O mercado começa a semana com as atenções voltadas para o cenário político- eleitoral e o segundo turno das eleições presidenciais, com pesquisa do Ibope prevista para sair já nesta segunda-feira à noite. O calendário econômico local destaca a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), que sai na terça-feira e deve, na avaliação do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depec), do Bradesco, registrar queda de 0,2% ante julho. Na quarta-feira, o Banco Central divulga o IBC-Br (prévia mensal do Produto Interno Bruto, o PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos pelo país e calculado pelo IBGE) relativo a agosto e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) apresenta o IGP-10 de outubro, índice que antecipa o IGP-M, utilizado para reajuste de tarifas públicas, de parte dos contratos de aluguel e seguros de saúde mais antigos.
Lá fora, segundo analistas de bancos e corretoras, o principal foco ainda recai sobre eventuais desdobramentos da guerra comercial entre EUA e China. Na agenda econômica, ganham relevo a ata do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed), banco central americano, no dia 17, quarta-feira, detalhando os motivos de elevação da taxa de juros na reunião de 26 de setembro – e também dados do PIB chinês relativos ao terceiro trimestre de 2018, que saem na quinta-feira.
Na última quinta-feira, o Índice Bovespa fechou aos 82.921 pontos (-0,91%), seguindo com alta de 4,51% no mês, 8,53% no ano e de 8,17% em 12 meses. Os estrangeiros trouxeram para a bolsa em outubro, até dia 9, R$ 2,419 bilhões, elevando o superávit de investimentos externos na Bovespa para R$ 2,419 bilhões.
Segundo turno: sem debates, expectativa com novas pesquisas e aumento da tensão
Na cena política, após o candidato Jair Bolsonaro (PSL) cancelar a participação nos debates na televisão por recomendação médica, a pauta do segundo turno da eleição presidencial concentra-se no horário eleitoral gratuito e na divulgação de novas pesquisas, começando com o Ibope. O instituto deve divulgar um primeiro levantamento na segunda-feira. Os candidatos, por sua vez, vão cumprir agendas em busca de apoios políticos e votos dos eleitores.
Como já era esperado, a polarização direita contra esquerda agravou a divisão no país, acirrando o clima de tensão e violência, com denúncias de agressões tendo grande visibilidade nas redes sociais. O sinal de alerta ficou claro com o assassinato de um mestre de capoeira em Salvador, Bahia, morto a facadas por um simpatizante de Bolsonaro. O candidato do PSL tem dado declarações criticando a violência, mas diz que não tem como controlar os simpatizantes e que ele próprio foi vítima, ao sobreviver a um atentato a faca em Juiz de Fora, Minas Gerais.
Horário eleitoral e redes sociais em clima quente
Atrás de Bolsonaro na pesquisa de intenção de voto do Datafolha, o candidato do PT, Fernando Haddad, usou o espaço na televisão para ligar os casos de violência ao adversário, que já foi ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para obter dois direitos de resposta. O candidato do PT, por sua vez, vem monitorando as fake news (notícias falsas), com diversas ações no TSE contra apoiadores de Bolsonaro.
O militar reformado mantém a estratégia de usar as redes sociais e a propaganda eleitoral para falar com seus eleitores e atacar o PT, relacionando Haddad e o partido adversário à crise na Venezuela e à condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção. Já o candidato do PT evita falar em Lula, parou as visitas ao ex-presidente e tirou a cor vermelha das propagandas. O partido retirou também vídeos em que dava apoio ao governo de Nicolás Maduro, da Venezuela.
Haddad recebe “apoio crítico do PDT” e aguarda FHC
Após receber o “apoio crítico” do PDT de Ciro Gomes, que viajou para a Europa e só volta no dia da votação, de centrais sindicais e de partidos de esquerda, Fernando Haddad deve continuar concentrando esforços na busca de outros apoiadores de centro – embora o cenário não seja muito positivo. Após fechar qualquer possibilidade de apoio a Bolsonaro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), por exemplo, não sinalizou de forma clara o voto no petista. Um grupo de advogados deve divulgar nesta segunda-feira um manifesto de apoio ao ex-prefeito de São Paulo.
Bolsonaro segue estratégia de evitar confronto direto
Apesar de mostrar que está bem de saúde após o atentado a faca no dia 6 de setembro, o candidato do PSL deve manter suspense sobre sua participação em debates nos próximo dias, tendendo a continuar evitando o confronto direto com o adversário. Com ampla vantagem nas pesquisas, Bolsonaro teria pouco a ganhar ao discutir com Haddad e poderia sofrer novos desgastes.
A futura composição de um eventual governo Bolsonaro e sua política econômica também estarão no foco das atenções. Já foram anunciados três nomes: do economista Paulo Guedes para o ministério que uniria Fazenda e Planejamento, do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) para a Casa Civil e do general Augusto Heleno para o Ministério da Defesa.
