A divulgação das últimas pesquisas eleitorais teve significativo impacto no mercado financeiro, por indicar o aumento das chances de vitória do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, na eleição presidencial. O dólar caiu abaixo de R$ 4,00 e o Índice Bovespa voltou para os 80 mil pontos, bem como os juros futuros recuaram. Para a MCM Consultores, parte desta recente movimentação dos preços dos ativos reflete a percepção de relevante parcela dos agentes econômicos de que as perspectivas para a economia brasileira melhorarão caso Bolsonaro seja eleito, ou de que, ao menos, ele merece o benefício da dúvida. Outra parte está relacionada, como é usual, a ajustes de posição no mercado financeiro.
Na avaliação da MCM, se Bolsonaro for eleito e o movimento de valorização de ativos financeiros tiver continuidade, a conjuntura econômica será, naturalmente, beneficiada no curto prazo. Por exemplo, uma valorização substantiva do Real reduzirá a inflação de preços regulados, levará o IPCA a encerrar o ano mais perto de 4,0% do que de 4,5%, terá efeito positivo sobre as expectativas para a inflação em 2019 e, dessa maneira, permitirá ao Comitê de Política Monetária (Copom) manter a Selic estável em suas próximas reuniões, diz a consultoria.
Portanto, tomando a taxa de câmbio e a Selic como referência, é possível que a eventual eleição de Bolsonaro leve a conjuntura econômica a evoluir inicialmente em um “cenário de retomada”. Em princípio, porém, tal coincidência deverá ter vida relativamente curta, alerta a MCM.
A consultoria explica que o “cenário de retomada” foi construído com base na hipótese de eleição do candidato mais familiarizado e comprometido com uma ampla agenda de reformas econômicas — essenciais para a sustentabilidade fiscal e para a melhora do ambiente de negócios no país — e mais capacitado a maximizar as chances de aprovação de reformas complexas e/ou impopulares no Congresso. “E não vemos no momento o desenvolvimento das condições necessárias para a materialização deste cenário”, diz a consultoria.
Primeiro, porque, em que pese a inevitável simplificação do debate econômico durante uma campanha eleitoral, o que tem sobrado desta na maior parte do tempo são soluções simplistas e em alguns casos irreais para os intrincados desafios econômicos a serem enfrentados pelo país. Segundo, porque, mesmo contando com a legitimidade proporcionada pela própria eleição, sem repartir poder, o presidente eleito terá grandes dificuldades em promover mudanças relevantes na gestão pública e aprovar reformas no Congresso. Terceiro porque, a despeito das condições favoráveis que tendem a cercar o início de novos governos, a escolha das prioridades e da estratégia de votação das reformas exigirá habilidade política que poucos políticos possuem.
Por fim, a MCM acredita que a própria melhora das condições financeiras no início de um governo “abençoado pelo benefício da dúvida” poderá enfraquecer o já incerto grau de convicção do novo presidente em relação a diversos temas controversos, que podem acabar sendo deixados de lado.
Em resumo, diz a MCM, a despeito da recente melhora do ambiente financeiro, o país segue distante do “cenário de retomada”. Portanto, para o médio prazo, o cenário principal é o cenário de estagnação, mesmo com a eventual vitória de Jair Messias Bolsonaro, conclui a consultoria.