A corretora XP Investimentos divulgou relatório em que comenta o clima com relação ao Brasil entre investidores internacionais com quem manteve contato nos últimos dias.
Segundo a corretora, durante a última semana, seus representantes estiveram nos EUA encontrando investidores institucionais, como fundos de pensão e grandes gestores de recursos. O clima em geral é otimista em relação ao Brasil, mas o ceticismo em termos da execução das reformas para o país reequilibrar suas contas ainda é alto. O investidor estrangeiro, diz a XP, acompanha o país de perto, e até faz investimentos pontuais, mas somente deve vir para ficar quando a Reforma da Previdência for de fato aprovada.
A maioria acredita ser possível a aprovação da Reforma da Previdência até o terceiro trimestre, com um governo popular e um debate já maduro no Congresso, mas ressalta que já viu retórica semelhante não se materializar tanto no governo Temer quanto em outros eventos similares ao redor do mundo, e ainda não parecem dispostos a tomar o risco.
Além disso, após a alta recente, a bolsa não parece tão atraente no Brasil olhando no curto prazo. Entretanto, os investidores internacionais ressaltaram que o Brasil é um dos poucos países emergentes com aceleração do PIB em 2019 (um dos poucos no mundo, na verdade), o que ajuda a dar sustentação à bolsa e, ao discutir cenários de médio-longo prazo, assumindo a aprovação da Reforma da Previdência, o otimismo ganha força, avalia a XP. A maioria concorda que o evento seria transformacional para o país.
Os principais destaques dessas transformações seriam:
(1) A narrativa de crescimento do PIB acelerando/acima da normal poderia ser um processo que se estenderia por vários anos após a Reforma da Previdência;
(2) Agendas subsequentes de produtividade, como a Reforma Tributária, poderiam trazer impulso adicional (embora poucos detalhes tenham sido dados até o momento);
(3) Uma reprecificação estrutural do Brasil é possível, com os múltiplos primeiro negociando a prêmio por conta da expectativa de maior crescimento de lucros, e subsequentemente sustentados por taxas de desconto estruturalmente mais baixas.
Cautela no curto prazo e Ibovespa estacionado por 2 meses
No final de janeiro, a XP sugeriu cautela tática para o curto prazo, antecipando volatilidade tanto no cenário doméstico quanto no externo e ainda mantém essa visão. Naquele momento, as ações de empresas voltadas para o mercado doméstico negociavam a 22% de prêmio em relação à normal. Hoje ainda negociam a 17% de prêmio.
Além disso, apesar das mensagens positivas do governo em relação à Previdência, o dia a dia da política poderia trazer um pouco de ruído e, portanto, volatilidade para a bolsa, o que ainda se aplica. “Nesse contexto, vemos o Ibovespa se mantendo próximo ao nível atual pelos próximos um ou dois meses, precisando de maior visibilidade em relação à aprovação da Reforma da Previdência para ganhar sustentação”, avalia a XP.
A hora é de ações e índice pode bater 135 mil pontos
No entanto, com uma visão de médio-longo prazo, a XP reitera a convicção de que a bolsa é a melhor classe de ativos no Brasil, com um risco-retorno muito atraente. Em um cenário pessimista, com a Reforma da Previdência diluída ou atrasada, o Ibovespa poderia finalizar 2019 em 87.500 pontos (10% de queda), o que se compara aos 125.000 pontos em um cenário base, com a aprovação da Reforma da Previdência no terceiro trimestre (28% de alta) e aos 135.000 pontos no cenário otimista, com aprovação no meio do ano e pouca ou nenhuma diluição da proposta inicial (38% de alta).
Além disso, segundo a corretora, a visibilidade em relação à reforma continua melhorando no Brasil, o que aumenta as chances do cenário base ou otimista se materializar. As notícias recentes sugerem que a proposta da Reforma da Previdência defendida pelo governo poderia levar a economia de R$ 1,1 trilhão em 10 anos, acima da proposta inicial de R$ 800 bilhões de Michel Temer.
Esta semana, diz a corretora, será crucial, com a apresentação ao Congresso da proposta oficial da reforma, que deve acontecer até o dia 20 de fevereiro (quarta-feira). Nos próximos meses, incertezas pontuais relacionadas à política podem continuar trazendo volatilidade, mas o Brasil continua apontando para a direção correta, “e nós gostamos disso”, conclui o relatório, assinado pela equipe liderada por Karel Luketic.