A estatal mineira Cemig (BOV:CMIG3) (BOV:CMIG4) pretende investir na construção de usinas próprias de geração renovável, após ter feito nos últimos anos alguns leilões para comprar a produção futura de parques eólicos e solares de terceiros.
Um primeiro passo nessa direção deve ser dado em até 10 dias, com a realização pela empresa de uma chamada pública com o objetivo de avaliar projetos de energia eólica para possível aquisição, disseram executivos durante reunião online com acionistas nesta terça-feira.
“Nos próximos 10 dias vamos publicar uma chamada pública no sentido de estar buscando adquirir bons projetos eólicos”, disse o diretor da Cemig Geração e Transmissão, Paulo Mota.
Ele acrescentou que a Cemig também tem uma carteira de projetos de geração solar centralizada em desenvolvimento com 1,4 gigawatt em capacidade, além de 350 megawatts em projetos de usinas solares flutuantes que poderiam ser instaladas no lago de hidrelétricas da empresa, como Três Marias.
A Cemig pretende viabilizar os investimentos para erguer as usinas por meio da negociação da produção futura dos projetos no mercado livre de energia, a ser realizada com apoio de sua unidade de comercialização.
O movimento representa guinada frente a uma estratégia anterior de comprar a energia de usinas construídas por terceiros ao invés de aplicar recursos diretamente nos ativos de geração, adotada quando a empresa lidava com um endividamento maior.
“Foi uma estratégia acertada, vimos que tivemos muitas empresas seguindo, como Copel, Engie… mas agora estamos invertendo, estamos mudando temporariamente nossa estratégia novamente”, afirmou Mota.
Em paralelo, a Cemig pretende ampliar em 50 megawatts a capacidade de seu parque de pequenas hidrelétricas, enquanto desenvolve também um projeto termelétrico a gás com 500 megawatts.
Outra prioridade da companhia em geração será assegurar a renovação dos contratos para exploração de três de suas hidrelétricas cujas concessões vencem até 2025 e que representam cerca de 53% da oferta de energia da Cemig GT.
A companhia já manifestou ao Ministério de Minas e Energia a intenção de ficar com os ativos, o que pela legislação atual exige a privatização das usinas, com venda de ao menos 51% para um parceiro privado.
Na área de transmissão, a Cemig deve focar na realização de investimentos em reforços e melhorias em suas redes, que demandarão 1,2 bilhão de reais até 2024 e deverão gerar aumento de receita anual de entre 120 milhões e 150 milhões de reais.
Mas a companhia também estará aberta à eventual participação em leilões do governo para novos projetos de linhas de transmissão, desde que os empreendimentos ofertados tenham sinergias com as instalações da empresa, segundo Mota.
PLANO DE DESINVESTIMENTOS
A Cemig também segue com seu plano de desinvestimentos, que poderá incluir até a venda de ativos não listados antes entre os preferenciais para negociação.
A empresa acrescentou às participações que podem ser eventualmente vendidas suas ações na transmissora de energia Taesa e na Aliança, uma joint venture de geração de energia com a Vale, assim como fatias minoritárias em geração, que poderiam ser alvo de transações de forma “oportunista”.
“Não dá para deixar de comentar possíveis desinvestimentos que a gente chamou de oportunistas. São ativos considerados muitas vezes ‘joia da coroa’, que não buscamos ativamente desinvestir, mas recebemos eventuais ofertas”, disse o chefe da área de participações da Cemig, Rafael Noda.
“Dentro da estratégia de maximizar valor, a gente não vai rasgar dinheiro, então, se recebermos propostas irrecusáveis por esses ativos, não recusaremos”, acrescentou ele.
Enquanto isso, a empresa segue focando a venda de suas participações na elétrica Light e nas hidrelétricas de Santo Antônio e Belo Monte, consideradas não estratégicas e de poucas sinergia.
Na unidade de distribuição de gás Gasmig, a estratégia de desinvestimento envolverá a listagem da empresa em bolsa, segundo Noda, mas a forma de estruturação dessa operação ainda está sendo avaliada.
No caso da Light, a Cemig segue com intenção de vender as ações que ainda possui na empresa, mas uma decisão depende também de avaliações sobre o valor a ser obtido com o negócio.
“A estratégia é desinvestir, mas não queremos desinvestir a qualquer preço. O preço atual não é o que a gente entende atrativo para desinvestir”, disse um executivo da empresa, após pergunta de um analista.
A Cemig era controladora da Light, mas reduziu a fatia na empresa a 22,6% em meio a uma oferta primária e secundária de papéis da elétrica em meados de 2019.
Naquela ocasião, a Cemig vendeu suas ações na Light por 18,75 reais por papel, contra cerca de 14,73 reais na cotação atual, mesmo após os papéis da Light terem subido mais de 100% desde mínimas tocadas durante o início da pandemia de coronavírus em março.