ADVFN Logo ADVFN

Não encontramos resultados para:
Verifique se escreveu corretamente ou tente ampliar sua busca.

Tendências Agora

Rankings

Parece que você não está logado.
Clique no botão abaixo para fazer login e ver seu histórico recente.

Hot Features

Registration Strip Icon for smarter Negocie de forma mais inteligente, não mais difícil: Libere seu potencial com nosso conjunto de ferramentas e discussões ao vivo.

Canuto, do Bird, vê Trump “chutando o pau da barraca” e diz que Brasil deve se preparar

LinkedIn

A política econômica de Donald Trump deverá afetar o Brasil e outros emergentes, que devem se preparar para resistir aos seus impactos, alerta Otaviano Canuto, diretor executivo do Banco Mundial (Bird). Segundo ele, o futuro presidente americano deve “chutar o pau da barraca”, ou seja, ignorar os riscos de inflação alta e conflitos externos para cumprir a promessa de fazer o país crescer 4% ao ano, acima de sua capacidade. E isso terá impactos nas economias emergentes, especialmente nas menos saudáveis.

A saída é o país acentuar o ajuste fiscal e as reformas, como as que limitam os gastos do governo e da Previdência, e manter o rigor na política monetária, de combate à inflação. “O Brasil precisa aprovar o limite de gastos e se preparar pois a liquidez internacional e as taxas de juros americanas ficarão piores do que antes da eleição americana”, diz.

Ele observa que a mudança vem em um momento em que os emergentes voltavam a ser protagonistas do crescimento mundial, depois que vários países importantes resolveram problemas locais, como Rússia, Índia, China e o próprio Brasil. Isso levou a um rali de investimentos nesses países neste ano. E esse processo agora vai ser afetado pelas mudanças nos EUA. Assim a queda dos juros brasileiros e o crescimento econômico não vão ser os mesmos, pois não há mais o rali para mercados emergentes e a complacência dos investidores externos com problemas fiscais e políticos que havia antes. Canuto participou de seminário para celebrar os 40 anos da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), na sede do Santander.

Dois riscos para os emergentes

Canuto observa que o Brasil não tem mais tantos negócios com os EUA, mas mesmo assim não estará livre dos efeitos das novas políticas, que devem atingir mais diretamente o México. Ele vê dois canais principais de transmissão dos impactos das políticas prometidas por Trump que representação risco para os emergentes. O primeiro, o crescimento maior da economia americana no curto prazo pode levar a um forte aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, reduzindo os recursos disponíveis para os emergentes. “A presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Janet Yellen, não pode ignorar esse risco de inflação mais alta e o mercado já vê a curva de juros no futuro mais inclinada para cima”, diz.

Outro canal de contaminação é a China, que passa ainda pelo processo de ajuste de sua economia de um modelo exportador para um de crescimento pelo mercado interno. O país tem ainda uma parte grande de sua economia no modelo antigo, sobrevivendo da ajuda do governo, com distorções como os bancos informais (shadow banks) e estímulos ao setor imobiliário, que criam um “caroço de abacate” que terá de ser resolvido pelo governo no futuro. “O governo pode simplesmente bancar todos esses problemas, mas ainda assim eles podem criar turbulências”, alerta.

Desvalorização da moeda chinesa

Canuto lembra que, no ano passado, o receio de que esses problemas poderiam levar a uma forte desvalorização da moeda chinesa, o remimbi (ou yuan), provocou uma forte saída de recursos da China, de mais de US$ 400 bilhões (mais que todas as reservas internacionais brasileiras), que teve de ser bancada pelo Banco do Povo, o BC chinês, que usou suas reservas em dólar para bancar as saídas e evitar que a moeda se desvalorizasse. “Sem isso, a moeda chinesa teria sofrido uma desvalorização muito maior, com impactos na economia chinesa e em toda a economia global”, explica. “Estamos num momento de transição em que a velha economia foi mantida, e se houver um problema com os Estados Unidos e uma ameaça de desvalorização mais forte do renmimbi, podemos ver uma grande saída de recursos como no ano passado, com impactos sistêmicos graves”, alerta.

O maior risco, porém, avalia Canuto, é o de as ameaças ao comércio americano com o resto do mundo feitas por Trump se materializarem. E a margem de manobra do presidente para aprovar essas medidas é grande, alerta o diretor do Bird. Ele lembra que, para aprovar tarifas punitivas ou criar barreiras, o presidente não precisa do Congresso. “Se a taxa de importação subir nos EUA e isso levantar o receio de uma desvalorização na moeda chinesa, podemos ter um movimento parecido com o do ano passado, com implicações sistêmicas maiores para os emergentes e para o Brasil”, alerta.

