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Intolerância

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O bêbado sobe a rua estreita determinado a caminhar sobre as faixas desenhadas no asfalto, mas ziguizagueia até chocar o ombro contra o muro à esquerda. Passos depois, tromba no portão à direita. Abandona a pretensão de seguir pelo meio da rua e tenta ficar ora nesta, ora naquela calçada, mas não rola. O excesso de álcool dificulta o equilíbrio. Como o transeunte acima, a sociedade dificilmente consegue evitar extremos. Não bastasse o Congresso e a Presidência, a direita se afirma no país com sua intolerância, seja numa inesperada visita a uma exposição de arte, seja na religião, seja no julgamento à opção sexual do próximo. A economia é reflexo da sociedade, e a sociedade brasileira está de pileque.

No combate à “demoníaca esquerda”, movimentos político-religiosos se travestem como os salvadores dos “bons costumes” e do futuro da nação. Para estes, os argumentos não existem, mas sim convicções. Invadem museus, invadem terreiros, proíbem esmolas e tudo parece normal. Intolerância e crise política alimentaram uma a outra, até desembocar numa paralisia econômica. No quadro todo, o gigantesco déficit fiscal, a falta de recuperação do emprego, da produção são coisas menores.

Mídias sociais dão eco à voz de quem não raciocina e desconhece o que é um argumento. Há a cruz e a espada, e somente se pode defender um lado. O outro deve ser combatido. A divisão da sociedade, escancarada nas últimas eleições e alimentada por protestos nas ruas mostrou a força de movimentos toscos que se definem como “sem partido” – embora sejam financiados por alguns – desvia o debate do que é importante. Como fazer a economia crescer em um país com mentes tão pequenas? Ataca-se uma exposição, que fica no topo do noticiário semanal e das mídias sociais, enquanto novas denúncias de corrupção no governo e a votação que aprova o aumento do déficit primário fica em segundo plano. Sim, novas denúncias de corrupção nem devem mais ser notícia, viraram commodities.

O Brasil tornou-se um país de discursos rasos e necessidades frívolas que prometem salvar o futuro da nação. Um exemplo é a PEC do Teto, primeira bandeira levantada pelo governo pmdebista como uma forma de elevar a confiança do mercado na economia brasileira. A proposta deve ser descumprida logo no primeiro ano; sempre esteve aquém do necessário para sanar a dívida pública. Porém, como defendido por Meirelles, se ela existisse antes, não estaríamos em crise. (?)

Promulgada no fim do ano passado, a PEC estabeleceu que os gastos da União não poderão crescer mais do que a inflação do ano anterior até 2037. Agora, ao contrário do que apregoa Meirelles, cálculos de economistas demonstram que o teto só funcionará em 2017. Para 2018, a previsão é de que os gastos cresçam mais de 5% e a inflação prevista para este ano está ao redor de 3,5%. Já se comenta também que haverá flexibilização da PEC em 2019, mas isso é para outro governo. Para quem prometeu parar de beber por 20 anos, tomar a primeira dose no segundo dia é sinal de que o vício jamais será vencido. Tudo bem, afinal era preciso abrir os cofres para aprovar o que se deseja ser aprovado, seja aliviar a barra do presidente ou aprovar a própria PEC e a mudança da meta de déficit.

Alinhado ao discurso de que a PEC soluciona quase tudo, o que se mostrou falácia, agora a defesa é de que será a Reforma da Previdência a salvadora da pátria. É fato que os responsáveis pelos principais gastos do governo são o funcionalismo e a Previdência, que juntos respondem por quase 60% do total do orçamento. Apesar de seu elevado peso (40%), a Previdência vem sendo tratada como um caso à parte, mas sofrerá sanções pela PEC com relação à regra do salário mínimo. Segundo a proposta, se o estado não cumprir o teto de gastos, ele não pode aumento as despesas obrigatórias acima da inflação. Como o salário mínimo está vinculado aos benefícios da Previdência, o aumento real ficaria proibido, achatando ainda mais a renda do trabalhador.

Não há para onde correr. Se a reforma, que aumenta o tempo de contribuição e retira outros direitos dos trabalhadores não for aprovada, seu poder de compra permanecerá estagnado, pois os reajustes serão dados apenas para repor a inflação. Mas para que pensar nisso? É melhor olhar para o Facebook de alguém e ser contra ou a favor de um post, mesmo que se desconheça a história.

 

Ana Borges e Maurício Palhares são diretores da Compliance Comunicação

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