BTG Pactual: e se o BNDES vender todos seus R$ 51 bi em ações no mercado?

Dada a complicada situação financeira das contas públicas do país, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) poderá ter de vender uma parte ou até a totalidade das suas participações em companhias abertas brasileiras a fim de levantar recursos para o financiamento de projetos essenciais de infraestrutura.

Hoje, o governo interino de Michel Temer informou que o banco estatal terá de devolver R$ 100 bilhões para o Tesouro, dentro do esforço de ajuste fiscal, o que reduzirá o volume de recursos para emprestar. O dinheiro virá da venda de títulos públicos, não de ações, o que não deve pressionar a bolsa. Ao menos por enquanto.

Segundo relatório do BTG Pactual, o BNDES tem fatias em 30 companhias, avaliadas em cerca de R$ 51 bilhões, em setores como energia, mineração, papel e celulose, bens de capital, alimentos e bebidas, telecomunicações e tecnologia.

Para os analistas do BTG, as empresas que estariam mais expostas à pressão de venda neste momento seriam Fibria, Tupy, AES Tietê e JBS. Nesses grupos, a participação do banco estatal pode chegar a 30% das ações em circulação no mercado (market capitalization) , de acordo com o texto. Atualmente, as maiores participações do BNDES em termos de fatia de mercado estão em Fibria (29,1%), Tupy (28,2%) e AES Tietê (28,3%). Em Petrobras, em especial, o banco estatal tem 10% dos papéis ordinários (ON, com voto) e 26,8% em preferenciais (PN, sem voto).

Até 90 pregões para vender

Se o BNDES confirmar a venda desses papéis, a pressão pode ser enorme e, em situações extremas, representar mais de 90 dias de negociação, caso da Fibria, alertam os analistas Carlos Sequeira e Bernardo Teixeira. Por isso, para evitar uma queda nos preços das ações e desvalorizar o próprio ativo do BNDES, o mais provável é que o governo adote a estratégia de vendas parceladas ou distribuídas em um período mais longo, ou em blocos via ofertas públicas para grandes investidores locais e estrangeiros, ou ainda em fundos negociados em bolsa, os Exchance Traded Funds (ETF).

Em alguns casos, porém, o BTG aponta que os efeitos positivos do aumento da liquidez podem superar os pontos negativos. Nesse sentido, as ações que poderiam se beneficiar de um aumento da liquidez seriam Linx, Tupy e Iochpe.

Fundo soberano, basicamente Banco do Brasil

Para o fundo soberano do Brasil, constituído em 2008 e fechado agora pelo presidente interino Michel Temer, o governo soma R$ 2,3 bilhões em ações do Banco do Brasil. A equipe do BTG acredita que a venda dessas ações será outra maneira de o governo levantar dinheiro para enfrentar algumas necessidades mais urgentes. No ano passado, o governo fez vendas de BB no valor de R$ 134 milhões durante o mês de julho do ano passado, então não se trata de uma operação completamente nova.

Confira abaixo o atual volume de participação do BNDES nas empresas brasileiras:

Fonte: BTG Pactual/Bloomberg
*considera a média de volume diário e o número de ações que o BNDES possui.