ADVFN Logo

Não encontramos resultados para:
Verifique se escreveu corretamente ou tente ampliar sua busca.

Tendências Agora

Rankings

Parece que você não está logado.
Clique no botão abaixo para fazer login e ver seu histórico recente.

Hot Features

Registration Strip Icon for charts Cadastre-se para gráficos em tempo real, ferramentas de análise e preços.

Artigo: combate à corrupção terá impactos nas empresas e na economia, afirma Canuto

LinkedIn

A investigação judicial no Brasil sobre a generalizada corrupção governamental revelou uma rede expansiva de relações ilícitas entre pequenos grupos de empresas privadas, funcionários do setor público e políticos.

Vários empresários e políticos de alto nível foram condenados. As implicações econômicas de curto prazo foram terríveis, já que importantes grupos privados e cadeias de valor enfrentaram um congelamento súbito da demanda, operações e finanças dos clientes. No entanto, essas investigações podem ter um impacto positivo de longo alcance sobre o relacionamento entre os setores público e privado no Brasil e, assim, sobre o desempenho econômico do país.

Como resultado dessas investigações e mudança do sentimento popular, as consequências de ser pego em ações de corrupção nunca foram mais terríveis. As empresas brasileiras estão revisando suas estruturas de controles e compliance no que alguns chamam de “revolução de governança corporativa”.

Os efeitos econômicos prejudiciais do abuso do setor público para ganhos privados são múltiplos. As despesas públicas e os recursos econômicos tendem a ser alocados de forma a maximizar as oportunidades de “recompensas de corrupção” e não a eficiência econômica. Neste sistema, conferir privilégios a grupos corruptos elimina o funcionamento de um mercado competitivo.

Como consequência da depuração da corrupção no Brasil, há potencial para mudanças em pelo menos três dimensões econômicas. Em primeiro lugar, a relação custo-eficácia dos gastos públicos pode melhorar substancialmente. A seleção de projetos, decisões regulatórias, escolhas entre fornecedores e outras escolhas do setor público serão otimizadas para o bem público e não em benefício de corpos corruptos.

Em segundo lugar, é provável que a investigação conduza a mudanças consideráveis ​​nos setores da economia onde existe uma interação significativa com o setor público. O sistema de “criação e distribuição organizada” da demanda do setor público entre alguns atores privilegiados do setor privado foi quebrado.

Em terceiro lugar, haverá uma melhora na percepção do estado de direito do Brasil, uma grande vantagem para atrair investidores estrangeiros.

O Brasil deve completar uma transição economicamente dolorosa antes de colher os benefícios a longo prazo desse processo. No setor privado, grandes empresas domésticas envolvidas na investigação enfrentam uma forte restrição de financiamento. Isto além do aumento da dúvida sobre seus valores de ativos e patrimônio líquido, desafios operacionais e redução da demanda de clientes. Muitas empresas internacionais, por sua vez, adotaram uma atitude de espera, avaliando a possibilidade de adquirir ativos brasileiros que estão sendo liquidados. A confiança em um novo regime de relações público-privado só pode aumentar gradualmente, à medida que os riscos de reversão desaparecem. Será necessário um ajuste das regulamentações, agências e empresas estatais.

As investigações sobre a corrupção devem ser apenas o começo se o Brasil quiser aproveitar os benefícios de uma ampla “revolução da governança”. Os procedimentos judiciais precisam ser apoiados pela implementação de uma reforma microeconômica que elimine aspectos do ambiente comercial do Brasil, que são um paraíso para práticas corruptas. A responsabilidade deve ser melhorada em todas as esferas do governo.

A prevalência de relacionamentos entre agentes públicos e privados não é nova no Brasil nem é singular para o país. A dissolução deste quadro, mesmo que seja dolorosa a curto prazo, tem um grande potencial para criar ganhos econômicos, políticos e sociais no Brasil e pode ser um exemplo para outros países ao redor do mundo.

Otaviano Canuto é diretor Executivo do Banco Mundial e membro do Conselho Consultivo OMFIF. As opiniões expressas neste artigo são exclusivas do autor.

Deixe um comentário