O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou na última sexta-feira um decreto polêmico suspendendo por 90 dias a entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana (Iraque, Síria, Líbia, Somália, Sudão e Iêmen), além disso, o acolhimento de refugiados ficará suspenso por 120 dias, sendo que o País deverá aceitar, a partir deste ano, 50 mil refugiados, uma drástica redução frente ao limite de 110 mil praticado pela administração anterior.
O decreto gerou muita confusão nos aeroportos neste último fim de semana, pois todos foram pegos de surpresa, inclusive funcionários do governo norte-americano. Líderes políticos de vários países, inclusive de importantes aliados militares dos Estados Unidos, criticaram a medida tomada aparentemente de forma apressada e mal-intencionada.
Apesar de ser mais uma promessa de campanha que se torna realidade, Trump pode ter dado seu primeiro tiro no pé assinando um decreto sem aparentemente fazer consultas aos estrategistas do alto escalão de seu governo. Em função do elevado potencial de choque, indignação e riscos à política externa, o decreto foi publicado estranhamente com muita rapidez.
O alto-comissário da ONU, Zeid Raad al-Hussein, lembrou que a discriminação baseada exclusivamente na nacionalidade é proibida pelo direito internacional. Diversos líderes europeus, incluindo aliados de extrema relevância, como o Reino Unido, condenaram o decreto de Trump. O Parlamento iraquiano pediu ao governo uma retaliação contra os Estados Unidos, o que pode colocar em risco as operações militares que estão avançando com sucesso contra o Estado Islâmico no norte do País.
Entretanto, o maior efeito colateral a Donald Trump vem do seu próprio partido. Vários parlamentares republicanos já estão pedindo a revisão ou revogação da medida. Os influentes John McCain e Lindsey Graham assinaram um comunicado conjunto censurando a ação do presidente. Segundo os parlamentares, o decreto faz mais para ajudar o recrutamento das organizações terroristas do que para promover a segurança, pois sinaliza que os Estados Unidos não querem muçulmanos em seu território.
Jeff Flake, senador republicano do Arizona, considerou inaceitável que cidadãos com autorização de residência permanente nos Estados Unidos (green card) sejam detidos e tratados como potenciais terroristas. Já o senador republicano Bem Sasse lamentou profundamente que a medida envia um sinal de que os Estados Unidos vêem todos os muçulmanos como jihadistas. Charlie Dent disse que o que está acontecendo é ridículo e pediu a suspensão do decreto. Justin Amash, do Michigan, foi ainda mais duro afirmando que as ações são ilegais, arbitrárias, perturbadoras e inconsistentes com os valores e princípios do País, aconselhando que Trump deixe de governar através de decretos e colabore com o Congresso.
Foi criado, portanto, um atrito não desprezível de Donald Trump com sua importante base na Câmara e no Senado, possivelmente o mais forte desde as eleições. Caso a desavença não seja resolvida o mais rápido possível, o governo Trump poderá sentir dificuldade na aprovação de projetos que precisam passar pelo Congresso.
A desarmonia de Trump com parte de sua base abalou os investidores em Wall Street, que esperavam clima propício para aprovação de projetos de infraestrtura e expansionismo fiscal, vistos como positivos para os negócios.
O índice S&P500 abriu o pregão desta segunda-feira em forte baixa, mas conseguiu recuperar boa parte das perdas sofridas durante o pregão após Trump sinalizar um pequeno recuo ao amenizar uma restrição para detentores do green card. Ainda assim, o índice fechou a segunda-feira em leve baixa e a polêmica permanece.
O destaque ficou por conta do forte tombo verificado no mercado brasileiro. O IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado) acelerou a alta de 0,54% em dezembro do ano passado para 0,64% no mês de janeiro deste ano, mostrando mais uma vez aceleração da inflação, com alto risco de contágio ao IPCA já no fim do primeiro trimestre deste ano. É mais uma demonstração de inconsistência dos fundamentos domésticos com a desnecessária agressividade adotada pelo Banco Central em sua política de afrouxamento monetário.
O Índice Bovespa (BOV:IBOV) despencou nesta segunda-feira, perdendo a LTA dos 56,8k, ao mesmo tempo em que estourou o ponto de pullback da antiga resistência localizada nos 65,3k. O retorno das vendas confirmou o início de um ciclo de correção no mercado nacional, importante para aliviar os indicadores que estavam sobrecomprados, sem causar ameaça a tendência principal de alta.