O evento mais importante na semana será a votação no Senado do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A votação está marcada para quarta-feira no Plenário e precisa ser aprovada por maioria simples, o que levará ao afastamento de Dilma por 180 dias ou até o fim de seu julgamento pelo Senado. A expectativa geral, até no governo, é que o pedido será aprovado e Dilma será comunicada da decisão na quinta-feira. O vice-presidente Michel Temer assumirá então interinamente o governo, mas poucos acreditam que a presidente voltará ao poder. Na prática, a votação marcará o fim do governo Dilma e o começo da era Temer, que poderá ser abreviada, porém, por alguma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou por alguma nova descoberta da Operação Lava Jato.
Outro foco de atenção estará na Câmara, onde a saída de Eduardo Cunha da presidência da Casa abriu um vácuo de poder que tentará ser ocupado pela oposição ou pelos governistas. Uma das alternativas será tentar convocar novas eleições para a presidência da Câmara, para substituir Waldir Maranhão (PP-MA), vice de Cunha que assumiu o cargo. Outra será Temer tentar conquistar o apoio de Maranhão para tocar os projetos de interesse do novo governo.
Mudança será na orientação econômica
A mudança não será, porém, apenas de jeito de governar, já que Temer é muito mais habilidoso politicamente do que a militante técnica Dilma. Haverá uma mudança grande de orientação econômica, que deixará de lado o viés populista adotado pelo governo desde 2010, quando Meirelles deixou o governo e a então presidente Dilma substituiu o tripé que sustentava o Plano Real desde 1999, de equilíbrio fiscal, câmbio flutuante e metas de inflação por políticas intervencionistas e incentivos e gastos públicos sem controle, que tiveram como seu maior defensor o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. O resultado foram as pedaladas fiscais, criadas para ocultar os déficits do governo usando os recursos dos bancos públicos, já que o governo não teria como pagar o aumento dos gastos e ainda compensar a queda de arrecadação com subsídios.
Meirelles deve melhorar a confiança
A volta de Henrique Meirelles, não mais no comando do Banco Central (BC), mas de toda economia é o sinal mais claro do retorno à política que fez o primeiro governo Lula ter o sucesso que teve, mesmo com todas as apostas contra o novo governo e o PT daquela época. Agora, porém, a situação é muito mais complicada. As contas públicas estão muito piores que em 2003 e não há espaço para muitos aumentos de tributos. Mas a simples volta da orientação econômica mais responsável deve melhorar a confiança dos empresários e investidores internacionais. Há a expectativa também de quem Meirelles indicará para o BC. O nome escolhido poderá indicar uma política monetária mais dura ou não, e que pode implicar no adiamento de uma redução nos juros, esperada para começar em julho.
Será impossível, porém, evitar alguma frustração com o novo ministério de Temer, que terá ainda nomes conhecidos da velha política brasileira, mas que serão necessários para que Temer consiga maioria no Congresso para aprovar algumas reformas polêmicas, como a da Previdência e a trabalhista, ainda mais com o PT e seus aliados na oposição. Se os ministros não forem capazes de promover a maioria parlamentar necessária, porém, a popularidade de Temer pode se esvair rapidamente e levar junto a confiança que os agentes econômicos começaram a depositar nele.
De olho no Boletim Focus
Mais importante ainda, portanto, será acompanhar a reação do mercado nas próximas semanas e suas expectativas, principalmente o Boletim Focus, que sai nesta segunda-feira e que já vem mostrando uma visão mais positiva para a economia brasileira, com dólar mais baixos, inflação mais controlada e juros menores.
Nesta semana serão divulgados dados importantes na Europa como a prévia do PIB da Alemanha e da Zona do Euro. Na economia nacional, destaque para os resultados do IPC apurado pela Fipe e do IBC-Br de março, prévia da inflação oficial, que será publicado pelo Banco Central. Também são esperadas as decisões da reunião do Banco da Inglaterra sobre a taxa de juros no Reino Unido.
Segunda-feira, 9:
A semana começa com os primeiros indicadores econômicos nacionais para maio. A Fundação Getulio Vargas divulga o Índice de Preços ao Consumidor semanal (IPC-S) da primeira quadrissemana de maio e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) divulga os dados da balança comercial semanal. No exterior, a segunda-feira será o dia de conhecer o nível de confiança do investidor da Zona do Euro no mês de maio, e também os resultados sobre mercado de trabalho em abril divulgados pelo Federal Reserve. Falando em Fed, Charles Evans, de Chicago, e Neel Kashkari, de Minneapolis, farão discursos também na segunda. O dia termina com dados de preços ao consumidor e produtor da China, que vão indicar como anda a segunda maior economia do mundo.
Terça-feira, 10:
Na terça-feira a FGV divulga a primeira prévia do IGP-M do mês de maio, enquanto o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga dados sobre a produção industrial regional de março. Na Alemanha a terça será de apresentação dos dados sobre produção industrial pelo Bundesbank. Já nos Estados Unidos serão divulgados indicadores sobre criação de emprego e estoques de petróleo bruto.
Quarta-feira, 11:
A quarta-feira começa com todas as atenções voltadas para o Senado, onde deve ser votado o pedido de impeachment da presidente Dilma. Uma vez aprovado, o que é a expectativa geral, a presidente será afastada. O Senado passará então a julgar a presidente, sob comando do presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski.
Na economia, o dia terá a divulgação das vendas no varejo pelo IBGE, com expectativa da LCA de uma queda mensal de 0,6%. A Fipe publica as taxas do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da primeira quadrissemana e o Banco Central divulga o fluxo cambial semanal. No exterior, o Reino Unido conhecerá dados nacionais sobre a produção industrial, e o Tesouro americano publica seu resultado fiscal mensal de abril.
Quinta-feira, 12:
O processo de impeachment tem seus desdobramentos, com a presidente Dilma sendo comunicada oficialmente da decisão do Senado e afastada oficialmente. Temer deve então tomar posse e começar a comandar o país, mesmo com o afastamento provisório de Dilma, por 180 dias no máximo ou até o julgamento do Supremo, que passará a atuar como juiz.
O IBGE divulga na quinta-feira os índices de volume de serviços de março, com expectativa da LCA de queda de 5,7%. O Reino Unido define seus juros durante a reunião do seu Banco Central. O mercado espera a manutenção dos atuais 0,5%. Nos Estados Unidos serão publicados dados econômicos sobre os pedidos de auxílio-desemprego e dos preços de exportações e importações. No Fed, discursos de Loretta Mester, de Cleveland, Eric Rosengren, de Boston e Esther George, do Kansas.
Sexta-feira, 13:
O fim da semana deve ser movimentado no exterior com a divulgação da prévia do PIB alemão e também da Zona do Euro no primeiro trimestre. Expectativa da LCA de alta de 0,6% para os dois indicadores. Nos Estados Unidos, agenda cheia com os dados de vendas no varejo, preços ao produtor, estoques empresariais, a prévia da confiança do consumidor, e o discurso de John Williams do Fed de São Francisco. Na economia nacional, o Banco Central divulga o IBC-Br de março, com expectativa feita pela LCA de queda mensal de 0,29%.
Sábado, 14:
No final de semana, a China divulga indicadores sobre a produção industrial, as vendas do varejo e também dos investimentos em ativos fixos urbanos, todos do mês de abril.