Novembro começa para valer para os mercados domésticos nesta segunda-feira, após a pausa por causa do feriado prolongado logo nos primeiros dias. Mas no exterior o penúltimo mês do ano começou com novidades vindas dos bancos centrais. O da Inglaterra (BoE) resolveu aumentar a taxa de juros pela primeira vez em uma década, enquanto o dos Estados Unidos (Fed) terá Jerome Powell como presidente em 2018 – um comandante de política monetária suave (“dovish”) que se contrasta com a economia norte-americana bem aquecida.
E esse tema envolvendo presidência, só que da República, no ano que vem que não sai da cabeça dos investidores no Brasil. O pregão local terminou a sexta-feira passada em um clima tenso, com o dólar superando a marca de R$ 3,30 e retomando os maiores níveis desde julho e a Bovespa registrando a segunda pior semana do ano, atrás apenas do período que marcou a delação da JBS, em meados de maio.
Esse desempenho refletiu a tensão dos investidores em relação aos candidatos ao próximo pleito. Se antes as pesquisas eleitorais já não traziam grande alteração no panorama, o que era visto como algo negativo, o fato de o ministro Meirelles (Fazenda) ter confirmado que pretende se candidatar trouxe certa apreensão, uma vez que o foco em 2018 pode atrapalhar a aprovação da reforma da Previdência ainda neste ano.
Resta saber, então, se haverá hoje um clima de alívio nos negócios locais, após um grande vazamento de informações de um escritório de advocacia especializado em empresas offshores revelar que Meirelles possui contas bancárias no exterior. O ministro tratou de entregar cópia da sua declaração de Imposto de Renda, comprovando o registro da offshore…Mas o estrago já foi feito!
A notícia, publicada em um site de jornalismo investigativo, tanto queimou a largada de Meirelles na corrida presidencial quanto minou qualquer chance de negociação da equipe econômica com o Congresso sobre a Previdência. Ainda assim, o presidente Michel Temer inicia nesta semana as negociações para recompor a base aliada e colocar em pauta as medidas que alteram as regras para aposentadoria.
Porém, se for aprovada, a proposta deve ser bastante desidratada, sem garantia de aprovação do novo tempo de contribuição ou da nova idade mínima. Atento à possibilidade cada vez mais real de a principal medida do ajuste fiscal ficar para 2019 – sendo que o próximo governo teria de fazer campanha eleitoral por medidas tão impopulares – o investidor estrangeiro reduziu o apetite pelo risco no Brasil.
Em outubro, os “gringos” retiraram quase R$ 2 bilhões em recursos da bolsa de valores, na segunda maior saída de capital externo da renda variável neste ano, atrás apenas de março. Entre julho e setembro de 2017, os estrangeiros alocaram quase R$ 10 bilhões em ações de empresas brasileiras, uma vez que a renda fixa perdeu atratividade, com a taxa básica de juros (Selic) caminhando para um novo piso histórico até o fim deste ano e devendo ficar no nível de 7% ao longo de todo o ano que vem.
Aliás, o comportamento benigno da inflação continua sendo o fiel da balança do governo Temer. Na sexta-feira, o IBGE divulga o resultado de outubro do índice oficial de preços ao consumidor brasileiro (IPCA), que deve ganhar força e subir 0,45%. Ainda assim, a taxa acumulada em 12 meses tende a seguir abaixo de 3%, com a queda nos alimentos sendo capaz de ofuscar os aumentos constantes nos preços de combustíveis e nas contas de luz.
Trata-se do grande destaque da agenda doméstica desta semana, que começa com as tradicionais publicações do dia: o relatório Focus (8h25) e os dados parciais da balança comercial (15h). No exterior, a China também divulga de hoje a quarta-feira os números de outubro da balança comercial, além da inflação no atacado e no varejo.
Entre hoje e amanhã, dados de atividade na zona do euro recheiam o calendário econômico, que traz poucos indicadores relevantes nos Estados Unidos. A novidade por lá fica com o fim do horário de verão, o que deixa Brasília uma hora mais distante da costa leste norte-americana. Com isso, o pregão em Wall Street passa a funcionar das 12h30 até as 19h, trazendo marasmo à sessão local pela manhã.
Logo cedo, a sinalização dos índices futuros das bolsas de Nova York para o dia ainda era indefinida, com ligeiras oscilações, após o relatório inconclusivo sobre o mercado de trabalho nos EUA (payroll) na última sexta-feira e em meio às dúvidas sobre os novos diretores do Fed. Além da substituição de Janet Yellen por Powell, a partir de fevereiro, e da aposentadoria de Stanley Fischer no mês passado, há a expectativa de que William Dudley irá anunciar o mesmo em breve.
O comportamento desigual também é observado entre as bolsas da Europa. Na Ásia, a sessão tampouco teve uma direção única, com leves ganhos em Tóquio e Xangai, mas queda em Hong Kong, após alertas dos presidentes dos bancos centrais japonês (BoJ) e chinês (PBoC) e em meio à visita de Donald Trump à região.
O iene caiu ao menor nível desde março em relação ao dólar, pressionado pelas declarações do BoJ de que é crucial que a inflação no Japão supere o alvo de 2%, o que sinaliza uma continuidade dos estímulos monetários ao país. Já a bolsa de Hong Kong registrou a maior queda em mais de duas semanas, diante dos renovados alertas sobre os riscos de alavancagem financeira na China.
Nas commodities, o petróleo é negociado acima de US$ 55 o barril, reagindo à inesperada prisão de príncipes e ministros na Arábia Saudita pelo crime de corrupção, o que incluiu um famoso bilionário, com investimentos em empresas como Citigroup e Apple. Entre os metais básicos, destaque para o minério de ferro, que subiu mais de 5% na bolsa chinesa de Dalian.