O mercado financeiro brasileiro volta do fim de semana prolongado tendo pouco ajuste a fazer aos dados robustos de emprego nos Estados Unidos (payroll) e mais atento à escalada da guerra comercial americana com a China, enquanto espera novos números sobre as eleições no país. O Datafolha vai a campo hoje e divulga nova pesquisa à noite, que já deve captar o impacto do ataque a Jair Bolsonaro na última quinta-feira.
A reação do investidor na reta final do pregão antes do feriado na sexta-feira refletiu a percepção de que depois de o candidato da direita conservadora ter sido esfaqueado em uma atividade de campanha na cidade mineira de Juiz de Fora, as candidaturas de esquerda perdem força na disputa presidencial. Mais até do que o bônus que Bolsonaro poderia ganhar.
Afinal, o noticiário em torno do assunto foi tratado exaustivamente pelos meios de comunicação, dando mais tempo de exposição do que os poucos segundos do PSL na campanha em rádio e TV. Toda a situação colocou em evidência o líder nas pesquisas de intenção de voto e a aposta é de que, agora, ele se torne mais competitivo e menos rejeitado – embora tenha continuado apregoando a violência em uma cama de hospital.
Bolsonaro tem conquistado a simpatia dos investidores, em detrimento a Geraldo Alckmin, por causa das ideias liberais de seu provável ministro da Economia, Paulo Guedes. Em contrapartida, o mercado financeiro vê o PT como menos comprometido com o ajuste fiscal e as reformas tidas como necessárias à economia brasileira.
Aliás, o PT tem até amanhã para anunciar seu candidato de fato ou ficar de fora da disputa deste ano, após a impugnação da candidatura do ex-presidente Lula e da rejeição dos recursos apresentados pela defesa. O mercado financeiro ainda observa atentamente o potencial de transferência de votos para o provável substituto na chapa, Fernando Haddad.
Por ora, os mais recentes levantamentos mantêm o cenário de incerteza, com a disputa totalmente em aberto e mostrando mais de um candidato capaz de alçar o segundo turno do pleito. Tampouco pode ser descartada uma definição na primeira rodada, considerando-se apenas os votos válidos.
A ver, então, o que dizem os números a serem divulgados hoje no Jornal Nacional. O Datafolha realiza pouco mais de 2,8 mil entrevistas hoje, em âmbito nacional. Amanhã, é a vez de um novo levantamento do Ibope sobre a corrida presidencial, que teve início no dia do acontecimento contra Bolsonaro. Hoje, saem os números regionais em São Paulo e no Rio.
Assim, o episódio em Minas Gerais, a espera pelas pesquisas eleitorais e a expectativa pela definição da chapa do PT tendem a manter a volatilidade elevada nos negócios locais, à medida que se aproxima a data da votação nas urnas. O debate eleitoral entre os presidenciáveis ontem, foi inconclusivo, dada a ausência de dois candidatos.
Enquanto aguarda novidades no front eleitoral, o mercado financeiro brasileiro reage ao relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos EUA, que mostrou a criação de 201 mil vagas de emprego em agosto, praticamente em linha com a previsão de +200 mil, e a manutenção da taxa de desemprego no país na mínima em 18 anos, a 3,9%.
Na média, os EUA geraram 207 mil empregos por mês no ano até agora, acima do ritmo de contratação dos dois últimos anos. O destaque, porém, ficou com o crescimento do salário pago aos trabalhadores, de US$ 0,10, a US$ 27,16 por hora, em média. Em base anual, o salário médio por hora cresceu US$ 0,77, ou 2,9%, na maior alta desde junho de 2009.
Os números mostram a força da economia norte-americana, que acelerou na primavera e não mostrou sinais de desaceleração ao final do verão. O problema é que a atividade aquecida pode pressionar a inflação. Por isso, o Federal Reserve tem elevado a taxa de juros do país e um novo aperto deve acontecer neste mês para conter a pressão nos preços ao consumidor.
