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Confiança do pequeno empresário tem pior índice em 8 meses; dicas ajudam a enfrentar cenário instável

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Refletindo principalmente os estragos gerados pela paralisação dos caminhoneiros, o Indicador de Confiança do Micro e Pequeno Empresário marcou 46,4 pontos em junho, depois de oito meses seguidos acima dos 50 pontos.

O índice, medido pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), é baseado nas avaliações desses empresários sobre as condições gerais da economia brasileira e o ambiente de negócios, além das expectativas em relação à economia e a suas empresas nos próximos seis meses.

Entre os empresários entrevistados, perto de um terço (32%) se declara pessimista com a economia nos próximos meses, apontando como principal razão para isso incertezas políticas, mencionadas por 64%.

Indicador fica abaixo de 50 pontos e vai para o campo do pessimismo

Resultados acima de 50 pontos mostram que o otimismo prevalece, ao passo que resultados como o de junho, abaixo desse patamar, indicam uma visão pessimista. O Indicador de Confiança do Micro e Pequeno Empresário (MPEs) leva em consideração 800 empreendimentos do setor comércio varejista e serviços, com até 49 funcionários, nas 27 unidades da federação, incluindo capitais e interior.

Na comparação com o mês anterior houve forte queda do indicador geral de confiança, de 14,2%. Com isso, o aumento do otimismo observado ao longo do último ano reverte-se em cautela por parte das empresas de menor porte.

Paralisação dos caminhoneiros influenciou resultados

Entre os fatores que influenciaram os resultados de junho, os coordenadores do estudo destacam a paralisação dos caminhoneiros, no fim de maio, que por quase duas semanas provocou o desabastecimento do varejo, afetando ainda o funcionamento dos estabelecimentos comerciais pela falta de produtos como combustíveis e gerando dificuldade de deslocamento dos consumidores.

Avaliação mais negativa em relação à economia e ao próprio negócio

O estudo mostra que a maioria dos micro e pequenos empresários percebeu piora na economia e que a visão negativa sobre negócios também cresceu em junho.

O Indicador de Condições Gerais registrou 33,4 pontos em junho, abaixo do observado em maio, que estava em 42,5 pontos, sinalizando que a maioria dos entrevistados notou algum tipo de piora ao observar conjuntamente o desempenho da economia e dos negócios nos últimos seis meses.

Para 66%, economia piorou nos últimos seis meses

Já em termos percentuais, 66% dos micro e pequenos empresários avaliaram que a economia piorou nos últimos seis meses, contra 46% em maio. Somente 11% percebeu sensível melhora. A percepção negativa se repete quanto à avaliação do próprio negócio, que aumentou na comparação com maio, passando de 36% no mês passado para 48% em junho.

Focos de preocupação: crise, alta de insumos e matérias-primas e inadimplência

Entre os que sinalizaram um quadro de piora em sua empresa, 78% acreditam que a redução das vendas está associada à crise, 38% citam o aumento dos preços dos insumos e matérias primas, enquanto 12% mencionaram a inadimplência.

Apenas 17% viram os negócios terem resultados positivos. Os principais fatores destacados para essa performance são o aumento das vendas (50%), melhorias na gestão da empresa (44%), mudança do mix de produtos e serviços oferecidos (21%) e redução dos custos (13%).

Expectativa cai 6,8 pontos, mas 53% ainda se mostram confiantes no futuro do negócio

Quanto a expectativas, o indicador caiu de 62,9 pontos em maio para 56,1 pontos no mês passado, mas 53% ainda se mostram confiantes com o futuro dos negócios. Em dados percentuais, 32% mostraram-se pessimistas com a economia para os próximos meses e a principal razão deve-se às incertezas políticas, citadas por 64%.

Outros 28% acreditam que as instituições do país não favorecerem o desenvolvimento do empreendedorismo, enquanto os que dizem discordar das medidas econômicas adotadas formam 26% dos empresários pessimistas, e 25% mostram-se preocupados com os riscos de aumento de preços e do desemprego.

Ao olhar para o próprio negócio, o cenário é mais animador, com 53% dos entrevistados confiantes no futuro. Apenas 14% demonstram pessimismo.

Para um terço dos consultados, vendas foram ruins em maio

De acordo com o levantamento, 31% dos micro e pequenos empresários ouvidos disseram que o desempenho das vendas em maio não foi o esperado, enquanto 38% avaliaram como regular e para outros 31% o resultado foi bom. Quando questionados sobre a expectativa de faturamento para seu negócio nos próximos seis meses, 39% acreditam que haverá um aumento no volume de vendas. Já 46% esperam um cenário estável e 8% acham que terão queda na receita.

