A conjuntura adversa para a economia brasileira parece dar sinais de que não deve durar muito mais tempo. Os cenários econômicos dentro e fora do Brasil estão mais positivos do que os observados nos últimos meses e favorecem a retomada do crescimento do país. A avaliação é do economista-chefe do banco BNP Paribas na América Latina, Marcelo Carvalho, que divulgou hoje o relatório sobre o cenário político e econômico global.
Segundo ele, a alta liquidez dos mercados mundiais, o cenário menos adverso para os preços das commodities e a confiança na equipe econômica do governo são alguns dos principais elementos que possibilitarão a recuperação da economia.
De acordo com o BNP Paribas, o Brasil deve iniciar seu ciclo de recuperação econômica já no segundo semestre desse ano, com um terceiro trimestre estável e um crescimento modesto no quarto trimestre. Para Carvalho, o país deve caminhar lentamente rumo ao crescimento de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) projetados para o ano que vem.
O economista do BNP também alertou que, para um crescimento sustentável da economia, essa nova fase do país deve vir acompanhada de investimentos, tanto públicos como privados. “Um dos grandes problemas que tivemos nos últimos anos é que os investimentos caíram muito. Hoje o investimento privado já esboça uma recuperação, mas o setor público ainda deve nesse setor por conta dos problemas fiscais do governo. A solução para esse problema seria firmar Parcerias Público-Privadas (PPP) e concessões”.
Inflação começa a ceder nos próximos meses
A inflação deve ser um dos principais elementos de alívio econômico, na visão do banco. Mesmo assim, o economista-chefe projeta um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na casa dos 7% neste ano, ainda acima do teto da meta estabelecida pelo governo, de 6,5%. Mas, de acordo com a avaliação dele, os preços brasileiros devem convergir para o centro da meta até o fim do ano que vem. “Temos um cenário em que a inflação deve começar a ceder nos próximos meses, mas sem chances de estar dentro da meta no fim do ano. Esse movimento de queda deve ocorrer em 2017, com o mercado nacional e internacional permitindo maiores condições da inflação buscar a meta do governo”.
Entre os principais fatores que possibilitarão a queda dos preços no Brasil estão a produção em baixa, o câmbio valorizado e principalmente a credibilidade da equipe econômica do governo. Marcelo destaca que o país agora passa por um período de baixa utilização da capacidade produtiva e de valorização da moeda frente ao dólar, o que contribui para o alívio nos preços. “O principal fator que vai determinar esse movimento da inflação, entretanto, é a imagem que o governo vai ter no mercado e a força de suas medidas econômicas, sobretudo do Banco Central”.
Juros brasileiros devem cair em outubro
Mesmo com o aperto da política monetária pelo Banco Central nos últimos meses, Carvalho vê espaço para o início do ciclo de queda nos juros Selic no mês de outubro. Para ele, a confirmação do cenário mais favorável para a economia vai abrir espaço para corte de juros nos próximos semestres. Ele ressalta que, apesar da demora no início de corte, a redução dos juros não serão pontuais, mas sim constantes e que podem chegar aos 5% em dois anos. “Vemos um espaço grande para o corte de juros. O BC deve levar as taxas para abaixo dos 10% até meados de 2018. Mas, para isso, é fundamental que a política fiscal seja concretizada e que os ajustes propostos pelo governo sejam aprovados”.
Dólar próximo da marca de R$ 3,10
A recente valorização da moeda brasileira frente ao dólar deve se consolidar até o final do ano na perspectiva do economista do BNP. Segundo ele, o dólar já se estabilizou nos valores abaixo de R$ 3,25 e tem possibilidades de buscar suporte abaixo dos R$ 3,10 até o final do ano.
As intervenções do Banco Central no câmbio devem ser cada vez menores e o esquema de câmbio flutuante deve se consolidar no mercado brasileiro. “O governo tem interesse nesse câmbio flutuante. Acredito que até o final do ano, os estoques de swaps cambiais do Banco Central já estarão esgotados e cada vez menos vamos observar intervenções na moeda”.
Cenário internacional também é favorável com Brexit e liquidez
A decisão pela saída da União Europeia tomada pelo Reino Unido em junho é vista como positiva pelo relatório do BNP Paribas. O impacto internacional do chamado Brexit é limitado, na avaliação do banco, e traz efeitos positivos para economias emergentes como o Brasil. Segundo o relatório, o cenário pós-Brexit é de uma postura acomodatícia dos bancos centrais no exterior, que mantêm os juros a taxas mínimas. Essa conjuntura leva a um ambiente global de muita liquidez, visto como positivo para a economia brasileira.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve deve subir os juros na reunião de setembro, na visão de Marcelo Carvalho. Segundo ele, diferentemente do Brasil, a alta das taxas não deve ser sequencial, mas sim pontual. “Não se trata de um ciclo de aumento dos juros americanos. A alta que deve ocorrer será pontual. Teremos no máximo outro aumento em dezembro, mas a expectativa é de apenas uma elevação nesse ano”. Os juros baixos nos Estados Unidos são outro fator que contribue para uma maior liquidez no mercado mundial.