Após um impressionante início de ano, o apetite dos investidores por ativos de risco deu os primeiros sinais de saciedade, em meio ao vaivém nos negócios com bônus. Ainda assim, os mercados internacionais tentam manter a tração do recente rali hoje, após a China afirmar que a notícia de que o país poderia reduzir ou suspender a compra de títulos dos Estados Unidos (Treasuries) citou uma “fonte errada”.
O aumento no rendimento (yield) dos papéis soberanos foi visto com preocupação, uma vez que poderia acionar uma realização de lucros mais intensa nas ações. Mas o exterior amanheceu ensaiando uma recuperação, com os índices futuros das bolsas de Nova York apontando para uma sessão de ganhos, o que sustenta a Europa nesta manhã e ajudou a apagar o sinal negativo em Xangai, sem impedir uma nova queda da Bolsa de Tóquio.
>A valorização do iene, que segue próximo aos maiores níveis em seis semanas, atrapalhou o desempenho do índice Nikkei. O dólar tenta recuperar o terreno perdido para as moedas rivais, mas não consegue firmar uma direção única, ganhando espaço em relação ao peso mexicano e ao dólar canadense, diante das especulações sobre o fim do Nafta, ao passo que o dólar australiano avança, após números robustos sobre as vendas no varejo do país.
Já o petróleo ensaia uma devolução da alta recente, mas segue negociado perto dos maiores níveis em mais de dois anos. Apesar dessa tentativa de melhora no exterior, os investidores mostram maior disposição em embolsar parte dos ganhos acumulados desde o início do ano, corrigindo os preços dos ativos em busca de melhores oportunidades de novas compras.
Esse movimento pode resgatar a onda de otimismo nos mercados domésticos, em meio às apostas dos investidores de que deve se confirmar no Brasil em 2018 o cenário de inflação comportada com juros baixos combinado com crescimento econômico mais acelerado e resolução dos imbróglios em Brasília. Mas o fato é que o cenário político segue como um grande ponto de interrogação para a economia.
Dois grandes temas devem dominar o mercado doméstico no curto prazo: as eleições presidenciais e a reforma da Previdência. Porém, ambas as questões estão repletas de incertezas. No primeiro caso, ainda não se sabe sequer quem serão os candidatos na disputa; no segundo, a dúvida é se o governo irá conseguir os votos necessários para aprovar a matéria.
Se o texto passar na Câmara dos Deputados em fevereiro – o primeiro turno da votação está marcado para o dia 19, o BC pode ficar balançado em cortar um pouco mais os juros básicos, a fim de acelerar o ritmo de recuperação da atividade econômica. Isso porque além da inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) também tem apontado a importância do andamento das reformas estruturais para o comportamento da taxa Selic.
Mas o governo tem tido dificuldades em garantir os 308 votos necessários para aprovar as novas regras para a aposentadoria. Até mesmo a suspensão da posse de Cristiane Brasil no Ministério do Trabalhou trouxe atrito nas negociações com a base aliada, impondo derrotas ao presidente Michel Temer. Era para ser uma troca simples de ministro, mas gerou um desgaste político grande e pode tirar o apoio do partido do (PTB) à reforma da Previdência.
Ontem, a deputada, filha de Roberto Jefferson, conhecido por denunciar o esquema de corrupção chamado de mensalão, sofreu uma segunda derrota na Justiça. O novo recurso apresentado por Cristiane Brasil foi negado e a posse dela segue suspensa, o que continua dando dor de cabeça ao governo. O juiz simplesmente manteve a decisão da 1ª Instância, que segue o devido processo legal.
Na agenda econômica, o dia está carregado de indicadores, porém sem grandes destaques. No Brasil, as atenções se voltam para os números da safra agrícola em 2018 (9h), que devem confirmar a expectativa de colheita menor, com os preços dos alimentos não ajudando tanto a segurar a inflação neste ano como aconteceu no ano passado.
No mesmo horário, saem os números regionais da indústria em novembro. Antes, às 8h, é a vez da primeira prévia de janeiro do Índice Geral de Preços – Mercado. No exterior, o calendário na zona do euro ganha força, com a divulgação dos dados da produção industrial em novembro e também da ata da reunião de dezembro do Banco Central Europeu (BCE).
Já nos Estados Unidos, serão conhecidos os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país e também o resultado do índice de preços ao produtor (PPI) em dezembro, ambos às 11h30. À tarde, às 17h, é a vez do Orçamento do Tesouro norte-americano em dezembro.v