Dicas ajudam a otimizar gestão

Diante do cenário de incertezas enfrentado pelo país, com os efeitos sobre as empresas da greve dos caminhoneiros, alta do dólar e instabilidade política, por conta das eleições presidenciais, uma das alternativas dos MPEs é fazer o que estiver ao seu alcance, buscando otimizar a gestão do negócio. O professor de Microeconomia, Cenário Econômico e Mercado Financeiro da Saint Paul Escola de Negócios, Carlos Honorato, preparou alguns esclarecimentos e orientações com foco nos empreendedores do segmento.

Confira:

Como lidar com crédito neste momento?
O crédito continua sendo componente delicado na administração financeira das empresas. Em recente pesquisa, o Banco Central divulgou que o spread básico dos empréstimos dos bancos comerciais está na faixa de 10%, o que significa que os bancos cobram em geral 10% a mais do que eles captam. Em algumas faixas, o custo do crédito pode chegar a cerca de 200% de juros ao ano. A empresa deve, portanto, pesquisar e buscar o crédito mais barato em relação a suas opções, e focar em uma preferência pela liquidez, isto é, tentar na medida do possível manter algum caixa para eventualidades;

O crédito para investimento ainda é muito escasso e caro para MPEs. O Banco Central tem atuado no sentido de reduzir o custo dos empréstimos, com medidas como redução no volume de depósito compulsório. Houve ainda um sutil aumento da concorrência com a entrada de fintechs e cooperativas de crédito no mercado. Mas pouco ainda, para o nível de oferta de crédito que o mercado precisa;

O momento, portanto, é de conservadorismo, deve se evitar despesas arriscadas. Caso a empresa não tenha disponibilidade para investimento, agora talvez não seja um bom momento para investir utilizando crédito bancário.

Como enfrentar eventuais quedas de vendas/faturamento? o que é possível fazer?
Manter o nível de produtividade é fundamental. Em momentos de queda de vendas, ter uma equipe enxuta e dedicada pode fazer toda diferença; além de uma gestão conservadora das finanças, manter os profissionais focados e direcionados para a atividade fim do negócio também fará a diferença entre você e o concorrente menos preparado; lembre-se que crises vêm e vão, mas gerir seu negócio com competência e estar focado na razão dele existir e no valor entregue ao seu cliente, poderá ser o diferencial entre sucesso e fracasso.

— O que precisa ser observado em relação a estoques?
Em uma empresa, estoque geralmente representa dinheiro parado. A gestão de estoques é fundamental para que se mantenha o nível mínimo de produto de modo que o cliente não perceba a sua falta e, por outro lado, não seja excessiva, de modo a manter muito dinheiro parado. É importante ter cuidado com a ilusão vinda dos impactos da greve dos caminhoneiros, que nos faz supor que manter grandes estoques é vantagem. Pense sempre na combinação: menor dinheiro possível parado versus evitar a percepção de falta de algum produto pelo cliente.

— A gestão de pessoal exige cuidados especiais?
O líder hoje é a pessoa que conduz um negócio de um modo a influenciar a equipe a chegar a um patamar que ela não chegaria sozinha. Mais uma vez é preciso lembrar que crises e crescimento vêm e vão, mas o negócio tem que estar estruturado e ter uma proposta clara de valor, independentemente do período econômico — é assim que se cresce;

Uma equipe motivada nada mais é do que é um conjunto de pessoas que segue o mesmo objetivo, estando alinhadas a uma proposta de valor. Então, comunique à sua equipe, com clareza, até mesmo os momentos de dificuldades e razões pelas quais teve que, porventura, dispensar colaboradores. Valorize, incentive sua equipe nos momentos de crise, apresentando o motivo pelo qual o seu negócio existe, e o valor que você dá a ela. Retendo os seus profissionais durante momentos de crise, você passará pelas dificuldades e colherá muitos frutos quando a economia começar a crescer novamente.

— Se a MPE tiver custos e/ou produtos relacionados à variação do dólar, que cuidados deve tomar?
Uma lei básica da economia financeira é: não se deve brincar com o câmbio. O câmbio não é um ativo para investimento ou apostas, o câmbio é o valor relativo entre a nossa moeda e uma moeda estrangeira; se minha empresa depende de produtos importados cotados em moeda estrangeira, devo me proteger com ferramentas financeiras, como por exemplo o hedge — um seguro para variação cambial, de modo, que mesmo com algum custo eu me proteja das variações imprevistas;

Jamais a empresa deve subestimar os efeitos da variação do dólar, uma das variáveis mais imprevistas e impactantes, que oscila com a oferta e a demanda de mercado, e, mesmo que sua cotação aumente muito, em algum momento voltará a retroceder. O problema é descobrir os momentos desses movimentos. Portanto, se a empresa tem despesas em moeda estrangeira deve proteger-se e ter, sempre, muita cautela.

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