O dia seguinte no mercado financeiro à decisão dos Estados Unidos de sair do acordo nuclear do Irã é de rali no dólar e no petróleo. O barril do tipo WTI sobe mais de 2%, cotado acima da faixa de US$ 70, nos maiores níveis desde 2014, ao passo que a moeda norte-americana ganha terreno dos rivais, principalmente em relação às emergentes, o que pressiona os metais básicos. Já o juro projetado pelo título dos EUA de 10 anos (T-note) volta ao nível de 3%. Nas bolsas, a dinâmica segue indefinida, com sinais mistos, porém ainda favoráveis, desde a Ásia até Nova York.
Com a decisão de Washington de deixar o acordo nuclear, a escalada geopolítica no Oriente Médio é crescente. No mercado financeiro, o impacto se dá, principalmente, no petróleo, uma vez que o Irã, terceiro maior exportador da commodity entre os países produtores da Opep, terá mais dificuldades em vender o produto, por causa de novas sanções econômicas dos EUA a Teerã.
Em tese, preços mais elevados do barril de petróleo é bom para a produção de xisto nos EUA, pois é alto demais o custo para extração e distribuição do combustível – bem mais poluente, mas que pode levar à independência energética norte-americana. Daí, então, um dos fatores que levou à decisão da Casa Branca ontem, apesar da lamentação dos europeus. Obviamente, a principal questão é servir e proteger os interesses dos aliados da região: Israel e Arábia Saudita.
Há também um reflexo, para cima, no rendimento (yield) dos títulos dos EUA (Treasuries) e no ciclo de alta da taxa básica de juros norte-americana, uma vez que os preços mais elevados do petróleo tendem a gerar inflação, encarecendo os bens e serviços ao consumidor e instigando uma postura mais agressiva por parte do Federal Reserve. Por isso, a pressão sobre a T-note, antes de um leilão de US$ 25 bilhões em papéis de 10 anos a ser ofertado pelo Tesouro dos EUA hoje e que pode pagar cupom de 3% pela primeira vez em quase sete anos.
Desse modo, a retirada dos EUA do acordo dos aliados com o país persa afeta o sentimento de risco nos mercados globais, com a ameaça de um aumento na tensão geopolítica no Oriente Médio pesando no mercado financeiro e a preocupação implicando maiores rendimentos das Treasuries e um dólar mais forte. Mas o que os investidores estão mesmo refletindo é um cenário de diferenciação da economia norte-americana, com crescimento robusto e pleno emprego, em detrimento ao restante do mundo, onde os dados econômicos são mais fracos na Europa e China.
Nesse movimento, os países emergentes são os mais penalizados, em meio à migração de recursos em direção a ativos mais seguros e menos arriscados. A vítima mais recente foi o México, mas também há turbulência vindo da Turquia, Rússia, Argentina – e do Brasil. Na Indonésia, a rupia caiu ao menor nível em 29 meses, diante da saída de recursos estrangeiros do país.
Por aqui, a principal discussão continua sendo o corte derradeiro de 0,25 ponto na taxa básica de juros, que foi sinalizado pelo Banco Central ainda em março – antes, portanto, da deterioração do mercado financeiro. A questão é que mais uma queda na Selic, mesmo que moderada, tende a diminuir ainda mais o diferencial entre o juro brasileiro e o praticado no exterior.
Tal fator reduz a atratividade em ficar aplicado no risco brasileiro, enquanto países menos arriscados estão oferecendo retornos maiores. Com isso, a pressão sobre o real só aumenta, ampliando a valorização do dólar, que ontem encostou em R$ 3,60, e reduzindo a eficiência na intervenção do BC via oferta extra de contratos de swap cambial.
Ontem, porém, o presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn, falhou em mudar a indicação do BC feita na última reunião e mostrou-se em uma situação muito confortável: o ciclo de queda dos juros básicos está perto do fim e, após a decisão de maio, o Copom não precisará agir tão logo, mas apenas parar o processo, avaliando o cenário à frente.
Ele deixou claro que a recente pressão no dólar não impede mais uma queda de 0,25 ponto na próxima semana, renovando o piso histórico da Selic, a 6,25%. Segundo o presidente do BC, o Brasil está preparado para enfrentar as turbulências externas e observou que o fortalecimento da moeda norte-americana é global. O que importa, portanto, é a inflação e a atividade – sendo que ambas estão fracas.
Na agenda econômica do dia, destaque para o comportamento dos preços no atacado dos Estados Unidos no mês passado (9h30) e também para a posição dos estoques de petróleo bruto e derivados no país na semana passada (11h30). Também é esperado o dado sobre os estoques no atacado norte-americano em março (11h). No fim do dia, a China anuncia os índices de preços ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI) em abril.
Já no Brasil, o calendário traz logo cedo leituras regionais sobre os índices de preços ao consumidor (IPC) na prévia deste mês e dados regionais sobre a atividade industrial em março (9h). Às 12h30, o Banco Central informa os números fechados de abril e os parciais de maio sobre a entrada e saída de dólares, que devem refletir os impactos do contexto externo e os riscos internos no fluxo de recursos ao país.
Na safra de balanços, Ambev, Braskem, Gerdau e Gol publicam seus resultados trimestrais antes da abertura do pregão. No destaque, a fabricante de bebidas deve ter sido prejudicada pela queda nas vendas de cervejas, ao passo que a companhia aérea deve seguir registrando lucro. Após o fechamento da sessão local, merecem atenção os balanços do frigorífico Minerva e da fabricante de cosméticos Natura.