“Vocês preferem que os pobres sejam mais pobres para que os ricos sejam menos ricos”. Margaret Thatcher, em discurso no Parlamento Inglês¹
O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, foi o bilionário que mais ganhou dinheiro no último ano, segundo a revista Forbes. Sua fortuna subiu de US$ 13 bilhões em 2013 para US$ 28 bilhões em 2014. Esta deveria ser uma notícia boa, porém não há como comemorarmos o aumento da riqueza de algumas dezenas de pessoas enquanto milhões ainda passam fome neste mundo… Enquanto houver tamanha pobreza na sociedade portanto, temos o dever de não exaltar esse tipo de história e, mais do que isso, de desincentivar casos como esses…
Não, não temos! Este raciocínio é extremamente obsoleto – se é que um dia foi atual, pois ao contrário do que a diz a intuição de alguns, devemos SEMPRE incentivar criação de riqueza. A lógica é simples e está nas palavras do líder religioso William J. Boetcker, utilizadas em inúmeros discursos pelos presidentes americanos Abraham Lincoln e Ronald Reagan:
“Não ajudarás os pobres se arruinares os ricos. Não criarás prosperidade se desestimulares a poupança. Não fortalecerás os fracos, por enfraquecer os fortes. Não ajudarás o assalariado se arruinares aquele que paga. Não estimularás a fraternidade humana, se alimentares o ódio de classes”.
Em outras palavras: é apenas por meio de empresas fortes que são gerados os empregos em uma economia. É, em grande parte, por meio de grandes corporações que são arrecadados os impostos, que futuramente irão proporcionar serviços à população. É unicamente por meio de empresários criativos que acontece inovações e são desenvolvidas novas tecnologias que, segundo o economista austríaco Joseph Schumpeter, é “a força motriz do crescimento econômico sustentado a longo prazo”.
Seria o empreendedor, portanto, este ser iluminado e benevolente? Não, definitivamente não! Ele apenas age de acordo com o seu interesse próprio. “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que ele tem pelos próprios interesses. Apelamos não à humanidade, mas ao amor-próprio, e nunca falamos de nossas necessidades, mas das vantagens que eles podem obter”, disse Adam Smith em “A riqueza das nações”.
Os incrédulos deste sistema podem questionar a legitimidade de se agir dessa forma. Mas basta vermos a história para saber que essas motivações movem a sociedade. Um pouco de pragmatismo aqui é importante!
Foi devido à necessidade de sobrevivência de sua pequena refinaria endividada que John D. Rockfeller levou a iluminação através do Lampião para todos o território dos Estados Unidos. Para isso ele transportava todo o seu petróleo nos trens do magnata Vanderbilt, responsável por ter criado grande parte da malha ferroviária americana. Por uma briga de egos e por uma guerra de preços, Vanderbilt não quis mais transportar o petróleo de Rockfeller em seus trens, foi aí então que Rockfeller se viu obrigado a inventar o Oleoduto, utilizado hoje no mundo inteiro! Mas não parou por aí. Foi pela desejo de ser reconhecido que em 1878 Thomas Edison fundou a General Eletric (GE) e inventou a lâmpada elétrica, substituindo assim os antigos lampiões e mudando para sempre a maneira como iluminamos nossas casas.²
Hoje a GE é avaliada em mais de U$S 250 bilhões e pela mesma necessidade de lucro e sobrevivência que tinha há mais de 100 anos ainda produz lâmpadas, mas também produz turbinas de avião, gasodutos, soluções para tratamento de águas, turbinas eólicas para energia renovável e equipamentos para diagnóstico de câncer.
O ser humano é competitivo sim, mas é isso que move uma empresa, um atleta ou uma ONG e a sociedade. Podemos ficar aqui questionando o mérito de se agir de acordo com os próprios interesses, eu prefiro, por outro lado, pensar nas consequências para a sociedade como um todo.
Mais do que acumular bens. Uma nova geração de empreendedores…
Embora gerar empregos, arrecadar impostos e produzir novas tecnologias já fossem motivos suficientes para incentivarmos a criação de riqueza, essa nova geração de empresários e empreendedores parece ir muito além de ter a acumulação de capital como fim e dos interesses próprios como citou Adam Smith.
Por exemplo, enquanto alguns resolvem criticar os capitalistas, Mark Zuckerberg e sua esposa Priscilla Chan doaram US$ 75 milhões ao Hospital Geral de San Francisco em fevereiro deste ano. Como retribuição o centro médico passará a se chamar “Priscilla and Mark Zuckerberg San Francisco General Hospital and Trauma Center”. Essa não foi a primeira ação do casal que durante o surto de ebola em 2014, Zuckerberg e sua esposa doaram US$ 25 milhões aos Centros Americanos de Controle e Prevenção de Doenças.³
Bill Gates, aquele que segundo alguns construiu a maior fortuna da atualidade através do capitalismo ganancioso, pretende acabar para sempre com uma das doenças mais nocivas do século XX: a poliomielite. Ele, através de sua fundação Bill e Melinda Gates, e o segundo homem mais rico do mundo, o mexicano Carlos Slim, investirão US$ 5 bilhões para erradicar a doença até 2020.