Trump, nova versão de Reagan?

Canuto diz que as propostas econômicas de Trump nada mais são do que uma reedição da política adotada pelo presidente Ronald Reagan no começo dos anos 1980, com desregulamentações de setores e cortes de impostos de pessoas e empresas, o que fez a renda dos americanos ter seu maior crescimento da história recente e permitiu fortes ganhos de produtividade.

Mas as condições são muito diferentes hoje, observa Canuto. A desregulamentação feita por Reagan foi benigna pois havia setores muito regulados naquela época e as mudanças facilitaram os negócios em segmentos como aviação, aumentaram as taxas de retorno e promoveram grande crescimento. A dúvida é se há o mesmo espaço hoje. Canuto cita o setor financeiro, que ficou engessado pela Lei Dodd Frank após a crise de 2008, e diz que faz sentido rever essa regra. Já a desregulamentação ambiental, com maior uso de carvão, ou para a agricultura são assuntos mais delicados.

Menos espaço para cortes de impostos

O espaço para os cortes de impostos também não é o mesmo, alerta Canuto, lembrando que na época de Reagan a dívida pública americana equivalia a 30% do PIB e hoje está em 100% do PIB. “Por isso os mercados estão estimando que as medidas devem estimular a demanda num período imediato, mas a dúvida é quanto disso vai virar crescimento do PIB e quanto vai se transformar em mais inflação”, diz.

Chutar  o pau da barraca

Outra contradição é a afirmação de Trump que quer que a economia americana cresça 4% ao ano, o que conflita com o PIB potencial dos EUA, que hoje está mais em 2,5% ao ano. “Ou seja, ele vai chutar o pau da barraca”, resume, de maneira curta e grossa.

Sem juros para baixar

O espaço de política monetária, que poderia ajudar na retomada do crescimento, também é muito menor hoje. Na época de Reagan, os juros americanos estavam em 19% ao ano, saindo de um forte aperto monetário promovido pelo então presidente do Fed, Paul Volcker, e o desemprego era bem mais alto. Hoje, os juros estão perto de zero, 0,5% ao ano, e o país está em quase pleno emprego, com 5% de desemprego e com os salários reais em alta. “Está certo que 6% da população americana saiu do mercado de trabalho, por desalento ou falta de preparo, mas não será essa população que responderá rapidamente a um crescimento da demanda por mão de obra”, alerta, lembrando que essa situação provocaria um aumento do custo de mão de obra e um aumento da inflação.

Déficit comercial pode crescer e incentivar protecionismo

Outra dúvida é na área de comércio. Canuto lembra que, quer pelos juros mais altos, que valorizam o dólar e reduzem as exportações e aumentam as importações, quer pela demanda agregada maior da economia americana com os incentivos de Trump, o déficit comercial americano deve subir. “E isso pode despertar um risco maior que é a ameaça protecionista”, diz. “Já vamos ter uma perda com o não avanço dos acordos comerciais, como o TPP (Parceria TransPacífico) e com a União Europeia”, diz.

O risco é Trump criar tarifas sobre produtos chineses, rever o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e forçar a volta ao país de empresas que têm parte de sua produção no exterior. “Isso pode gerar alguns empregos imediatos, mas o efeito será alto, haverá uma ruptura nas cadeias produtivas e de valor e isso terá efeitos inflacionários, além do risco de uma guerra de tarifas”, diz. O resultado seria uma redução do comércio e do crescimento mundial.

Trump pode ajudar commodities

Um lado positivo das políticas de Trump pode ser o aumento dos preços das commodities ligadas à infraestrutura, como aço, minério de ferro e outros metais, o que ajudaria alguns emergentes. No caso do petróleo, ainda há dúvidas se o impacto seria positivo pois dependerá das políticas para o gás de xisto americano, afirma Canuto.

O diretor do Bird destaca também o aumento do interesse dos investidores internacionais por setores regulados no Brasil. Segundo ele, a Operação Lava Jato e a quebra do cartel organizado para controlar as grandes obras brasileiras deve trazer mais investidores para a infraestrutura brasileira e substituir os nomes envolvidos em irregularidades. “Recebi gente que investe há 30 anos em setores regulados nos EUA, como energia, serviços públicos, e que nunca investiu na América Latina, querendo saber o que acontece no Brasil”, diz.

O post Canuto, do Bird, vê Trump “chutando o pau da barraca” e diz que Brasil deve se preparar apareceu primeiro em Arena do Pavini.

Deixe um comentário