O feriado da Páscoa em vários países do mundo antecipa para hoje o fechamento do mês e, de quebra, de um tumultuoso primeiro trimestre. A forte alocação de recursos em ativos de risco vista em janeiro sofreu um solavanco em fevereiro, garantindo doses extras de volatilidade em março. Com isso, a severa pressão nos mercados financeiros, aqui e lá fora, pode ter tido um peso extra vindo dessa questão técnica, com os investidores apenas ajustando seus portfólios. Mas, desta vez, o movimento dos mercados globais pode ser diferente.
Tal percepção só poderá ser aferida nos próximos dias, já em abril, quando as negociações acerca do comércio global podem ter novas rodadas, diante da estratégia do governo Trump de “primeiro assustar para depois negociar”, e o cenário político no Brasil começa a ter as primeiras definições, à luz das eleições de outubro. O que se pode dizer, por ora, é que a volatilidade veio para ficar e esse vaivém nos negócios alimenta tanto a tomada de risco quanto a busca por segurança, com os ativos buscando um ponto de acomodação.
Tanto que, nesta manhã, os índices futuros das bolsas de Nova York e as principais bolsas europeias ensaiam ganhos, visando reduzir parte das perdas registradas no mês e no acumulado do ano. As ações ligadas às commodities lideram a alta, diante do avanço do petróleo e dos metais básicos. O dólar mede forças em relação às moedas rivais, monitorando o comportamento dos títulos norte-americanos (Treasuries), que vêm sendo influenciados pelo maior leilão de papéis ofertado na história do Tesouro norte-americano.
Assim, a dinâmica recente dos ativos, com o fluxo de saída dos negócios de ações afetando o comportamento das moedas ao redor do mundo e atraindo recursos nos bônus mais seguros, pode ser a nova tônica dos investidores no horizonte à frente. Nesse embate, há poucos indícios de que a calmaria possa estar no horizonte de curto prazo. Até porque o volume financeiro no pregão de hoje já está mais fraco, com muitos investidores esticando a pausa.
Pode ser, então, o respiro que a Bolsa brasileira precisa para reduzir as perdas de março, que chegam a 4% em dólar, mas sem impactar a valorização ao redor de 10% no ano, também em moeda estrangeira. A redução do compulsório bancário exigido pelo Banco Central, que deve liberar recursos à economia, também tende a impulsionar os negócios locais, principalmente as ações dos bancos.
Outro fator que pode trazer certo alívio na sessão de hoje, mas no mercado de câmbio, é o leilão de dólares oferecido pelo Banco Central, que dá início a uma rolagem parcial de US$ 2 bilhões do compromisso de recomprar até US$ 3,5 bilhões na virada do mês. De qualquer forma, é bom lembrar que apenas nesta semana o dólar já renovou a maior cotação do ano mais de uma vez, indo além do patamar de R$ 3,30, depois de ter começado março na faixa de R$ 3,25.
Na agenda econômica desta quinta-feira, o destaque fica com a divulgação do relatório de inflação do BC referente ao primeiro trimestre deste ano, o chamado RTI. Após a mensagem deixada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na ata, de que uma redução moderada adicional da taxa básica de juros é apropriada em maio, as atenções se voltam às projeções para inflação e atividade no Brasil trazidas pelo RTI.
Isso porque, a depender das estimativas do BC para o comportamento do preço e da economia no horizonte à frente, o ciclo de cortes da Selic pode ter continuidade ainda em junho, desde que se confirme as surpresas para baixo nos indicadores domésticos. Sem surpresas desfavoráveis, o juro básico pode chegar ao piso histórico de 6% em junho – mas é apenas um ajuste fino.
Às 11h, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, concede entrevista coletiva para comentar o documento, em um aparição inédita que pode ajudar na calibragem das apostas para o rumo da taxa Selic no curto prazo. Antes, às 9h, o IBGE informa o índice de preços ao produtor em fevereiro e também a taxa de desocupação no país nos últimos três meses até o mês passado.
A previsão é de que a taxa de desemprego da população brasileira suba a 12,5%, alcançando o maior nível desde agosto do ano passado, e dando continuidade ao processo de alta observado no período até janeiro, quando a desocupação registrou a primeira alta desde o primeiro trimestre de 2017. Com isso, o total de desempregados no país deve encostar na marca de 13 milhões de pessoas, o que tende a manter a renda do trabalhador estável.
Já no exterior, os indicadores econômicos norte-americanos do dia são importantes para auferir os passos da política monetária do Federal Reserve em 2018. Ao longo da manhã, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos Estados Unidos, e os dados sobre a renda pessoal e os gastos com consumo em fevereiro, além do índice de inflação PCE – todos às 9h30.
Ainda nos EUA, também serão conhecidos o índice de atividade das empresas em Chicago em março (10h45) e a leitura final da confiança do consumidor nos EUA neste mês (11h). Na Europa, o destaque fica com os dados de atividade no Reino Unido, sendo que será conhecida a terceira e última leitura do Produto Interno Bruto (PIB) britânico ao final de 2017.