O dólar voltou a subir com força nesta terça-feira, 28, frente a diversas moedas de países emergentes, em meio à subida dos juros nos Estados Unidos e preocupações com a crise turca.
No Brasil, a moeda americana subiu também pelas incertezas com a eleição presidencial e a continuidade do ajuste fiscal, e fechou na máxima do dia, em alta de 1,5%, vendida a R$ 4,14 no mercado comercial, o maior valor desde janeiro de 2016 e o segundo maior do Plano Real. A instabilidade fez o Banco Central (BC) anunciar após o fechamento leilões de linhas, ou seja, venda de dólar, de US$ 2,15 bilhões para a rolagem de um vencimento em setembro.
O dólar turismo, do varejo e dos cartões de crédito e das viagens, subiu 1,4% e fechou a R$ 4,30 para venda. Já o Índice Bovespa, que reúne as principais ações brasileiras, recuou 0,59%, para 77.473 pontos. Os juros futuros também subiram, com o contrato para janeiro de 2019 na B3 projetando novamente 6,83%, ante 6,77% ontem, mesma taxa de sexta-feira. Para 2025, a projeção voltou a 12% ao ano, ou 12,01%, 0,1 ponto acima do fechamento de ontem.
Quarta maior desvalorização
A moeda brasileira foi uma das que mais se desvalorizou diante do dólar, atrás da lira turca, do peso argentino e do peso mexicano. Já em relação às moedas dos países desenvolvidos, o dólar recuou, caso do euro e do iene. (ver gráfico da Bloomberg).
Confiança do consumidor puxa juros nos EUA
A moeda americana surpreendeu na manhã de hoje com uma alta expressiva, afirma o economista-chefe da Spinelli Corretora, André Perfeito. Segundo ele, a alta está relacionada, do ponto de vista macroeconômico, com a melhora da Confiança do Consumidor nos EUA que atingiu a máxima da série desde 2003 e sugere uma política monetária mais apertada pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano).
Como reflexo desse indicador, os juros de 2 anos do Tesouro dos EUA subiram e na esteira dele a maioria das moedas emergentes se desvalorizaram contra o dólar, afirma Perfeito. O juro de 10 anos dos títulos do Tesouro dos EUA também subiu, para 2,88% ao ano, ante 2,84% ontem.
Moedas latino-americanas e lira turca em baixa
Na Europa, novas preocupações surgiram com relação ao impacto da crise turca sobre a Alemanha, que já estuda criar uma linha de socorro para o governo de Recep Erdogan.
Além disso, na Itália, logo cedo, os juros no mercado de títulos disparou após a informação de que o déficit público poderia ultrapassar o limite de 3% do PIB, o que aumentou a preocupação dos investidores com ativos de maior risco, o que acabou repercutindo nas moedas e bolsas dos emergentes. “A confiança do consumidor nos EUA puxa o ‘flight to quality”, a busca por proteção, e valoriza o dólar”, afirma Pablo Stipanicic Spyer, diretor da corretora Mirae Asset.
Vencimento de mercado futuro de dólar e incerteza local
A economia americana mais forte acaba anulando o otimismo de ontem com o acordo entre Estados Unidos e México no Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). “Porém, é imprescindível lembrar que nesta semana, fim de mês, ocorre a formação da taxa do dólar PTax pelo Banco Central, que é usada na liquidação dos contratos futuros de câmbio da B3”, afirma Spyer.
O vencimento aumenta a especulação de grandes investidores no mercado de câmbio. Além disso, há o imbróglio eleitoral, que continua dando espaço para especuladores. Spyer acrescenta que o risco-país também está em alta, atingindo a máxima desde dezembro de 2016, com 2,89 pontos percentuais acima do juro americano.
Volatilidade dificulta operações de hedge e pressionar dólar
Segundo Spyer, houve um aumento da volatilidade do dólar em relação ao real, que atingiu 22% na última semana. “O dólar está muito arisco, como não víamos há muito tempo”, diz. Com isso, os clientes reclamam de dificuldades em comprar a moeda no mercado à vista (spot), mesmo valores menores para esse mercado, de US$ 1 milhão por exemplo.
“Ao começar a comprar, o vendedor simplesmente desaparece, obrigando o comprador a pagar preços acima do previsto”, explica. Outro efeito dessa volatilidade é o aumento do custo das operações de hedge (proteção) cambial. “Para travar valores maiores, o mercado só aceita preços maiores”, afirma Spyer.
Dificuldade em comprar dólares
Ele lembra que muitos clientes captam recursos no exterior para aplicar aqui, incluindo investimentos de logo prazo, caso dos fundos de participações em empresas, os private equities, que precisam se proteger de desvalorizações do real. “Mas o hedge está tão caro que esse tipo de cliente está considerando uma operação que antes era impensável”, diz Spyer.
Essa operação consiste em remeter os recursos novamente para o exterior, aplicar em um título do Tesouro dos EUA de 10 anos e trazê-lo de volta somente no dia que o investimento na empresa for efetivamente feito. Essas três viagens -entrar no Brasil, sair e voltar – aumentam o custo da empresa, além de elevar a pressão sobre o câmbio, mas dado o cenário de volatilidade passa a ser considerado pelos investidores.