Ant Group, empresa-mãe da AliPay, maior empresa de pagamentos digitais da China, anunciou seus planos de listar suas participações públicas este ano, tanto na Bolsa de Valores de Hong Kong (HKEX) como no novo mercado STAR da Bolsa de Valores de Shanghai (SSE).
Porém, embora a abrangência tenha focado na decisão da afiliada da Alibaba em não ser listada na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), o desenvolvimento também terá consequências para o futuro da tecnologia de criptoativos e de blockchain.
Anteriormente chamado de Ant Financial, Ant Group busca por uma avaliação de US$ 200 bilhões, segundo a Bloomberg. A dupla oferta pública ajudará o Ant Group a “acelerar seu objetivo em digitalizar a indústria de serviços na China”, declarou a empresa.
A decisão de listar no mercado STAR, que tem sido considerada a versão chinesa da Nasdaq, vem em meio à crescente tensão geopolítica entre os EUA e a China.
Recentemente, o Senado americano aprovou uma lei, por exemplo, que removeria empresas chinesas das bolsas de valores americanas a menos que permitam que reguladores acessem seus registros de auditoria.
Em 2014, Alibaba, que possui 33% das participações do Ant Group, arrecadou US$ 25 bilhões após listar suas ações na NYSE.
A iniciativa também vem em meio à nova e controversa lei de valores mobiliários de Hong Kong, aprovada pela China no mês passado.
Críticos afirmaram que a lei irá prejudicar a autonomia de Hong Kong, mas a listagem planejada do Ant sugere que empresas ainda verão Hong Kong como um mercado atrativo.
Exceto pela geopolítica, a oferta pública inicial (IPO) do Ant Group também é relevante para o desenvolvimento de criptoativos e de blockchain.
Alipay já é uma plataforma universal de pagamentos digitais na China, onde o uso do dinheiro em espécie diminuiu drasticamente nos últimos anos.
Porém, a plataforma e sua principal competidora na China, WeChat Pay da Tencent, também terão um papel importante na distribuição da futura moeda digital emitida por banco central (CBDC) da China.
Tencent e Alipay estão trabalhando em projetos relacionados à moeda digital, chamada DCEP (moeda digital/pagamento eletrônico). Segundo o site oficial de patentes da China, Alipay enviou pelo menos quatro pedidos de patentes relacionados à DCEP.
Ant Group também tem sido um grande investidor na tecnologia blockchain, pois dizem que pode ajudar a criar o alicerce de uma “internet industrial” na China.
A empresa desenvolveu uma plataforma própria de blockchain e, desde o ano passado, já a estava usando para rastrear doações, monitorar cadeias de suprimento e facilitar pagamentos internacionais na Ásia.
A dedicação do Ant ao blockchain se alinha à do governo chinês. Em outubro, o presidente chinês Xi Jinping falou que o país deve “tomar a liderança” no desenvolvimento da tecnologia blockchain. E isso não surgiu do nada: o banco central do país está estudando a tecnologia desde 2014.
Mais de 70 empresas chinesas de serviços financeiros, incluindo cada banco estatal, já estão usando aplicações baseadas em blockchain. Na semana passada, o governo municipal de Pequim lançou um plano de 145 páginas destacando como planeja se tornar em um principal “núcleo de blockchain”.
Blockchains que tanto o Ant Group e os líderes chineses têm em mente são da variedade permissionada, e não redes públicas.
Em janeiro, a Administração Ciberespacial da China impôs novas regras para plataformas blockchain: usuários terão de se registrar usando suas identidades verdadeiras e as empresas que operam as plataformas precisarão armazenar dados de usuários e censurar conteúdos ilegais.
Recapitulando: a maior fornecedora de pagamentos digitais da China — que espera-se que seja uma distribuidora de sua nova criptomoeda e já investiu amplamente na tecnologia blockchain — está planejando realizar uma das maiores ofertas públicas da História.
No mínimo, parece um indicador positivo para o futuro dos blockchains e criptoativos — ou, pelo menos, a versão chinesa dessas tecnologias.
Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento