O presidente Michel Temer conseguiu na semana passada ganhar mais uma vida e superar outra fase no jogo da crise política. Com algumas vitórias importantes, ele reverteu mais uma vez a ameaça de afastamento que se desenhava e terminou a partida fortalecido.
Temer teve de recorrer ao seu maior superpoder, a caneta de presidente e, com ela, liberou alguns bilhões em emendas parlamentares, agradando aos partidos da base. Estimativas chegam a R$ 15 bilhões, valor contestado pelo governo. De qualquer maneira, com apoio renovado, conseguiu derrubar o relatório recomendando a autorização para a investigação por corrupção pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) com boa margem. A questão vai agora para o Plenário da Câmara, mas essa será outra fase do jogo, bem mais difícil.
Além disso, o presidente aprovou a reforma trabalhista no Senado sem alterações, mesmo com todas as críticas e protestos da oposição e centrais sindicais pelo país. E o PSDB também ajudou ao continuar em cima do muro e não decidir pela saída oficial do governo.
Jogo parado até 31 de julho
Temer reverteu assim o cenário do começo da semana, de fortalecimento de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, que já dava alguns sinais de que estava gostando da ideia de ser uma opção para a Presidência. Agora, a disputa política deve ter uma trégua com o início do recesso parlamentar do dia 18, terça-feira, voltando apenas depois do dia 31.
Articulações continuam
Isso não significa, claro, que as negociações vão parar. Ontem, por exemplo, Temer almoçou com o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), relator que recomendou o arquivamento da denúncia contra ele na CCJ. Participaram também os ministros da Educação, Mendonça Filho, e da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, também do PSDB e seus familiares. O ato de consideração mostra a preocupação de Temer em prestigiar os aliados, especialmente os tucanos, que ameaçam alçar voo do governo.
Tempo para arrumar a base
O adiamento da votação da autorização para processar Temer no plenário da Câmara permitirá ao governo ganhar tempo para rearranjar sua base política, que saiu machucada com as trocas forçadas de deputados infiéis na CCJ. O risco é que novas denúncias contra Temer ou integrantes do governo nas próximas semanas compliquem o apoio ao presidente.
Incerteza continua
O fortalecimento de Temer na semana passada vai manter a incerteza alta com relação ao futuro político do país e das reformas, avaliam analistas. O presidente continuará lutando para se manter no poder, desviando parte de seu cacife político para isso e reduzindo as chances de aprovar as reformas. Ao mesmo tempo, não há garantia de que mesmo derrubando o pedido de processo atual, os outros dois que estão sendo preparados pela Procuradoria Geral da República não terminem por afastar o presidente mais perto do fim do ano, quando o calendário eleitoral começará a ocupar o espaço da agenda do Congresso.
Ficará portanto mais difícil aprovar a reforma da Previdência, com suas medidas impopulares, aumentando as chances de dificuldades para fechar as contas do governo e, com elas, as de um aumento de impostos. “Estamos em um claro momento em que não são os riscos que estão crescendo, mas as incertezas, tonando o cenário mais perigoso”, explica o Banco ABC Brasil em relatório.
Menos política, mais exterior e economia
Com o recesso, o cenário político deve reduzir seus impactos nos mercados financeiros, que vão espelhar mais as movimentações no exterior e na economia local. A agenda econômica deve, portanto, ganhar um pouco mais de importância para o Ibovespa, o dólar e os juros.
Inflação, arrecadação, contas externas, BCE e Japão
Nesta semana, será importante ficar de olho nos dados de arrecadação de impostos, criação de vagas na economia, contas externas e saldo de conta corrente e investimento estrangeiro direto, e dados de inflação como IGP-10, a segunda prévia do IGP-M, e o destaque da semana, o IPCA-15, que serve de prévia do índice oficial de inflação usado pelo Banco Central. No exterior a semana reserva definição de taxas de juros na Zona do Euro e Japão, e dados do setor imobiliário americano.
Focus e mais sinais de economia fraca
É importante ficar de olho logo na segunda-feira cedo no relatório Focus, com as novas projeções do mercado para os juros, inflação e atividade econômica (PIB).
Para o Bradesco, o foco do mercado doméstico na próxima semana se voltará novamente aos dados de inflação, após os resultados de atividade de maio nesses últimos dias, que reforçaram a expetativa de retração do PIB do segundo trimestre. Semana passada, o IBC-Br, do Banco Central, mostrou queda da atividade, frustrando as expectativas.
