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De quase estável a recessão de mais de 6% em 2020: por que os cenários para o PIB do Brasil variam tanto?

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SÃO PAULO – “Qualquer estimativa de percentual do PIB (Produto Interno Bruto) de 2020 é ‘mero chute’”. Com essas palavras, Mansueto Almeida, secretário do Tesouro Nacional, trouxe à luz a difícil tarefa que está sendo para os economistas fazer previsões em meio a um momento tão difícil como o registrado atualmente em meio à crise com o coronavírus.

Conforme destacou o secretário em live realizada durante a semana, ninguém realmente sabe qual será a duração da crise de covid-19, apontando que o país pode ter crescimento, retração ou estabilidade na atividade econômica.

Durante a semana, os bancos Itaú Unibanco e o Santander divulgaram suas projeções para a economia e traçando diversos cenários.

O Itaú destacou que a recessão no Brasil poderá ir de 0,5% até 6,4%, tendo como cenário-base uma queda de 2,5% da atividade econômica em 2020. Já o Santander, que tem um cenário-base de contração de 2,2% do PIB, informou que a previsão mais mais otimista é de uma recessão de 0,4% e a mais pessimista, de uma queda de 6% do PIB.

Tamanhas diferenças ocorrem principalmente pelas incertezas com relação ao comportamento da curva de contágio, além dos diferentes cenários para expectativa de retorno das atividades em meio às medidas de distanciamento social, necessárias para que os sistemas de saúde do país possam se preparar para atender os doentes.

Para Candido Bracher, presidente do Itaú, o intervalo esperado para as projeções do PIB brasileiro neste ano mostra o quão intensa a crise será. “Nunca tivemos um grau de incerteza como o atual estando em abril”, ressaltou em teleconferência realizada pelo banco na última segunda-feira (6).

Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú, e sua equipe destacam que também há incerteza com relação à velocidade de recuperação no segundo semestre do ano.

“É razoável acreditar que, quanto maior for a duração das medidas de isolamento, mais lenta será a recuperação no segundo semestre deste ano, uma vez que as consequências sobre a situação financeira de empresas e famílias tendem a ser mais intensas, atrasando a normalização”, avalia o Itaú.

No cenário base, o PIB encolherá 2,1% no primeiro trimestre e 6,5% no segundo, com a atividade sendo normalizada após o choque negativo causado pela pandemia no primeiro semestre, supondo que as medidas de isolamento se estendam por aproximadamente cinco a seis semanas.

Mesmo assim, o choque pode afetar a situação financeira de empresas (que ficam mais alavancadas devido à perda de receitas e à depreciação cambial) e famílias (via aumento do desemprego), limitando o ritmo de normalização.

“Presumindo que a resposta das autoridades conseguirá atenuar parcialmente o choque — ou seja, que ele será, em grande parte, temporário —, é de se esperar que a economia cresça mais rapidamente em 2021, beneficiada por taxas de juros ainda menores. No entanto, o crescimento substancial do PIB previsto para 2021 deve resultar principalmente do carrego estatístico favorável, após a contração econômica no primeiro semestre de 2020. Agora estimamos a taxa de desemprego com ajuste sazonal em 12,6% no final de 2020 e em 12,0% no final de 2021”, avalia a equipe econômica do banco.

Em um quadro, o banco destaca os cenários para o PIB deste ano tendo como base as diferentes hipóteses de isolamento e de ritmo de recuperação. O cenário mais pessimista da instituição é de  isolamento até 27 de maio, o que levaria a uma queda de 13,5% no PIB do primeiro semestre, e 25% de recuperação no terceiro trimestre. Com isso, o PIB fechado de 2020 seria de uma queda de 6,4%.

Confira no quadro abaixo:


Projeções PIB do Itaú (Fonte: Itaú)

Já para o Santander, o cenário base – de queda de 2,2% do PIB – presume que o isolamento social dure até o fim de abril e a retomada total das atividades aconteça em julho. Neste caso, a atividade do primeiro semestre seria bastante prejudicada enquanto que, no segundo semestre, haveria uma retomada gradual.

Enquanto isso, o cenário mais otimista, que projeta isolamento até o fim do mês de abril e a retomada das atividades econômicas no fim de maio, prevê uma queda de 0,40% do PIB. Já um cenário intermediário (ainda que com viés otimista), prevê uma queda de 1,5% do PIB, com o encerramento das medidas de isolamento social no fim de abril e retorno das atividades em meados de junho.

