Os quatro maiores bancos de varejo brasileiros com ações em bolsa, Banco do Brasil (BBAS3), Itaú Unibanco (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11), registraram em 2017 um lucro líquido contábil (sem eliminar eventos não recorrentes) de R$ 57,630 bilhões, 14,59% superior aos R$ 50,289 bilhões de 2016, ano marcado pela pior fase da recessão e da retração do crédito. O lucro de 2017 é o segundo maior dos últimos 10 anos, perdendo apenas para os R$ 61,947 bilhões de 2015. Os dados fazem parte de um estudo elaborado por Einar Rivero, da Economática. Apesar da queda, o lucro dos quatro bancos é mais que o dobro dos R$ 25 bilhões de 2008.
Maior crescimento de lucro é do BB, mas resultado fica abaixo da média dos últimos 10 anos
Individualmente, o maior crescimento de lucro foi registrado pelo Banco do Brasil, com 54%, passando de R$ 8,034 bilhões para R$ 11,011 bilhões. Apesar do crescimento, porém, o lucro do BB está abaixo dos de seis dos nove anos anteriores. A explicação é que o lucro de 2016, base da comparação, foi fortemente reduzido pelo ajuste das provisões do banco, que ampliou muito a carteira de crédito durante o governo de Dilma Rousseff. Apesar de seu tamanho, superior ao dos concorrentes privados, o BB tem um lucro bem inferior aos do Itaú Unibanco e Bradesco.
Santander tem lucro recorde, 44,53% maior; Itaú lidera ganhos
O Santander também é destaque, com crescimento de 44,53% no lucro de 2017 sobre 2016, saltando de R$ 5,533 bilhões para R$ 7,997 bilhões, o maior já registrado pelo banco espanhol no país. Itaú Unibanco, que registrou o maior lucro entre os quatro bancos, com R$ 23,965 bilhões, teve um crescimento mais modesto, de 10,7%. Mas é também o maior lucro de sua história. Já o Bradesco teve um lucro contábil 2,82% menor em 2017 que em 2016, mas ainda assim um dos maiores dos últimos 10 anos. O banco da Cidade de Deus reduziu o lucro no ano passado abatendo o ágio na compra do HSBC.
Lucro do Itaú triplicou em 10 anos e do Santander, quintuplicou
Chama a atenção o crescimento no lucro dos bancos em 10 anos, especialmente do Itaú Unibanco, que passou de R$ 7,8 bilhões em 2008 para R$ 23,965 bilhões em 2017, ou três vezes mais. A explicação é a compra do concorrente Unibanco. Mas, mesmo o Bradesco, que adquiriu recentemente o Santander, apresenta um crescimento de quase 100% sobre os R$ 7,620 bilhões de 2008. O Santander então multiplica o resultado por sete. Já o Banco do Brasil cresce bem menos, 25% em 10 anos.
Rentabilidade dos bancos sobe, mas é uma das menores em 10 anos
Embora o lucro dos bancos no ano de 2017 seja superior ao de 2016, a mediana da rentabilidade sobre o patrimônio (ROE) dos quatro bancos no ano de 2017 está praticamente estável com relação a 2016 com 13,92%. O melhor registro de 2008 até 2017 foi no ano de 2010, quando a mediana foi de 23,13%. Ela é uma das menores dos últimos dez anos, e reflete a crise econômica do país, que reduziu as carteiras de crédito dos bancos nos últimos dois anos e elevou as perdas com inadimplência.
Os dados mostram que os bancos perdem em cenários de retração econômica mesmo com os juros elevados, o que reforça que o crédito é um fator importante para definir seu desempenho. A expectativa agora é que a rentabilidade dos bancos diminua com o juro mais baixo pois o spread (diferença entre o que o banco paga na captação e o que recebe nos empréstimos) será proporcionalmente menor. Isso obrigará os bancos a aumentar o volume de crédito para compensar a perda com a Selic mais baixa.
Maior retorno é do Itaú; BB tem maior queda de rentabilidade
Na tabela abaixo temos a evolução do ROE individual de cada um dos bancos de 2008 até 2017. Chama a atenção o forte desempenho do Itaú Unibanco, com a maioria dos retornos acima de 20% ao ano, mas que perdem força nos últimos dois. O Bradesco tem desempenho semelhante, também sofrendo com o impacto da compra do HSBC. Banco do Brasil apresenta a maior queda na rentabilidade, de mais de 20% até 2013 para 13,62% em 2017. Outro destaque é a forte alta da rentabilidade do Santander, de menos de 5% ao ano para 13,79% no ano passado, seu melhor desempenho em 10 anos.
Provisões ainda nos maiores níveis em 10 anos
O melhor quadro para mostrar os efeitos da crise econômica nos bancos pode ser o das provisões para devedores duvidosos. Elas disparam a partir de 2014, quando as políticas do governo Dilma ainda estimulavam os bancos públicos a conceder crédito para evitar a desaceleração da economia, e batem o recorde de R$ 87,638 bilhões em 2016, um crescimento de 47% em dois anos. Em 2017, começa o movimento de queda, de quase R$ 10 bilhões, mas o número segue elevado, o terceiro maior da década, com R$ 77,610 bilhões. A tendência é que esse número continue caindo à medida que a economia se recupera e as famílias recuperam empregos e renda e as empresas melhoram seus resultados e voltam a pagar. Neste ano, já houve uma melhora na inadimplência das pessoas físicas, que deve se espalhar para pequenas empresas este ano.
Em 2017 somente o Bradesco não diminuiu o PDD. O ItauUnibanco é o que tem a maior queda com -30,27%; o PDD do banco em 2016 é de R$ 21,58 bilhões contra R$ 15,04 bilhões de 2017. Os maiores valores são do Bradesco e do Banco do Brasil. Veja abaixo a evolução do PDD dos bancos de 2008 até 2017.
Receita de serviços supera gastos com pessoal
No ano de 2017 o volume de receitas com serviços bancários dos quatro maiores bancos foi de R$ 101,3 bilhões, crescimento de 9,5% sobre 2016, enquanto as despesas com pessoal somaram R$ 71,57 bilhões, ou 3,5%. Assim, a relação de receitas versus pessoal em 2017 foi de 141,7%, o que significa que os serviços bancários cobrem todo o custo com mão de obra. O maior valor percentual nessa relação foi registrado em 2014, quando a relação foi de 150,8%.
Quatro maiores bancos brasileiros valem R$ 804 bilhões
O valor de mercado em 20 de fevereiro dos quatro maiores bancos é de R$ 803,7 bilhões, crescimento de 20,5% com relação a dezembro de 2016. O valor de mercado cresce pelo terceiro ano consecutivo, considerando os fechamentos anuais. Os piores momentos foram registrados no final de 2008, quando os bancos registraram R$ 247,3 bilhões de valor de mercado e em 2015 com R$ 348,90 bilhões.