Inflação em queda também no IPCA-15
Os dados de inflação que serão divulgados na semana que vem não devem alterar a tendência de desinflação em curso. O IGP-10 de julho, a ser conhecido na segunda-feira, deve mostrar deflação de 0,88%, segundo o Bradesco, puxada pela queda dos preços dos produtos agropecuários.
Na quinta-feira, o IPCA-15 de julho deverá registrar variação negativa de 0,09%, refletindo o recuo dos preços dos alimentos. Ainda nesse dia serão divulgados a prévia da Sondagem da Indústria da FGV e o Índice de Confiança do Empresário Industrial, ambos referentes a julho.
Contas externas
Na sexta-feira, saem os dados do Balanço de Pagamentos relativos a junho. O Bradesco espera superávit em transações correntes de US$ 1,4 bilhão, enquanto o investimento direto no país deve somar US$ 2,0 bilhões. Já o Banco Fator lembra que o país vem apresentando superávit na conta corrente faz três meses. O IDP (investimento estrangeiro direto) tem sobrado. “As contas externas aguentam desaforo por vários trimestres, não é isso que vai pressionar o câmbio”, diz o Fator.
Recuperação da arrecadação
A Receita Federal divulgará no decorrer da semana o resultado da arrecadação de impostos e contribuições de junho que, de acordo com a estimativa do Bradesco, deve somar R$ 104 bilhões, o que representa um crescimento real de 2,7% ante o mesmo mês de 2016. O Banco Fator estima também certa recuperação da arrecadação, com R$ 102,640 bilhões, alta de 4,5% nominais em relação ao mesmo mês de 2016.
Também se espera que, na próxima semana, seja divulgado o resultado da criação líquida de empregos formais de junho, que, segundo as estimativas do banco, deve ter chegado a 10 mil vagas. O anúncio deve ocorrer provavelmente na sexta-feira (se o dado for ruim), afirma o Banco Fator. Mas pode sair antes, e de manhã, se o número for bom. “Estimamos nova rodada de criação de vagas, 35.558, número que deve ser comemorado pelo governo”, avalia o Fator.
Nos termos da Lei de Responsabilidade Fiscal, o governo (Fazenda e Planejamento) apresenta o relatório de receitas e despesas referentes a maio e junho, observa o Banco Fator. “Emoções à vista”, afirma o banco. “Comentários sobre receitas não recorrentes, como o uso de depósitos de precatórios não reclamados, abundam, assim como cochichos sobre mais impostos e cortes.”
Economia chinesa na madrugada
No cenário externo, as declarações da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, indicando que a inflação e o emprego estão abaixo do esperado pelo banco central americano, devem continuar acalmando as expectativas de uma alta dos juros muito rápida nos EUA. Haverá ainda a divulgação de diversos dados da atividade econômica chinesa referentes a junho, na madrugada de domingo, que devem confirmar certa resiliência da economia do país no segundo trimestre, a despeito dos ajustes da política econômica implementados nos últimos meses, avalia o Bradesco.
O banco espera que o PIB chinês país tenha crescido 6,7% no segundo trimestre na comparação com o mesmo período de 2016. Na Europa, saem os resultados de junho da inflação ao consumidor do Reino Unido, na terça-feira, e da Área do Euro na quarta-feira.
Juros na Europa e no Japão
No dia seguinte, os bancos centrais do Japão e da Europa realizarão suas reuniões de política monetária, quando devem manter as respectivas taxas de juros e programas de compras de ativos inalterados. Mas podem surgir algumas indicações ou comentários sobre o fim dos programas de recompras de títulos na Europa, o que provocaria alguma flutuação dos mercados.
Por fim, após a frustação com os dados das vendas do varejo em junho dos Estados Unidos, serão divulgados ao longo da próxima semana os primeiros indicadores de atividade referentes a julho.
QUER SABER COMO GANHAR MAIS?
A ADVFN oferece algumas ferramentas bem bacanas que vão te ajudar a ser um trader de sucesso
- Monitor - Lista personalizável de cotações de bolsas de valores de vários paíeses.
- Portfólio - Acompanhe seus investimentos, simule negociações e teste estratégias.
- News Scanner - Alertas de notícias com palavras-chave do seu interesse.
- Agenda Econômica - Eventos que impactam o mercado, em um só lugar.