Contudo, a probabilidade de que o comportamento da economia siga o cenário base ao mais pessimista traçado é de 55%, uma vez que “tempestades” que possam afetar a economia em tempos de crise tendem a ser negativas.

No cenário pessimista moderado, com baixa do PIB em 3,6%, o fim do distanciamento ocorreria em meados de maio e a volta da atividade em setembro. O cenário mais negativo, por sua vez, prevê o fim do distanciamento social em junho e a volta das atividades apenas no início de 2021, levando a uma queda do PIB de 6%.

Na mesma linha, a 4E Consultoria prevê queda de 2,3% no cenário-base, com duração do confinamento até o fim de maio. Contudo, se as medidas de distanciamento social ficarem em vigor até meados de agosto, a economia pode cair 5,7% em 2020.

Experiências em outros países

Assim, será necessário observar de forma bastante minuciosa qual é o ritmo de infecções pelo coronavírus e, desta forma, estabelecer um plano também para a retomada das atividades (e como elas se darão).

Na China, foi encerrada na quarta-feira o confinamento de Wuhan, cidade que acabou se tornando um símbolo da pandemia. Contudo, a vida ainda não voltou ao normal após 11 semanas de confinamento: autoridades seguem regulando as atividades da população. Já os transportes públicos voltaram a funcionar, mas escolas continuarão fechadas, assim como bares, restaurantes, salas de jogos, entre outros.

Enquanto isso, países como a Áustria e a Dinamarca se tornaram os primeiros europeus a anunciarem planos para aliviar o confinamento, ao avaliarem que já passaram pelo pior na primeira onda da pandemia. Bélgica, França e Espanha também estudam afrouxar algumas restrições – mas há muita cautela.

A Áustria e a Dinamarca pretendem suspender as restrições em etapas. No caso austríaco, pequenas lojas estão programadas para reabrir no dia 13 – as maiores só vão funcionar a partir de 1 de maio.

Já restaurantes, hotéis e escolas reabrirão em meados do mês que vem, mas essa decisão ainda depende de uma avaliação no final de abril. Regras rígidas sobre máscaras, distanciamento social e número de pessoas autorizadas a entrar em lojas a qualquer momento seguirão em vigor. Já os eventos públicos poderão ser retomados só em julho.

“No entanto, dada a experiência do Leste Asiático, permanece incerto se a Áustria será capaz de cumprir esse cronograma”, avalia o Morgan Stanley em relatório.

Os analistas do banco ressaltam que os países que haviam diminuído as restrições após a contenção bem-sucedida do surto inicial tiveram que reimpor alguns novamente, após a aceleração dos casos. Enquanto isso, outros países europeus continuaram a estender o bloqueio.

Eles ainda reforçam: “o impacto econômico do Covid-19 depende da duração e intensidade do surto e das restrições impostas para contê-lo. A nossa previsão é de uma forte contração de 14% da economia da zona do euro no primeiro trimestre, baseada em um bloqueio que dura até maio. Depois disso, assumimos que as restrições serão significativamente reduzidas, abrindo caminho para uma forte recuperação do PIB aos níveis anteriores ao Covid-19 até o terceiro trimestre de 2021”.

Voltando ao Brasil, o Ministério da Saúde tem sinalizado que locais onde o número de casos confirmados de coronavírus não tenha impactado mais da metade da capacidade de atendimento poderão fazer transição para um modelo de isolamento que inclui apenas pessoas do grupo de risco. Contudo, ressaltou que uma eventual transição direta seria temerária.

De qualquer forma, vale ressaltar que muitos dos locais mais acometidos pelo coronavírus no país são também os que correspondem à maior participação do PIB, com destaque para São Paulo, estado com maior número de casos absolutos e que teve a quarentena prorrogada até o dia 22 de abril.

Assim, em meio às revisões para baixo da economia nacional com o coronavírus, os economistas vêm destacando que as incertezas são um elemento importante – o que pode levar a mudanças constantes nas expectativas para a atividade nacional. Porém, o que se aponta, segundo a maior parte dos economistas, é de que o ano será de uma recessão bastante expressiva para não só no Brasil, como no mundo. A magnitude dela é a grande incógnita do mercado.

Por Lara Rizério

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