No cenário político, numa das eleições mais acirradas desde a redemocratização do País, as atenções estarão totalmente voltadas para as articulações políticas e o início da campanha eleitoral do segundo turno da disputa presidencial com os dois candidatos definidos: Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), confirmando as projeções dos principais institutos de pesquisa – Ibope e Datafolha.
Bolsonaro consolida seu nome no campo da direita, com uma agenda conservadora voltada à família e alinhada com o mercado, principalmente na continuidade das reformas. Haddad, por sua vez, que representa a esquerda, defende a derrubada ou revisão da agenda liberal implementada pelo governo Temer, entre elas, a PEC do teto de gastos e a reforma trabalhista.
Vitória no primeiro turno não saiu, mas elevou bancada no Congresso
Apesar de crescer nas pesquisas nas duas últimas semanas, o deputado federal do Rio de Janeiro não obteve os necessários para se eleger no primeiro turno. No entanto, seu desempenho alavancou a votação de aliados nas Assembleias Legislativas, Câmara dos Deputados e Senado, destacando-se as regiões Sul e Sudeste.
Janaína bate recorde e Eduardo Bolsonaro supera Enéas
Em São Paulo, o PSL elegeu candidato Major Olímpio em primeiro lugar, derrotando Eduardo Suplicy (PT), que aparecia como favorito nas pesquisas de intenção de voto. Já Janaína Paschoal, que quase se tornou vice de Bolsonaro e foi uma das autoras do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, foi a deputada estadual mais votada da história em São Paulo, com 1,965 milhão de votos.
E, no Rio de Janeiro, o filho de Bolsonaro, o deputado estadual Flávio Bolsonaro também ficou em primeiro lugar, derrotando o ex-prefeito César Maia (DEM) e Lindenbergh Farias, um dos principais nomes do PT no Senado.
Outro filho de Bolsonaro, Eduardo, superou o recorde de votos para deputado federal do folclórico e já falecido Enéas Carneiro, o “Meu nome é Enéas”, com 1,8 milhão de votos. Enéas liderava com 1,574 milhão de votos.
Bancada da bala cresce
Também foram eleitos para a Câmara dos Deputaos, na cola de Bolsonaro, pelo PSL, a jornalista Joice Hasselmann, da Rádio Jovem Pan, segunda deputada federal mais votada por São Paulo, o ator Alexandre Frota e o herdeiro da família real brasileira Luiz Philippe de Orleans e Bragança.
Haddad manda no Nordeste, mas Dilma perde em Minas
Enquanto o adversário se fortaleceu no Sul e Sudeste, Fernando Haddad conseguiu repetir votações expressivas do PT no Nordeste, garantindo sua passagem para o segundo turno. O PT também conseguiu se manter no poder na maioria dos Estados do Nordeste, por meio de alianças com a maioria dos governadores eleitos ou favoritos nesta eleição. Apesar do bom desempenho, o PT teve dois importantes reveses em Minas Gerais, segundo colégio eleitoral do País, com as derrotas do governador Fernando Pimentel e da ex-presidente Dilma Rousseff, candidata ao Senado. Pimentel não foi sequer para o segundo turno, como indicavam as pesquisas, enquanto Dilma, que era favorita ao Senado, foi engolida pela onda anti-petista.
As urnas confirmaram também a terceira colocação de Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) na quarta colocação, deixando os tucanos fora do segundo turno, fato que não ocorria desde a eleição de 2002. A expectativa agora é de o petista tentar obter o apoio do pedetista. Já uma boa parte dos tucanos deve apoiar Bolsonaro, entre eles, os apoiadores do ex-prefeito paulistano, João Doria, que disputará o segundo turno da eleição ao governo do Estado e já declarou apoio ao candidato do PSL.
MDB perde lideranças e até a Presidência do Senado
As urnas surpreenderam também candidatos de centro, especialmente o MDB, do presidente Michel Temer, que não terá a maioria dos seus líderes no Senado no ano que vem. A começar pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira, do MDB, que não foi reeleito no Ceará, ficando em terceiro lugar. Seu vice, Cássio Cunha Lima, do PSDB, ficou em quarto lugar na Paraíba e também não voltará para Brasília no ano que vem.
O senador Edison Lobão, do MDB, figura tradicional do Senado e aliado do ex-presidente José Sarney, não conseguiu se reeleger no Maranhão. O mesmo ocorreu com o ex-líder do governo, Romero Jucá, que perdeu a vaga para o Senado pelo MDB em Roraima, apesar de ter se licenciado para tentar recuperar o eleitorado, em meio à crise de imigrantes venezuelanos. Também Garibaldi Alves, do MDB do Rio Grande do Norte, ex-ministro do Turismo, ficou de fora também. O ex-governador do Paraná, Roberto Requião, foi outro emedebista que perdeu a vaga no Senado.
No PSDB, ficaram de fora os ex-governadores e candidatos Marconi Perillo, que tentava uma vaga no Senado por Goiás, e Beto Richa, pelo Paraná. Richa chegou a ser preso em uma operação da policia paranaense. Perillo também foi alvo, da Polícia Federal, e só não foi parar atrás das grades por ser período eleitoral. Mas os dois não escaparam da condenação nas urnas.
Tucano queimado e sub-Marina
Dois partidos devem sair bastante machucados da eleição atual, o PSDB, de Geraldo Alckmin, que conseguiu menos de 5% dos votos, mesmo com o maior tempo de televisão e rádio e com o apoio dos partidos do Centrão, e a Rede de Marina Silva, que, com 1%, ficou atrás do Cabo Daciolo, do Patriotas, com 1,26%. Ambos os partidos devem passar por profundos processos de reestruturação ou acabar se esvaziando, talvez já neste segundo turno, dependendo de quem apoiarão. O apoio imediato de João Doria a Bolsonaro é outro desgaste para o partido e especialmente para Alckmin, que bancou a entrada do empresário apresentador na política.
Já Ciro Gomes sai fortalecido na esquerda como alternativa ao PT e a Lula.