Nada está tão ruim que não possa piorar. O presidente do Banco Central da Argentina, Luis Caputo, anunciou hoje que está deixando o cargo, alegando motivos pessoais. A renúncia, apenas três meses após o executivo assumir o cargo, ocorre justamente em meio a uma greve geral anunciada pelas centrais sindicais do país em protesto contra as medidas de ajuste fiscal acertadas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para o país conseguir um empréstimo de US$ 50 bilhões para conter a disparada do dólar, que sobe 4,5% hoje em relação ao peso, a 39,85 pesos por dólar. No lugar de Caputo, assumirá Guido Sandleris, que era responsável pela negociação com FMI. Ele deve manter a equipe do BC argentino e o vice-presidente da instituição, Gustavo Cañonero, permanecerá no cargo.
A turbulência na Argentina acaba chamando a atenção dos investidores internacionais para a fragilidade dos países emergentes, e afeta também a moeda brasileira. O dólar está em alta de 1% hoje em relação ao real, vendido a R$ 4,128 no mercado comercial.
O anúncio da saída de Caputo ocorre no momento em que o presidente Maurício Macri e o ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, estão em Nova York buscando acertar o empréstimo do FMI e acalmar os mercados com relação à situação argentina, informam os jornais locais. O jornal Ambito Financiera cita discordâncias sobre os rumos da política econômica argentina entre Caputo, um executivo do mercado, e o ministro Dujovne. O presidente do BC não teria acompanhado o ministro da Fazenda na primeira viagem para tratar do acordo com o FMI e discordaria da estratégia adotada para as políticas monetária e cambial do país.
Já o FMI divulgou uma nota afirmando que pretende continuar com a relação próxima e construtiva com o BC argentino, agora sob comando de Sandleris. “Nossa equipe e as autoridades argentinas continuam trabalhando intensamente com o objetivo de concluir as negociações técnicas no menor prazo possível”, afirmou em nota o porta-voz do FMI, Gerry Rice.
Enquanto isso, a negociação com o FMI continua, e teria como objetivo elevar o valor da ajuda para US$ 70 bilhões, além de acelerar os desembolsos, para tentar estancar a crise argentina, que já dura quatro meses. Uma das medidas em estudo, segundo o Ambito, seria o crawling peg, sistema cambial em que o dólar tem uma banda de flutuação, que também teria a oposição de Caputo, que preferiria um sistema de câmbio.
Companhias brasileiras cancelam voos para a Argentina
Enquanto a equipe econômica muda, as centrais sindicais argentinas promovem hoje a quarta paralisação geral contra o governo Macri, em protesto contra a recessão e as medidas de contenção de gastos e aumento de impostos anunciadas pelo governo para ajustar o elevado déficit público e conseguir o apoio do FMI. A paralisação afetou os transportes públicos da capital argentina, Buenos Aires, e o transporte de mercadorias, serviços públicos, bancos, caixas eletrônicos e escolas. Além disso, grupos de manifestantes bloqueiam alguns acessos à cidade.
Em meio à greve geral iniciada hoje, as companhias aéreas brasileiras cancelaram os voos para a Argentina. A Gol anunciou que todos os voos previstos para hoje foram cancelados e os passageiros poderão remarcar as passagens ou pedir o reembolso. A Latam informou que tanto os voos para a Argentina quanto os regionais entre cidades argentinas foram cancelados e os passageiros devem reprogramar as viagens no site da companhia.