 80% de saída de Dilma e entrada de Temer, mas agora essa probabilidade caiu para 60% e cresce a de uma nova eleição com Marina”, diz.
De olho na inflação
Nesse tiroteio, a preocupação com o andamento do impeachment vai trazer prêmio para o mercado de juros, e reduzir a alta da bolsa, que havia subido demais, avalia Leite. A recomendação dele para o investidor, além de parar de ficar em redes sociais e procurar dormir mais cedo, é buscar proteção contra a inflação, especialmente em papéis do Tesouro corrigidos pelo IPCA, as NTN-B. Para Leite, o Brasil está em um caminho binário em termos de inflação. Se a confusão política se resolver e um novo governo assumir, a inflação deve recuar e o investidor ganhará com a queda dos juros na economia e nas NTN-B.
Já se a presidente Dilma ficar, o cenário é de inflação mais forte no médio prazo por conta da continuidade do déficit público elevado e do aumento da dívida e do dólar. “Então, em ambos os cenários, é bom estar em NTN-B no caso dos recursos acima de um ano”, afirma Leite. Os prazos das NTN-B, por sua vez, dependem dos recursos disponíveis de cada investidor. “O melhor é fazer uma escadinha de vencimentos, de acordo com as disponibilidades de prazo”, explica. Recursos de curto prazo, até um ano, devem ficar em aplicações corrigidas pelo juro diário, CDI ou Selic. “O jogo hoje dos mercados tem muitas nuances e não dá para quem não é profissional tentar ficar operando isso”, diz. “O melhor é ficar seguro.”.
A tensão nas ruas, acredita Leite, tende a aumentar nos próximos meses, agravada ainda pela situação da economia, que deve piorar. “A perda de emprego neste ano é impressionante, já temos 200 mil empregos eliminados apenas nos dois primeiros meses do ano e, com essa confusão política, está tudo parado, ninguém compra nada nem investe”, afirma.
Já no médio prazo, Leite se diz otimista com o Brasil. “Tudo isso que está acontecendo hoje deve fazer do Brasil um país melhor, mas não será um processo linear, vai ter muita surpresa e volatilidade”, diz.