De olho na ata do Fomc, PIB chinês e inflação na zona do Euro
No decorrer da semana, segundo o Depec-Bradesco, o PIB da China, a produção industrial nos EUA e a inflação na zona do euro serão os principais destaques internacionais. “O PIB chinês do 3° trimestre deverá ser divulgado junto com os dados de produção industrial, investimentos em ativos fixos e vendas no varejo de setembro”, diz a equipe em relatório. Esses dados serão relevantes para mensurar a intensidade da desaceleração da economia chinesa hoje em curso e terá impacto direto nos países emergentes, grandes exportadores de matérias-primas para a China.
Já a produção industrial dos EUA referente a setembro, assim como os primeiros índices de gerentes de compras (PMI) de outubro, deverão corroborar a visão de que a economia americana segue aquecida e manter a preocupação com novas altas de juros os EUA, que levaram os mercados de renda variável a cair na semana passada. Por fim, avalia o banco, a inflação na área do euro “deverá continuar mostrando núcleos bem comportados, ainda que o índice cheio esteja se aproximando da meta”.
Guerra comercial e saúde fiscal dos EUA preocupam
O mercado externo deve continuar pesando no comportamento dos mercados brasileiros, em especial na bolsa. Na última quinta-feira, véspera de feriado religioso no Brasil, Dia de Nossa Senhora Aparecida, as bolsas nos EUA registraram nova queda significativa, com o Dow Jones afundando 1,95% no fim da tarde, e o S&P outros 1,36%. No mercado local, lembram analistas da corretora Spinelli, o principal índice caiu até que pouco, 0,91%, com o mercado já trabalhando com a hipótese de que o PT perde, mas ainda faltando colocar na conta que Bolsonaro (PSL) vai ganhar, e com o peso dos mercados externos. “Na verdade, o Brasil se fechou em ilha esses últimos dias e seguiu subindo ao arrepio do derretimento global”, afirma a equipe em relatório.
Na sexta-feira, porém, os mercados americanos se recuperaram, com o Índice Dow Jones subindo 1,15%, o S&P 500, 1,42% e o Nasdaq, 2,29%. Mesmo assim, o S&P 500, principal indicador do mercado acionário americano, caiu 5 pontos nas duas primeiras de outubro, um péssimo sinal para os analistas.
Há duas justificativas principais para essa mudança no humor externo, dizem os analistas da Spinelli. A primeira é a guerra comercial entre os EUA e a China, que se eternizou como “grande desculpa” para qualquer queda sem motivo aparente. O segundo, e mais pragmático, é que os juros nos EUA estão subindo. Na avaliação desses analistas, o senso comum e o discurso oficioso da diretoria do Fed indicam que o processo de normalização para cima das taxas de juros nos EUA é fruto da recuperação econômica e de uma inflação mais forte na maior economia do mundo. Logo, taxas mais elevadas seriam o receituário padrão para a situação. “Há muita razão nesse raciocínio, mas talvez haja algo mais sutil operando na elevação dos juros por lá, e que explica, também, a dinâmica belicosa entre Washington e Pequim”, diz relatório da Spinelli.
Otimismo e falta de objetividade na percepção de risco
A análise destaca ainda que uma questão esquecida e pouco explorada ultimamente é a saúde fiscal dos EUA, lembrando que com a chegada do presidente Donald Trump à Casa Branca, o otimismo tomou conta dos mercados, mas teria deixado sob o tapete considerações mais objetivas sobre a percepção de risco. “Desde que Trump entrou no Salão Oval, os déficits Primário e Comercial persistem, o endividamento dos EUA em proporção do PIB continua avançando e os principais ‘compradores’ de títulos públicos dos EUA (China e Japão) estão estacionados em suas posições desde 2013 pelo menos”, ressalta.
Pesquisa de serviços, IBC-Br e IGP-10
No Brasil, o volume de serviços retratado na Pesquisa Mensal de Serviços (PMS)do IBGE deverá registrar, na avaliação do Depec-Bradesco, queda de 0,2% ante julho, depois de um recuo de 2,2% na leitura anterior. Já o IBC-BR deverá apontar para estabilidade, desacelerando em relação aos dois meses anteriores.
Para os analistas do Banco Fator, a pesquisa mensal do setor de serviços de agosto trará contração de 1,6% no comparativo anual e de 1,4% na variação mensal. Já para o IBC-Br de agosto, a projeção prévia é de 0,9% na comparação anual e de 1,6% na comparação mensal. “Para o IGP-10, esperamos aceleração de 1,21% para 1,60% (variação mensal) e 10,89% em 12 meses”, dizem os analistas do banco.