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Artigo: o mercado de trabalho segura inflação nos EUA, mas até quando?

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Por André Sacconato

É quase uma unanimidade entre os especialistas que os Estados Unidos já recuperaram dos efeitos perversos da crise financeira de 2008. O país cresce a taxas sustentáveis e o desemprego já atinge mínimas históricas. Mas existe um grande “puzzle” nesse cenário: mesmo com todo o crescimento e os estímulos fiscais realizados pelo governo de Donald Trump, a inflação parece não responder a esse aumento da atividade e à queda vertiginosa na taxa de desemprego, dado que a taxa do CPI (Consumer Price Index, principal índice inflacionário dos EUA) se mantém estável entre 2% e 2,5% ao ano. Esse valor não foge muito da meta, o que faz o Federal Reserve (Fed, banco central americano) continuar conservador na subida dos juros, embora já tenha iniciado um processo de alta.

Este artigo aponta uma causa que vem segurando a inflação: o custo do trabalho, representado pelos ganhos mensais reais, não vem subindo na proporção da queda do desemprego. Em termos reais, o salário subiu apenas 10% entre 2006 e 2018, enquanto o desemprego caiu de 10% da população ativa para agora apenas 3,7%. O gráfico abaixo mostra esses movimentos:

Nesse gráfico é interessante notar que os ganhos reais dos trabalhadores têm dois aumentos significativos: um no início de 2008 e outro no final de 2014, e se mantém praticamente estável nos outros períodos. A primeira queda do desemprego parece ter sido completamente absorvida pelo excesso de oferta de trabalho gerado pela quebra das empresas pós-crise. A economia tinha capacidade excedente de mão de obra que aceitava voltar ao mercado de trabalho sem que houvesse um grande aumento de salários. Esse processo parece ter durado, pelo menos, até final de 2014, quando houve um aumento considerável do valor do trabalho.

O grande “puzzle” vem a partir de 2015, quando, mesmo com o desemprego caindo fortemente, o salário parece não ter subido tanto, registrando uma alta real de apenas 2,5%. Nesse ponto, as suspeitas recaem mais sobre o aspecto microeconômico do fenômeno. Dois suspeitos são o enfraquecimento do poder de barganha imediato dos trabalhadores (principalmente via,sindicatos mais fracos) e o aumento da concentração das empresas, principalmente no sistema financeiro.

O importante é notar que o mercado de trabalho já dá mostras de que não aguentará sem pressionar os preços por muito mais tempo. Além da suave tendência de alta já encontrada nos últimos dois anos, a proximidade do pleno emprego deve gerar escassez de mão de obra , e por maior que seja o poder de barganha das empresas, estas não terão como segurar a pressão dos salários.

Nesse sentido, foi importante a conquista da maioria democrata na Câmara, que pode impedir maiores estímulos fiscais do presidente americano, claramente inadequados nesse momento. A opinião pública americana já está amplamente desfavorável aos ajustes feitos pelo presidente Donald Trump, tanto da baixa de impostos para corporações como para pessoas mais ricas, como mostrou uma pesquisa da Pew Research Center de setembro (http://www.pewresearch.org/fact-tank/2017/09/27/more-americans-favor-raising-than-lowering-tax-rates-on-corporations-high-household-incomes/.).

Assim, novas investidas de Trump na direção de uma política fiscal mais frouxa devem ser prontamente rechaçadas pelo Congresso americano.

Como já disse em outras oportunidades, basta ao governo americano ver o que aconteceu no Brasil a partir, principalmente, de 2013, quando, apesar das mostras de saturação da economia, o governo “esticou a corda” com estímulos. Em um primeiro momento, parece que está tudo bem e a economia apresenta indicadores ótimos, mas o preço a se pagar no futuro é enorme.

Imagino que uma recessão, ainda que não saibamos o tamanho, já está contratada na análise dos dados americanos. A magnitude dependerá de quanto vai tardar o ajuste fiscal, que parece não vir. Nesse caso, uma recessão, aliada a um processo de “fly to quality” pode gerar novamente um cenário de recessão e juros baixos nos EUA, mas agora com uma política fiscal expansionista. Alguém já ouviu falar em estagflação?

André Luiz Sacconato, doutor em economia pelo IPE-USP, é socio da Integrare Brasil e professor de MBA nos cursos da FIA-USP. Foi coordenador de projetos e responsável por setor externo e fiscal na Tendências Consultoria, economista sênior na áreas de modelagem de mercados na LCA consultores e diretor de pesquisas da BRAiN- Brasil Investimentos e negócios. Contato: asacconato@integrarebrasil.com.br .

As informações e opiniões do artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor. O Portal Arena do Pavini não se responsabiliza por decisões de investimento tomadas com base nas informações. 

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