O mercado financeiro tem mostrado preocupação quanto à trajetória de alta da taxa de juros nos Estados Unidos e o relatório de emprego no país, a ser divulgado às 9h30, pode dar sinais mais fortes sobre o rumo do custo do empréstimo neste ano. Depois de o Federal Reserve ter deixado em aberto a possibilidade de quatro ajustes, os dados do payroll em abril podem calibrar de vez as chances de o segundo aperto em 2018 ocorrer já em junho.
À espera dos números, os mercados globais mostram algum sinal de estabilização. As principais bolsas europeias ensaiam ganhos, apesar da sessão negativa na Ásia e do comportamento lateral dos índices futuros das bolsas de Nova York. O dólar mostra força em relação às moedas rivais, mas tem fôlego curto, ao passo que o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) está abaixo de 2,95%. As commodities recuam.
As atenções seguem voltadas aos dados de emprego nos EUA. A previsão é de que tenham sido criados 190 mil postos de trabalho no mês passado, de pouco mais de 100 mil vagas abertas em março, o que levaria a taxa de desemprego a 4,0%, de 4,1% no mês anterior. Já o ganho médio por hora tende a manter o ritmo de alta, subindo 0,3% em base mensal e crescendo 2,7% no confronto anual.
Se confirmados, tais números tendem a corroborar a percepção de solidez do mercado de trabalho norte-americano, que dá sinais cada vez mais firmes de viver em um cenário de pleno emprego, com a pressão crescente sobre os salários reforçando o otimismo do Fed, de que o aumento da inflação para perto da meta de 2% é um processo sustentado. Porém isso não significa qualquer necessidade de acelerar o ritmo gradual de aperto monetário.
Na quarta-feira, o Fed falhou em trazer pistas sobre a trajetória dos juros no horizonte à frente, mantendo no jogo a chance de quatro altas no total – uma a mais do que cenário consensual. Por isso, o mercado financeiro está atento aos indicadores sobre a economia norte-americana e o payroll ganha importância para a dinâmica dos ativos no curto prazo.
Assim, números que confirmem o acúmulo de pressão inflacionária na economia dos EUA devem pressionar os negócios com ações, valorizando o dólar em termos globais e provocando uma fuga do risco, em busca de segurança. Por outro lado, dados mais fracos podem trazer algum alívio, mesmo que momentâneo, aos ativos mais arriscados.
Os dados de emprego nos EUA são o destaque da agenda econômica desta sexta-feira, que tem também números sobre a atividade no setor de serviços e no varejo da zona do euro no mês passado. No Brasil, o calendário está mais fraco, trazendo apenas dados sobre a inflação percebida pelos consumidores de baixa renda em abril (8h).
Por aqui, além das questões externas, como a trajetória de alta de juros nos EUA, os temas domésticos, como as eleições presidenciais, são fatores que devem manter a pressão sobre os ativos locais. Ontem, a decisão do Banco Central local de intervir no mercado de câmbio levou o dólar para baixo, mas a moeda norte-americana seguiu acima da marca de R$ 3,50.
O problema foi que o atuação da autoridade monetária acendeu a luz amarela em relação ao ciclo de queda da taxa básica de juros neste mês. Isso porque, na teoria, é impossível vender dólar e cortes juros ao mesmo tempo. Com isso, os investidores passaram a questionar se cabe um corte adicional na Selic, após a postura do BC mostrar desconforto com a recente valorização do dólar, a cerca de duas semanas da reunião do Copom.
Ainda assim, essa estratégia não significa que o BC terá de abrir mão de algo, seja da queda dos juros básicos, seja da desvalorização do real. Afinal, a intervenção nos negócios com câmbio serviu de alerta, mas está longe de contaminar o cenário benigno da inflação ou alterar a necessidade de estímulos à atividade doméstica. Ou seja, por mais que tenha entrado no radar do investidor, colocar em xeque um novo corte na Selic em maio parece exagerado.
Nesse sentido, o Copom não deve se furtar da mensagem deixada ao final da reunião de março, quando se comprometeu com uma redução moderada adicional no encontro seguinte, neste mês. E é por isso que as apostas de mais um corte de 0,25 ponto percentual (pp) na Selic em maio seguem majoritárias, ao redor de 60%.