Numa apresentação sobre o racional da combinação de negócio com a Tecnisa (BOV:TCSA3), a Gafisa (BOV:GFSA3) apontou que o caixa combinado seria de R$ 1 bilhão e haveria sinergias em áreas como gestão e processos, sistemas e infraestrutura, e área administrativa, além de melhor acesso ao mercado de capitais.
O mercado reagiu com ceticismo à proposta de fusão entre Gafisa e Tecnisa. Segundo analistas do setor, combinações de negócios entre incorporadoras não têm histórico muito favorável e as sinergias não estão muito claras.
Ontem, a Tecnisa divulgou ter recebido proposta não solicitada da Gafisa para união das duas incorporadoras. A oferta foi feita por meio do fundo Bergamo, do qual a Gafisa tem a totalidade das cotas. O fundo possui, ainda, 3,1% do capital da Tecnisa.
Segundo a Gafisa, a empresa combinada teria capacidade para lançar empreendimentos com Valor Geral de Vendas (VGV) anual de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões. Para efeito de comparação, em 2019 os lançamentos das líderes MRV e Cyrela foram, respectivamente, de R$ 6,9 bilhões e R$ 5,1 bilhões. Em seguida vieram Tenda, com R$ 2,6 bilhões e Even, com R$ 2 bilhões.
As ações da Gafisa encerraram o dia em baixa de 6,52% e as da Tecnisa recuaram 5,55%. O Ibovespa caiu 1,19%.
Um gestor de fundos imobiliários afirma, reservadamente, que não vê muito espaço para sinergias em custos fixos – uma das vantagens da operação alegadas pela Gafisa. Na visão dessa fonte, não é tão simples capturar ganhos no processo porque cada empreendimento tem peculiaridades de local, projeto e público-alvo.
Onde há algum espaço para economia, de acordo com essa fonte, é no segmento de baixa renda – em que a Tecnisa atua, mas a Gafisa, não. “Incorporação é um negócio que tem deseconomia de escala”, afirma.
Outro ponto que desperta dúvidas é como ficaria a gestão da empresa combinada. Incorporação costuma ser uma atividade em que o “olho do dono” é importante, diz um gestor.
Um aprendizado da última crise do setor, na visão de fonte ligada a um banco, é que a concentração geográfica costuma ser positiva nesse mercado. No boom imobiliário do início da década, algumas incorporadoras expandiram suas operações Brasil afora, mas não conseguiram rentabilizar esses negócios porque o mercado imobiliário tem nuances regionais e poucas sinergias. Nesse aspecto, Gafisa e Tecnisa têm atuação principalmente em São Paulo e no Rio.
Apesar disso, não há preocupações com a operação do ponto de vista financeiro. Outro executivo de banco lembra que as empresas são pequenas e a exposição a elas é baixa. Um gestor também diz que ambas se capitalizaram e reduziram muito a alavancagem.
Prejuízos no 2T20
O prejuízo líquido da Gafisa cresceu 85%, no segundo trimestre, na comparação anual, para R$ 23,5 milhões. No trimestre, foram entregues quatro empreendimentos, com valor geral de venda (VGV) de R$ 543 milhões.
O prejuízo líquido da Tecnisa foi reduzido em 72%, no segundo trimestre, na comparação anual, para R$ 40,3 milhões. A receita líquida caiu de 28,5%, para R$ 33,8 milhões.
Fonte Valor