Por ora, o processo de aumento do custo do empréstimo nos EUA não tem incomodado as empresas, diante da abordagem gradualista. Mas as investidas protecionistas do governo Trump podem atrapalhar os negócios. O presidente Donald Trump disse que está pronto para impor tarifas adicionais sobre US$ 267 bilhões em produtos chineses.
O valor supera os US$ 200 bilhões esperados e, segundo Trump, pode acontecer “muito em breve, dependendo do que acontecer” nas negociações com Pequim. O republicano afirmou que “odiaria fazer isso”, mas está pronto para agir, “se quiser”. Se ele seguir adiante, o total das taxações impostas cobriria o valor de todos os bens que os EUA compram da China.
Tal cobrança adicional de impostos sobre os produtos chineses afetaria o estilo de vida do norte-americano e colocaria algumas empresas em desvantagem, como já alertou a Apple. Trump ainda estaria aberto a conversar com o líder chinês, Xi Jinping. Uma oportunidade de encontro entre os dois pode acontecer na reunião da Assembleia-Geral da ONU neste mês e na cúpula do G-20, na Argentina, em novembro.
Mas só a ameaça foi suficiente para apagar os ganhos que eram observados em Wall Street, que acabou encerrando a sexta-feira em leve queda. Juntos, a ausência de sinal de desaceleração na economia dos EUA somada às táticas comerciais da Casa Branca e ao ritmo constante de alta na taxa de juros dos EUA geram estresse no mercado financeiro.
Tudo isso às vésperas das eleições legislativas nos EUA (mid term elections), que abrem o caminho para o pleito presidencial de 2020. Os cenários recentes mostram que o Congresso pode ser retomado pelos democratas, obstruindo a agenda do governo. Já se os republicanos conseguirem uma virada histórica, Trump terá mais dois anos – ou mais – para fazer o que quiser.
Em meio a todo esse noticiário, as principais bolsas asiáticas encerraram a sessão em queda, com Hong Kong e Xangai liderando as perdas, de mais de 1%, após o presidente dos EUA ameaçar intensificar o confronto comercial com a China. As ações da Foxconn, uma das principais fornecedoras da Apple, caíram pouco mais de 2%, enquanto a Largan Precision afundou 7%, depois que Trump sugeriu à gigante norte-americana de tecnologia mudar sua indústria produtiva para a América.
As bolsas da região também foram afetadas pelos números da balança comercial chinesa em agosto, cujo superávit encolheu a US$ 27,91 bilhões, de US$ 28,05 bilhões em julho. A previsão era de aumento do saldo para US$ 30,6 bilhões. No mês passado, as exportações perderam ritmo e cresceram 9,8%, em relação a um ano antes, de +12,2% no mês anterior, na mesma base de comparação.
As importações avançaram 20%, de +27,3% antes. Já o superávit comercial da China com os EUA cresceu a US$ 31,05 bilhões, de US$ 28,09 bilhões em julho. No Ocidente, as principais bolsas europeias amanheceram de lado, tentando pegar carona no sinal positivo vindo dos índices futuros das bolsas de Nova York. O dólar segue forte, ao passo que o petróleo se recupera da maior perda semanal em dois meses, em meio às especulações de escassez de oferta da commodity.
Entre os indicadores econômicos, dados de atividade no Brasil e no exterior marcam a agenda da semana. Na zona do euro, os números da indústria saem na quarta-feira e, nos EUA, na sexta-feira. Na China, o desempenho do setor será conhecido na quinta-feira. No mesmo dia, sai o desempenho das vendas do varejo doméstico e, no dia seguinte, do setor de serviços.
Hoje são esperadas as tradicionais publicações do dia: relatório Focus (8h25) e balança comercial semanal (15h). Será importante observar as expectativas do mercado financeiro para as principais principais macroeconômicas, embora seja cada vez mais perceptível que as estimativas para taxas de inflação e câmbio estão reprimidas, à espera das eleições.