Emprego, crescimento, controle inflacionário voltarão um dia. Talvez, já no próximo ano. Por enquanto, nada de boas notícias. O PIB de 2016 será tão ruim ou até pior do que o de 2015, as taxas de desemprego permanecerão em níveis recordes e, a continuidade dos cortes na taxa Selic começa a fazer água diante do aumento de aversão ao risco dos investidores internacionais, pós-eleição de Trump. Neste meio tempo, as decisões são adiadas, os agentes ficam à mercê de discursos retóricos, porém menos otimistas do que no início do governo atual. “Nossa esperança é que no segundo semestre de 2017 tenhamos um PIB que não vai ser negativo. Se for, cobrem do Meirelles”, disse o presidente Michel Temer à imprensa semana passada.
As projeções dão conta de que será realmente preciso cobrar do Meirelles. Até o meio do ano, acreditava-se que a recuperação já seria sentida no segundo semestre. Mas não ocorreu ainda nenhuma medida efetiva para que a economia saia do buraco. Pelo contrário, qualquer discurso do governo passa pela PEC 241, nada mais. Houve o corte simbólico de 0,25 p.p. na taxa Selic e o otimismo levou à crença de que as próximas reuniões seguiriam esta tendência de redução, pelo menos até a confirmação do novo presidente dos Estados Unidos no dia 09 de novembro.
O último relatório Focus, divulgado pelo Banco Central previa mais cortes que levariam a Selic dos atuais 14% para 13,5% ao ano. Para 2017, as estimativas eram de que a taxa encerraria em 10,75%. A visão, entretanto, deve mudar com o resultado das eleições americanas que gerou instabilidade no cenário mundial. A escolha de Trump aumentou o conservadorismo do mercado internacional e elevou as projeções de alta das taxas de juros americanas. De acordo com levantamento da Bloomberg, a probabilidade de aumento das taxas pelo FED atingiu 86%, bem acima dos 78% registrados uma semana antes.
A elevação da taxa e a maior aversão ao risco reduzem o volume de investimentos para países emergentes, como o Brasil, que tem o agravante de encontrar-se na pior crise econômica da sua história, com fortes retrações no PIB. Como reflexo deste cenário, o real desvalorizou frente ao dólar nos últimos dias e o Ibovespa registrou queda. Assim, a tendência de corte de juros por parte do Banco Central brasileiro pode ser revista na próxima reunião marcada para os dias 29 e 30 de novembro, caso não se tenha uma ideia mais clara de como se comportarão os mercados internacionais.
Talvez a instabilidade internacional possa pesar menos que o hiato do produto. O comportamento da economia nos últimos meses deixa para o PIB a possibilidade de, em um cenário otimista, ficar no zero a zero neste segundo semestre. Esta é a melhor das hipóteses. A expectativa é de que o PIB de 2016 encerre o ano com queda real de 3,31%, segundo o relatório Focus. Mas há aqueles que acreditam em uma situação ainda pior. Tais projeções estão ancoradas nos indicadores que demonstram a prévia do PIB.
Dados do IBGE demonstram que a produção industrial cresceu 0,5% em setembro. O movimento, a princípio pode ser interpretado como uma reversão de tendência, mas ainda é pouco perante as quedas registradas em agosto (3,5%) e em julho (0,1%). Na comparação anual, com setembro de 2015, houve recuo de 4,8%. Outro dado que demonstra que não há sinal de retomada é o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). O indicador, tido como uma prévia do PIB, demonstrou redução de 0,91% em agosto em relação a julho, a maior queda mensal desde maio de 2015. Na comparação entre agosto deste ano e agosto de 2015, houve retração de 2,72%. Já nos doze meses encerrados em agosto, a redução atinge 5,48%.
Não há muito o que se esperar para o fim de 2016. Talvez acreditar em uma recuperação no ano que vem. Neste sentido, as projeções são mais otimistas, mas crescer 1,2% depois de dois anos perdendo mais de 3% do PIB é pouco para que haja geração de emprego e um respiro de alívio por parte do brasileiro.
Ana Borges é diretora da Compliance Comunicação