E o fato mais recente ocorreu na semana passada quando o CEO da Apple, Tim Cook, resolveu doar praticamente toda a sua fortuna para projetos de caridade. Com isso, ele passa e entrar pro time de Zuckerberg do Facebook e Nick Woodman da GoPro, empresários que tem como objetivo explícito devolver à sociedade grande parte da riqueza adquirida pela industria da tecnologia.
Mais do que doações individuais – O Giving Pledge
Mas não para por aí. Muito maior do que as doações individuais é o programa chamado “Giving Pledge” (“Compromisso de Doação”, em tradução livre) encabeçado por Bill Gates e Warren Buffett. Neste programa, bilionários americanos são convidados a doarem a maioria de sua fortuna (no mínimo metade) para causas de caridade, em vida ou depois de morrer. Entre os membros nada mais nada menos do que:
- Michael Bloomberg – ex-prefeito de Nova Iorque e fundador da Bloomberg
- Paul Allen – Co-fundador da Microsoft
- John Doerr – Investidor que ajudou a capitalizar Apple e Google
- Larry Ellison – Fundador da Oracle
- Tim Cook – CEO da Apple
- George Lucas – roteirista
Além destes personalidades, o time já conta com mais de 160 multimilionários. Esta causa é levada tão a sério pelos colaboradores que podemos encontrar na página do site (givingpledge.org) a carta que cada colaborador escreveu sobre essa decisão em suas vidas. Parece que a frase inicial do programa resume essa nova forma de capitalismo: O Giving Pledge é um compromisso dos indivíduos e das famílias mais ricas do mundo para dedicar a maior parte de sua riqueza à filantropia. (4)
Outros exemplos de doações para causas sociais
No Brasil…
O Brasil ainda engatinha neste quesito de empreendedores que devolvem à sociedade aquilo que o setor privado os proporcionou. Engatinham também aqueles que têm a consciência de que o lucro e o espirito competitivo do empreendedor é bom para toda a sociedade.
Mas há gente que vem fazendo muito! Três dos maiores empreendedores do país, Jorge Paulo Leman, Beto Sicupira e Marcel Telles, estão mais para pensar no legado que deixarão ao país do que no que ainda podem conquistar – embora tenham acabado de realizar a fusão da Heinz com a Kraft Foods formando a quinta maior empresa de alimentos do mundo.
Com o objetivo de transformar o país, fundaram em 1992 a Fundação Estudar (FE), que tem por objetivo financiar os estudos de jovens com potencial mas que por algum motivo não possuem condições financeiras para isso. Nesses 20 anos, a FE pagou pelos estudos de mais de 570 estudantes. Marcel Telles também fundou o Ismart em 1999 que oferece bolsas de estudo a jovens pobres com alto potencial no ensino fundamental. Hoje, são 924 bolsistas em colégios de primeira linha de São Paulo.
Mas Lemman, Telles e Sicupira sabem que 1.500 bolsistas em um universo de 200 milhões de brasileiros ainda é pouco! Diante disso vêm apoiando e financiando projetos de maior alcance. Um deles, por exemplo, é o Khan Academy português, vídeo-aulas traduzidas do famoso Salman Khan que ensinam desde matemática simples a astronomia ou história da arte. O projeto no Brasil, com o parceria da Fundação Lemann já alcançou 70 mil alunos da rede pública em 5 estados brasileiros, além das aulas terem sido vistas por mais de 700 mil pessoas no país.
Outros exemplos da iniciativa privada emprestando seus nomes e lucros a causas como educação
Capitalismo, capitalismo, capitalismo!
Diante desses infinitos exemplos, não há como negarmos o óbvio: esse novo CAPITALISMO FILANTRÓPICO que vemos surgir está melhorando o mundo para todos! Os empreendedores do século XXI preocupam-se não mais apenas com seus lucros – o que já seria suficiente para trazer melhores bens e serviços para a sociedade – mas também preocupam-se em como devolver à sociedade, toda essa riqueza acumulada em suas empresas e como podem deixar um legado e um mundo melhor.
Enquanto tivermos ódio do lucro, dos donos do capital, estaremos permitindo que os pobres sejam mais pobres apenas para que os ricos sejam menos ricos. Ao invés de ficarmos criticando os empresários, os empreendedores e dizendo que a luta de classes é a solução do mundo e que os ricos devem ser combatidos, vamos pedir por mais mais hospitais Priscilla and Mark Zuckerberg, mais fundações Bill e Melinda Gates, mais Giving Pledges, mais Fundações Estudar, Ou seja, vamos pedir por mais Marks Zuckerbergs, mais Bill Gates, mais Warren Buffets e mais Lemanns!
[1] https://www.youtube.com/watch?v=ZZ52I4LT1Bw
[2] Gigantes da Indústria: https://www.youtube.com/watch?v=hsCGnLX2O7c
[3] http://edition.cnn.com/2015/02/07/tech/zuckerberg-hospital-donation/
Escrito por Leonardo Siqueira, editor do Terraço Econômico.