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Bitcoin: a moeda da falta de confiança

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Em 22 de setembro fizemos uma postagem com o título “O Bitcoin é uma fraude?” (clique aqui para ler). À época, o ativo estava cotado a US$ 3.600 e subiu até meteóricos US$ 19.900, em 17 de dezembro. Apesar dessa forte alta, que beneficiou as pessoas que tinham o ativo e o mantiveram até a data em que fez a sua máxima, os preços oscilaram fortemente.

Na teoria econômica, uma moeda precisa ter a confiança dos agentes para cumprir suas funções. Nesse final de semana, Harold James, economista de Princeton, publicou um artigo no site Project Syndicate, alertando para os riscos que o Bitcoin coloca para a sociedade moderna. Um deles é produzir instabilidade nas economias, com o potencial de gerar grandes comoções, tais como crises econômicas, falências ou até mesmo guerras. Ele lembra que o revolucionário russo Vladimir Lenin considerava a instabilidade monetária o meio mais simples para exterminar o espírito capitalista e a democracia. Também pensavam assim os nazistas e líderes da Al Qaeda. O aumento da oscilação de preços de uma moeda, portanto, produz uma instabilidade que impede que ela exerça o seu papel ao longo do tempo. Essa oscilação de preços é chamada pela teoria das finanças de volatilidade.

Veja o gráfico da volatilidade do Bitcoin em comparação com o índice VIX:

Em 2016, quando ainda era restrito a um público menor, o Bitcoin tinha uma volatilidade semelhante a do mercado acionário, que oscilava entre uma mínima de 10%, nos momentos de tranquilidade, e 40%, nos momentos mais nervosos. Porém, quando ela ganhou popularidade mundo afora, com seu valor de mercado subindo exponencialmente, de US$ 4,8 bilhões em janeiro de 2016, para US$ 15 bilhões em janeiro de 2017, a volatilidade disparou. O Bitcoin passou a oscilar entre 35% e 200% ao ano, enquanto o VIX, que mede a volatilidade das principais opções dos EUA, ficou perto dos 10% por todo esse período. Esse patamar do VIX é historicamente muito baixo e é resultado da manutenção dos juros muito baixos por parte dos maiores bancos centrais do mundo. Com juros muito baixos, a percepção de risco sobre a maior parte dos ativos cai significativamente, sendo um dos resultados desejados pelos formuladores de política monetária[i].

Ocorre, porém, que no momento em que os ativos globais tiveram uma redução de seus riscos percebidos, o Bitcoin caminhou na direção oposta. Esse comportamento, de aumentos simultâneos de volumes negociados, valor de mercado e volatilidade, é absolutamente atípico. O que seria de esperar era que o seu valor de mercado subisse, por conta do aumento da demanda por parte dos agentes, ao mesmo tempo que a volatilidade caísse, refletindo o aumento da confiança dos agentes nesse ativo. Mas os agentes aumentaram a demanda, fazendo os preços subirem, ao mesmo tempo que em sinalizaram desconfiança elevada sobre a capacidade dos preços se manterem nessa trajetória de alta.

Ora, se a volatilidade reflete a confiança dos agentes em relação aos preços de um ativo, a volatilidade do Bitcoin está sinalizando uma enorme desconfiança dos agentes em relação à possiblidade de manutenção da trajetória de alta permanente. E não estamos falando de uma volatilidade pequena, já que ela está em 222%. A volatilidade medida pelo VIX bateu 44% no episódio da quebra do fundo LTCM, 32% no atentado de setembro de 2001 e 59% na crise de 2008/2009. Isso significa que mesmo quando os agentes se viram diante de eventos catastróficos, que poderiam colocar o mercado acionário em colapso, a volatilidade não foi tão elevada como a que acomete o Bitcoin nos últimos meses.

Essa questão é relevante já que o Bitcoin pretende ser uma moeda que substituirá o dólar ou qualquer outra moeda estatal. Como moeda, uma de suas características mais marcantes, com certeza, é a de ter a confiança dos agentes que irão liquidar suas operações comerciais ou financeiras com ela. Um agente precisa confiar em uma moeda para aceitá-la como contraparte na prestação de um serviço ou como referência dos valores de um contrato de longo prazo. Agora imagine um contrato de fornecimento de milho que um produtor assina com uma indústria de alimentos, com prazo de 2 anos: a quantidade oferecida pelo mesmo valor em Bitcoins iria sair de cerca de 3 mil kg em janeiro de 2016 (117 bushels) para 140 mil kg em dezembro (5,5 mil bushels) e 58.500 kg hoje em dia (2,3 mil bushels).

A quantidade fornecida pelo agricultor mudaria completamente sem que a sua produtividade conseguisse acompanhar essas mudanças. O agente que fechasse um contrato nessa moeda iria ter sérios problemas para liquidá-lo. Caso não liquidasse, ele iria transferir para a indústria grande parte de seu risco, produzindo efeitos poderosos sobre toda a produção de alimentos. Esse exemplo ilustra um ponto importante: se o PIB de um país, ou de vários deles, fosse medido em Bitcoins, a sua economia iria entrar em um colapso fatal, com danos para todos os agentes. Com essa volatilidade, a moeda que veio para supostamente melhorar a vida da sociedade, libertando-a dos supostos malefícios da centralização estatal, iria colocar os agentes em falências, fome, revoltas e, muito provavelmente, guerras.

O recente histórico dessa criptomoeda serviu para reforçar a tese de que ela não serve, em hipótese alguma, como moeda para a sociedade. Ela aumenta os riscos, a insegurança e pode colocar os agentes em situação de conflito. A volatilidade elevada, é uma constatação inequívoca, fundamentada nos dados diários das cotações do ativo, obtidos em abundância na internet, e não está sujeita a contestação. Ainda que a tecnologia do blockchain seja uma boa conquista para a sociedade, a insistência em levar milhares (ou milhões!) de agentes à bancarrota, por conta do inevitável estouro da bolha de preços das criptomoedas, mostra o caráter insano desse novo mercado.

[i] Com a queda do risco percebido os agentes ficam mais propensos a investir e gastar, aumentando os gastos totais da economia e, por conta disso, acelerando a taxa de crescimento, que é o resultado desejado pelos BCs.

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